WRC | No próximo Rali de Monte Carlo, em janeiro, a Volkwagen já não vai estar presente. Poucas horas depois do pódio no Rali de Gales, a direção da marca alemã informou os 200 funcionários da equipa que ia desmantelar a equipa oficial.
“Levarei algum tempo a pensar sobre o meu futuro. Aqui eu tenho um contrato permanente, mas o que quero mesmo é continuar a fazer o Campeonato do Mundo”, confessa um dos 200 empregados da Volkswagen, ainda com o calafrio repentino do adeus da marca alemã ao Mundial de Ralis… que dominou nos últimos 4 anos.
O que estava previsto é que a marca alemã iria continuar no Mundial, pelo menos, até 2019, potenciando a sua imagem internacional. Este era o plano partilhado com o diretor da equipa, Jost Capito, antes deste se mudar para a equipa de F1 McLaren.
O também engenheiro alemão Willy Rampf (ex-diretor técnico da Sauber), um dos criadores do glorioso Polo R WRC, também deixou esta estrutura no verão, quando ele estava quase completo o desenvolvimento do novo carro para a próxima época: um mais poderoso e sofisticado Polo, adaptado às novas regras, com o qual a equipe queria manter, a partir do próximo ano, o seu domínio no campeonato do mundo.
E ainda na última segunda-feira, no regresso do Rally de Gales (Grã-Bretanha), onde a VW conquistara a sua quarta coroa mundial nos construtores, o diretor técnico, Francois Xavier-Demaison, continuou a trabalhar normalmente na homologação do carro 2017. Estava tudo pensado, programado, e num prazo de dois meses iriam chegar todas as peças de reposição para a próxima temporada. Inclusive, na placa da oficina estava apontado para a próxima semana um teste em Espanha. Toda a equipa de engenheiros estava fascinada com a sua mais recente criação, descontando os dias que faltavam para finalizar o novo Polo WRC que ia enfrentar pela primeira vez a competição nas estradas de Monte Carlo, em janeiro.
Os empregados do marketing na empresa-mãe estavam igualmente animados com o projeto, que previa um carro de aspeto ainda mais musculado. E de facto, há vários dias que estava a aplicar vinil na secção do túnel de vento, para ter tudo a postos no dia 7 de desembro. Essa, a data escolhida para a estreia da segunda geração do Polo WRC, um novo carro que foi alvo de dois anos de investimento e que, afinal, não vai ver a luz do dia.
O FIM DO SONHO
Mas na última terça-feira todos ficaram a saber que a sua vida ia mudar, quando a cúpula da VW decidiu, em consenso, desmantelar toda a equipa no final desta temporada, pondo fim a um projeto abençoado por numerosas vitórias no Campeonato do Mundo de Ralis. Ninguém fazia a mínima ideia desta decisão. Horas depois de fotografado no pódio do País de Gales com o seu grande campeão, Sébastien Ogier, Frank Welsch, um dos membros executivos da equipa, viajou a correr para Hannover para dar pessoalmente a notícia aos funcionários da equipa.
Apesar de ter já aprovado o orçamento para o próximo campeonato, a empresa alemã decidiu, um ano após o escândalo do dieselgate, por o seu foco no mercado de carros elétricos, transformar a sua imagem pública – fala-se nos bastidores de um patrocínio para o futebol – e mudar drasticamente a essência da sua área desportiva. Resta saber como vão reagir os verdadeiros fãs dos ralis e da competição automóvel a tudo isto.
A estrutura oficial acaba, mas a fábrica da equipa não será desmantelada, continuará a produzir carros de competição - mas sem o emblema oficial – que depois serão vendidos a equipas privadas e particulares, financiando uma estrutura que nos últimos anos tinha as mãos cheias de trabalho.
O trabalho continuará a ser assegurado pelos 200 funcionários que integraram até agora equipa de ralis da VW, a todos eles foi assegurada a continuidade dos seus contratos de trabalho. Os pilotos vão tratar da sua vida, mas certamente não vão tardar a disparar em direção a outras formações no campeonato do mundo. Ogier,
Mikkelsen e Latvala são, neste momento, ‘desempregados’ e o sonho que redespertava todas as manhãs na fábrica… terminou.
UM CAMPEÃO SEM VOLANTE
No início de outubro, quando Thierry Neuville recusou a oferta da Citroen e renovou com a Hyundai, o mercado de pilotos estava praticamente fechado. Estava apenas por completar as formações da Toyota e da M-Sport (equipa-satélite da Ford). Mas agora que a Volkswagen decidiu desativar a sua equipa, deixando Sebastien Ogier ( campeão de 2016) sem volante (tal como os seus pares, Latvala e Mikkelsen), tudo é possível. Ogier poderia seguir ligado à Volkswagen e estrear-se numa disciplina que para ele não desconhecida como o rallycross, reencontrando o seu antigo rival Sebastien Loeb, ou tentar a sua sorte em circuitos, uma das disciplinas que o atrai.
Embora seja muito difícil vir a ter uma carreira tão longa como a do outro ‘Seb’, a verdade é que o piloto de Gap, aos 32 anos de idade ainda tem uma margem de progressão longa para aplicar ainda mais a sua fama ao volante de um "World Rally Car '. E, nesse sentido, convites não lhe devem ir faltar. Tommi Makkinen, o ‘guia’ da Toyota no seu regresso ao campeonato do mundo, certamente ia efregar as mãos de contentamento por assinar com o piloto francês, e o responsável da M-Sport, o britânico Malcolm Wilson, ainda mais.