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RICARDO FERREIRA

ENTREVISTA | Paulo Gonçalves: “O meu objetivo é chegar ao Dakar 2019 mais forte que nunca”


O piloto português do Team Honda Monster Energy está de volta. Ausente do Dakar 2018 depois de um acidente nos últimos treinos para o grande desafio, Paulo Gonçalves está agora pronto para regressar, com todo o vigor característico do ás português.

Os dias negros acabaram para Paulo Gonçalves, dando lugar a um período de recuperação total. Ares positivos sopram no norte de Portugal e caminham pelas margens do Douro, dando a possibilidade de uma conversa interessante e íntima com o 'Speedy' Gonçalves.

Para trás da carreira já longa do piloto de Esposende, figuram títulos nacionais no motocross e incontáveis sucessos nos raides africanos e na América do Sul, o último reduto do Dakar.


De volta à ação...

MOTORES - Depois de perderes o Dakar 2018 devido a lesão e voltares a acção em Março a menos de 100%, a primeira questão vital é: em que tipo de forma física estás?


PAULO GONÇALVES - Agora estou recuperado e a trabalhar duro para as corridas que agendamos para agosto na América do Sul. O que aconteceu em dezembro passado foi muito difícil. Tinha expetativas muito boas para o Dakar e… aconteceu o que realmente não deveria ter acontecido.

Embati num carro numa sessão de treinos e machuquei o joelho e o ombro, impedindo-me de estar no Dakar de 2018 - a corrida que tínhamos preparado durante uma época inteira. Foi muito difícil para mim, mas também para a equipa. Todos nós sofremos muito, mas sabemos que neste desporto esses acidentes podem acontecer. Fazemos tudo o que podemos para evitar esses perigos, mas desta vez chegou a minha vez.

M – Voltaste à ação no Desafio do deserto de Abu Dhabi, no final de março.

Como te sentiste?


PG - Foi a primeira corrida depois da lesão e, apesar de todas as dificuldades, acho que correu muito bem. Terminei em quinto lugar de uma lista de participantes que apresentava praticamente todos os grandes nomes. Acabei bastante satisfeito, apesar de saber que estava a 30% das minhas faculdades.


M - Duas semanas depois fizeste o Merzouga Rally ...

PG - No primeiro dia houve uma confusão com o roadbook e perdi muito tempo. A partir de então encarei aquela corrida para o que era, uma sessão de treino, onde também era muito importante ter os outros pilotos como referências. Não foi tão mau como isso.

M - Entretanto passaram quatro meses até à tua próxima corrida: o Rally Atacama. O que fizeste durante todo esse tempo?

PG - Principalmente, procurei recuperar toda a minha força física que perdi com a lesão. Neste momento sinto-me muito bem, confortável e apto para enfrentar as próximas corridas para chegar ao Dakar 2019 na melhor forma possível, melhor do que no ano passado. Esse é o objetivo. Depois do que aconteceu em dezembro passado não consigo pensar em mais nada. Tenho que aproveitar todo este tempo para ficar mais forte do que nunca.

O acidente contra um carro que o deixou fora do Dakar

M – Sabemos que estiveste em Lima e que, até ao último momento, tentaste competir no Dakar 2018!

PG - Sofri o acidente no dia 18 de dezembro. Tentei-me recuperar o mais rápido que pude, de todas as maneiras possíveis, mas sabia que precisava de um milagre para entrar na corrida... Poderia ter acontecido, mas não aconteceu. Percebi que sempre que tocava um pouco de areia, acabava ficando preso porque não conseguia tirar a moto. O início do Dakar foi muito mais difícil do que isso, então foi uma decisão apropriada. Se estivesse a 20% das minhas faculdades não teria hesitado em participar, mas percebi a tempo que não tinha condições físicas.


Felizmente, o HRC tinha um piloto pronto para usar a minha moto, caso eu não participasse. Realisticamente, eu não teria durado um dia no Dakar 2018 e além disso, nós tínhamos que cuidar dos interesses da equipa também. Ao participar nessas condições teria tirado a possibilidade de ter um piloto na corrida para ajudar os seus companheiros de equipa...

M - Agora as próximas duas datas do campeonato do mundo estão a chegar: o Atacama, no Chile, e o Ruta 40, na Argentina. Quais são as sensações em retornar ao campeonato do mundo?

