top of page
REDAÇÃO

ENTREVISTA | Bravos lusos na África ECO Race


Rui Oliveira e Luis Oliveira aceitaram o desafio africano da África Eco Race. Valeu-lhes a persistência, a determinação e a vontade de vencer para conseguirem um pódio bem português. Aqui fica a entrevista possível com um destes dois bravos da CRN Competition.


A edição de 2018 do África ECO Race foi um grande marco para a CRN Competition. Na sua primeira participação na prova, a equipa Portuguesa conseguiu uma grande performance competitiva, com os seus dois pilotos a chegar a Dakar nos lugares do pódio. A prova teve como vencedor da categoria de motos o italiano Paolo Ceci (KTM), mas nos degraus mais abaixo do pódio falou-se Português: Luis Oliveira (Proto) foi segundo e Rui Oliveira (Yamaha) alcançou a terceira posição – ambos com motos assistidas pela CRN Competition.

Uma curiosidade… Franco Picco, um dos heróis lendários do rali Dakar, participou e neste regresso a África concluiu a prova no 10º lugar, a 37 minutos exatos do vencedor.

Mas, nada melhor que o testemunho na primeira pessoa de quem viveu todas as emoções, de uma das provas mais importantes do Todo Terreno. Estivemos à conversa com Rui Oliveira, 3º classificado da geral, vencedor da classe...

Que balanço fazes da prova, esperavas este resultado?

"Quando estou à partida de uma prova com este nível de dificuldade, a minha principal ambição é terminar e acrescentar mais um resultado ao meu palmarés. É uma prova muito difícil, onde a probabilidade de desistir é muito grande e só o facto de chegar ao pódio final após mais de 6000 kms por si só já é uma vitória!


Face aos nomes presentes, parti com a ambição de rodar no top 10 da prova e num pódio da minha categoria, mas o rali acabou por ir correndo melhor que o esperado.

Neste tipo de prova tudo pode acontecer, tanto podemos ir com grandes expectativas, mas ter muitos problemas, como ir sem expectativas e conseguir um grande resultado!

No momento em que vi que era possível chegar a um bom resultado, agarrei a oportunidade, é certo que nem tudo correu de forma perfeita, mas consegui um grande resultado final para mim, o que foi fantástico".

Uma prova desgastante, como foi o preparar do Africa ECO Race?

"Foi basicamente um ano de preparação. Após a chegada do Dakar na Argentina em 2017, fiz uma pausa de 1 mês, mas retomei logo os treinos. São muitos dias de provas, milhares de quilómetros, onde o fator físico e psicológico é extremamente importante para o nosso desempenho. Esta foi a principal área de trabalho, com treinos físicos diários, depois apostei em fazer algumas corridas específicas ao longo do ano que me permitiram ir muito bem preparado para o Africa ECO Race".


É uma prova para fazer ao sprint de princípio a fim?

"Apesar de ser uma prova com milhares de kms, se queremos fazer um bom resultado, temos que partir ao ataque em todas as etapas! Por vezes com o passar dos muitos kms poderemos ter a tendência, e apesar de ir a rolar, baixar o ritmo, mas de repente passa por ti um adversário muito mais rápido e então “acordas” e apercebemos que temos de atacar porque senão começados a ficar muito para trás".

Entre o atual Dakar na América do Sul e o Africa ECO RACE, qual consideras o mais difícil?

"São corridas diferentes. Ambas muitos difíceis, cada uma à sua maneira.

O Dakar na Argentina tem as ligações que são muitos grandes e desgastantes, depois temos o problema da altitude, muito frio e chuva que são muito difíceis de suportar e na parte competitiva, também é mais difícil, porque tem mais pilotos inseridos.


Em Africa, a maior dificuldade é não existir basicamente nada, dependemos apenas de nós próprios! São dias e dias praticamente sem ver ninguém, as mesmas pessoas que lidamos no arranque, são quase sempre as mesmas e únicas que basicamente vimos ao longo de todo o percurso da prova, porque o cenário é sempre pista do deserto dia e noite e sempre que surge os percalços, quer para nós, quer para a assistências é difícil de os solucionar".

Qual a maior dificuldade que tiveste ao longo da prova?

"Fui muito bem preparado para o rali, quer com o trabalho desenvolvido com a minha equipa, quer fisicamente! Senti-me bem durante todas as etapas, mesmo nas mais exigentes e difíceis de superar, onde a maioria dos pilotos se atrasou, consegui manter sempre a mesma toada!

Mecanicamente não houve problemas, tive apenas uma etapa onde fiquei sem gasolina, onde perdi bastante tempo, mas felizmente surgiu o piloto português João Rolo, que com uma grande atitude desportiva cedeu-me gasolina e permitiu que eu continuasse em prova e me mantivesse na luta pelos lugares do pódio".

O que te dá mais prazer ao longo de cada etapa?

"Gosto muito das etapas com velocidade, sempre com ritmo elevados e essencialmente da navegação. O ir focado na leitura do road book, rodar kms e kms sozinho sempre a acreditar que vamos no rumo certo para passar no local certo, conseguindo-o fazer bem, a mim dá-me muita satisfação e quando os resultados são bons, ainda mais!".


Qual a melhor imagem que trazes da prova?

"Foi após passar 300 kms sem ver “nada” nem ninguém, passar por uma aldeia muito pequena, com 3, 4 casas com algumas crianças, numa tremenda felicidade por apenas nos verem passar, e cair em mim o quanto somos sortudos que somos, por tudo o temos no nosso dia a dia em comparação com aquelas crianças, que são tão felizes com tão pouco, sem dúvida que isso mexe connosco e é uma imagem que ficará para sempre comigo no meu pensamento".


Em cada etapa, são percorridos centenas de quilómetros! Vais sempre focado na leitura do do road book e terreno, ou há tempo para ir a pensar em outras situações que não a corrida?

"Logicamente, eu pelo menos tento ir sempre focado o máximo na corrida, mas como é normal são tantas horas e tantos quilómetros que há tempo por vezes para refletir em muitas coisas, essencialmente o todo esforço e de tudo que muitas vezes abdicamos para conseguir estar na corrida.

Contudo não é possível nos distrair muito, porque se nos desconcentramos da navegação a qualquer momento, erramos, falhamos uma nota e pode até ser perigoso e ditar o fim da nossa prova".

É uma prova para repetir?

"Aquando da partida para o Africa ECO Race, já tinha tomado a decisão e independentemente do resultado que obtivesse que esta seria a minha última corrida de moto.

Já fiz muitos campeonatos, muitas provas, várias delas de renome e para o conseguir fazer é necessário estar sempre num nível de alta performance, que contudo não é fácil gerir em termos profissionais e familiares. É com muito esforço, muitas vezes muito cansaço e nesta modalidade há muitos riscos, nos últimos anos, tive algumas lesões e penso que chegou o momento de abrandar, dedicar um pouco mais em termos familiares e profissionais".


Agradecimentos?

"Essencialmente à minha família, foram um pilar muito importante na minha preparação e foco para o rali. Uma palavra para toda a minha equipa de assistência, foram sensacionais quer antes da prova, quer no decorrer da mesma, ao meu preparador físico, o Pedro Oliveira que tem desenvolvido comigo nestes últimos anos um trabalho excecional, a todos os portugueses que nos apoiaram e em especial aos meus conterrâneos, pois foram incansáveis, e que me deram um alento especial para chegar a Dakar com grande resultado".


0 visualização0 comentário
bottom of page