Boticas e Vila Pouca de Aguiar no primeiro dia do 3.º Portugal de Lés-a-Lés Off-Road, dedicado às verificações técnicas. Covilhã e Belmonte no dia em que se cumpriram os primeiros quilómetros a sério do evento que liga Trás-os-Montes ao Algarve pelos mais reconditos caminhos.
Apoiar a reflorestação das zonas mais flageladas pelos incêndios ao longo dos últimos anos, explicando às populações as inegáveis vantagens das árvores autóctones é tarefa dos responsáveis federativos como dos mais de 250 motociclistas que participam no passeio entre Boticas e Lagoa, com paragem em Belmonte e Arraiolos.
Começa a grande aventura
A Campanha Reflorestar Portugal de Lés-a-Lés que muito entusiasmou o presidente da Câmara Municipal da Covilhã, Vítor Pereira durante a plantação das duas primeiras árvores de espécies da região, carvalho-negral e azinheira, no Jardim das Artes. Momento de forte simbolismo, antecedendo a entrega à população serrana de várias centenas de árvores, para plantação em novembro. Para o autarca covilhanense, “reflorestar é preciso, obrigatório mesmo, sobretudo com as árvores mais adequadas a cada região, aquelas que melhor se adaptam às características dos solos e que mais benefícios aportam às terras e aos cidadãos”.
Benesses sentidas bem de perto durante a primeira etapa do original passeio mototurístico, deixando de parte as estradas asfaltadas em prol dos mais recônditos caminhos de terra batida, com predomínio dos tons verdes, aqui e ali pintalgados de negro e matizes acastanhadas, de áreas que, aos poucos, vão recuperando a vida roubada pelas chamas.
Com particular cuidado na escolha do percurso, a Comissão de Mototurismo da FMP brindou a caravana com passagem por vários carvalhais, soutos e uns quantos pinhais durante o primeiro terço do percurso, em terras transmontanas, onde só o pó, resultado de um verão escaldante e da seca que assola boa parte do País, roubava algum brilho à paisagem. Foi assim em Terras de Barroso, com os rápidos estradões sobranceiros ao fértil Vale de Aguiar a entremearem grande prazer de condução com as comparações cromáticas entre tons de verde e castanho.
Pelos caminhos... de Portugal
E com algumas passagens pela mítica EN2, a ‘estrada património’ que levaria motos e motociclistas até Vila Real, com ‘direito’ a passagem pelas ruas que acolhem o tradicional circuito de velocidade. Em seguida, tempo para mudança de paisagem, com os vinhedos durienses a despontarem à saída de Vila Real, com espetaculares vistas e mais castanheiros e carvalhos na travessia da antiga Linha do Corgo, ligação ferroviária entre Chaves e a Régua, desativada em 2010.
Afinal, mudam-se os tempos…mudam-se as formas de transporte, com o altivo viaduto da A4 que liga as duas escarpadas margens do rio Corgo sobranceiro ao traçado da antiga linha de comboio. Vinhas e mais vinhas que se prolongaram até às margens do Douro, com paragem na Régua para reforço alimentar que antecipava gasto de energias que aí vinha.
É que, se até aí foi o pó o maior obstáculo dos mototuristas, as verdadeiras exigências, momentos de pôr à prova a destreza de condução, surgiam a seguir, com as íngremes subidas em pedra a obrigarem muitos participantes a paragens forçadas. Valeu a belíssima paisagem que sempre ajudava… a descomprimir e recuperar o fôlego para mais uns quantos quilómetros!
Com a temperatura a subir, a chegada ao centro do País começou a mostrar outra realidade florestal, em mudança de cenário que tinha como principal constante a pedra, com pisos entre o granítico e o xistoso a obrigarem a cautelas redobradas.
Mas, nada de transcendente rumo ao imponente Castelo de Belmonte onde teve lugar animado jantar e de onde partem os aventureiros para a ligação até Arraiolos, ao longo de mais três centenas de quilómetros por alguns dos mais bonitos e desconhecidos locais de Portugal.
Mototurismo e ambiente em binómio perfeito
A plantação de um carvalho-negral e uma cerejeira-brava, na Praça João Paulo II, em Vila Pouca de Aguiar marcou, de forma simbólica, o início da 3.ª edição do Portugal de Lés-a-Lés Off Road.
Ato acompanhado de perto pelo presidente da Federação de Motociclismo de Portugal, Manuel Marinheiro, que, depois de meter as mãos à terra, recordou o compromisso assumido de “ajudar na recuperação das florestas portuguesas, algo que só será possível com o envolvimento de todos”.
Ideia reforçada com a noção de que “é preciso que todos pensem na floresta, na preservação da paisagem e do meio ambiente, preocupação que os motociclistas, de forma geral, revelam ao longo de todo o ano, quer nos eventos mototurísticos, como o Portugal de Lés-a-Lés, quer nas provas de enduro e todo-o-terreno”.
Cumprimento de “importante papel social” que o responsável da FMP espera “vir a ganhar âmbito mais alargado através da cooperação com as autarquias e bombeiros, aproveitando as centenas de amantes do todo-o-terreno que, praticamente durante todos os dias da semana, andam pelos montes, sendo fundamentais no alerta em início de incêndios como na ajuda de mobilidade aos locais de mais difícil acesso”.