PG - Vou chegar em boa forma, tanto do ponto de vista físico como de pilotagem, sem dúvida. Mas também tenho claro que não posso cometer erros que possam comprometer o plano de trabalho que temos para chegar ao Dakar da melhor maneira. Teremos que lutar pelas posições de topo, mas o importante é encontrar um bom ritmo. Também estou ciente de que não posso me dar ao luxo de perder outro Dakar devido a uma nova lesão. Devemos avaliar tudo para fazer o melhor possível, sem cometer erros que possam comprometer o futuro.


M - O rali Dakar está a seis meses de distância. Estás a fortalecer os músculos e a trabalhar na tua resistência. Qual é o teu método de trabalho neste momento?

PG - Trabalho fisicamente com um personal trainer que já tinha quando ganhei o Campeonato do Mundo em 2013, e também em 2014 quando terminei em segundo lugar no Dakar 2015.

Estamos começando tudo de novo e ainda é muito difícil, mas isso só mostra que estamos a trabalhar muito duro. Ginásio, bicicleta, natação e também algo na moto. Sempre que posso treinar no circuito, porque é mais seguro. O roteiro é este: um bom plano físico e acumular quilómetros na bicicleta.

M - Uma parte é o treino físico do piloto, outra é a configuração da moto. Como é a Honda CRF450 RALLY do ponto de vista da fiabilidade?

PG – A nossa moto, no que diz respeito a fiabilidade dá-nos muitas garantias. Não tivemos um problema mecânico nas muitas corridas até agora. Estamos num ótimo nível mas na nossa equipa e no HRC não paramos de melhorar. Neste mês de julho estivemos em testes nos Estados Unidos para melhorar as nossas armas para lutar nas corridas. O nível competitivo é muito alto.

M - O que mais gostas na moto e o que achas que pode ser melhorado na Honda CRF450 RALLY?

PG - Esta moto é muito bem equilibrada: tem muita potência, estabilidade, suspensões, a ciclística é ótima. Pessoalmente gostaria que o motor tivesse mais baixas talvez, mas é algo que também trabalhamos com os engenheiros. Encontramos o melhor equilíbrio para os diferentes tipos de terrenos que temos de enfrentar nas corridas.


M - O próximo Rally Atacama será praticamente todo em areia. Um bom campo de treino para o Dakar de 2019, juntamente com o Inca Challenge…

PG - Para nós, ter uma corrida com características semelhantes às que encontraremos no Dakar é o melhor que podemos fazer. Podemos testar a maneabilidade, como a moto se comporta na areia, durabilidade, experimentá-la em condições mais difíceis, assim como a nossa força também. E no Atacama, que é realizado em Copiapó, teremos uma corrida difícil, mas positiva, para obter as sensações para o Dakar, muito à semelhança do início do Inca Rally, no Peru.

O primeiro Dakar num só país: Peru!

M - O Dakar deste ano só será realizado no Peru. Com muita areia e navegação…

PG - Não sei se será melhor ou pior, será diferente, claro. Será a primeira vez que o Dakar acontece num único país. Isto não tem precedentes na corrida e será um desafio para todos, não apenas para os pilotos, mas também para a organização. E isso não será fácil. No passado, no Dakar vi muitos abandonos, acidentes... E isso mostra como será o próximo Dakar. Será tão duro como sempre. A areia será a principal dificuldade. Então teremos que nos adaptar ​​a esse tipo de condição para tentar sofrer o mínimo possível e ainda ser mais competitivos. Iremos descobrir tudo isso em janeiro...


M - Dez etapas, um dia de maratona ... O que mais achas que irás encontrar?

PG – É sabido que haverá seis dias de 100% de dunas. Espero que haja alguma seção de montanha para que os concorrente possam se recuperar um pouco. Por causa da tipologia do país, é possível. O Dakar terá sempre pistas difíceis.

M - Estamos nos lugares mais bonitos do Porto, a tua região…

PG – A minha região é muito bonita. Tem tudo o que precisas para ter uma boa qualidade de vida: bom tempo, e também ótimas pistas para curtir com a moto, mas também com a bicicleta, já que há muitos fãs de duas rodas por aqui. Temos praias, montanhas… Tenho o privilégio de ter nascido aqui em Portugal e, principalmente, no norte do país.

Agora, para ver de novo Paulo ‘speedy’ Gonçalves em ação, temos de esperar pelo arranque do Rally Atacama, a 3ª ronda do Campeonato Mundial de Rallys Cross-Country da FIM, que terá lugar em Copiapó, no Chile, de 12 a 18 de agosto.


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