O CENTENÁRIO DA BENTLEY SERÁ FESTEJADO EM JULHO DE 2019, MAS AS COMEMORAÇÕES COMEÇAM JÁ EM JANEIRO COM A “EDIÇÃO CENTENÁRIA”, CONSTITUIDA POR MODELOS COM ACABAMENTOS DE COLECIONADOR.
Poucas marcas haverá que tenham conseguido manter o seu ADN histórico de forma tão exímia quanto a Bentley. Passados quase 100 anos, mudaram os donos, evoluíram as vontades, mas preservam-se os valores, a estética e o gosto que, nos anos 20 do século passado, surpreenderam pela diferenciação e elevaram a marca à categoria de mito.
É essa aura que a casa de Crewe se prepara para celebrar em 2019. Mais do que um “soprar de velas” para inglês ver, esta é uma celebração da persistência.
As celebrações de Julho ainda estão no “segredo dos deuses”, mas a Bentley já garantiu um conjunto de iniciativas do centenário. Um delas começa já em Janeiro e dura todo o ano, com a “Centenary Specification” que irá marcar as unidades produzidas em 2019 e que fará delas, naturalmente, objetos de coleção.
No exterior, a decoração especial “1919-2019” estará presente em badges exclusivos na dianteira e traseira, bem como nos centros das rodas e estribos específicos. No interior, os motivos são repetidos no centro do volante, chave e seletor da caixa de velocidades. Uma iluminação especial foi igualmente desenvolvida, a par de estofos que se destacam por logos nos encostos de cabeça e acabamentos únicos.
A Bentley desenvolveu ainda uma cor especial para o logotipo destas unidades: denominada “Centenary Gold”, inspira-se nos acabamentos metálicos de modelos vintage como os EXP 2 de 1919 ou o “Birkin” Blower de 1929.
Um século extraordinário
Nascido em 1888, W.O. Bentley foi a combinação perfeita para dar origem a uma marca de automóveis, uma vez que aliava a extraordinária paixão pela engenharia ao sentido de gosto e de elegância que acabariam por marcar a Bentley desde os primeiros dias.
O sentido de oportunidade também deu uma ajuda: os anos 20 encontraram uma Europa que acabava de recuperar da primeira grande guerra e que explodia tanto em excessos como em criatividade.
O velho continente entrava nos “anos loucos”, ao som do Jazz e do Charleston e com o sabor do champanhe a fluir abundantemente… tal como o dinheiro
Em Londres, Walter Owen Bentley acabara de fundar, em 1919, uma marca de automóveis, perseguindo o sonho de construir “um carro bom, rápido e o melhor da sua classe”… Isto porque achava os carros da altura “perigosos, rudimentares e incapazes de satisfazer um gentleman driver".
Engenheiro de formação e com uma curiosidade inata por tudo o que fosse mecânico, W.O. trouxe o seu espírito inovador para os carros com o seu nome. Durante a sua comissão na Royal Naval Air Corps, Bentley tinha-se notabilizado ao utilizar o alumínio em motores de aviação, uma estreia bem recebida numa altura em que a Europa se preparava para a Primeira Grande Guerra. Mas, depois do conflito, os tempos mudaram: era a hora de passar rapidamente este know-how para os automóveis de topo.
Isso foi precioso na fiabilidade dos modelos, não só na utilização quotidiana, como na competição, onde conquistaria um palmarés histórico:
W.O sabia que o alumínio permitia melhores condições de arrefecimento e, acima de tudo, uma drástica redução de peso, pelo que os Bentley se tornaram-se os primeiros carros da história a usarem pistons naquele material.
Dono de uma personalidade persistente, conseguiu desenvolver uma liga resistente às forças do motor e às elevadas temperaturas. Outros tentaram e falharam, pelo que continuaram a usar pistons em ferro fundido ou aço, mais pesados e muito menos eficientes.
Os modelos Bentley do anos 20 tornaram-se rapidamente dos mais distintos da sua era, ao mesmo tempo que W.O. se apaixonava cada vez mais pelo desenvolvimento de carros para competição, alcançando vitórias míticas em Brooklands, Indianapolis e na Ilha de Man. E, claro, os mais famosos de todos: as cinco vitórias dos “Bentley Boys” em Le Mans.
As palavras de W.O. são sintomáticas do valor histórico da Bentley e da sua marca inigualável na indústria automóvel:
“Penso que não haverá muitas companhias que tenham conseguido construir em tão pouco tempo uma fonte tão rica de lendas, mito e história. A marca atraiu o gosto do público e acrescentou um toque de cor, glamour e emoção às suas vidas”.
A Bentley Motors vai produzir uma versão especial limitada do Mulsanne, que ostenta luxo e personalização: O Mulsanne W.O. Edition da Mulliner pretende homenagear o fundador da marca e incorpora uma peça genuína da história da Bentley em cada uma das unidades.
Em 1870, o filho de Francis, Robert Bouverie Mulliner, começou a sua própria empresa de construção de carruagens, denominada Mulliner London Limited, dando um novo impulso ao negócio iniciado pelo pai.
O começo do grande salto começaria bem no final do século XIX, quando o seu filho H J Mulliner adquire o negócio da família: decide colocar de lado as carruagens puxadas por cavalos para se dedicar às carroçarias de automóveis e muda a empresa para o elegante bairro londrino de Mayfair, com o nome H.J.Mulliner & Co. Ali, bem no meio da elite britânica, recebia os carros apenas com o chassis e o motor e construía cada carroçaria à medida e de acordo com os pedidos do cliente. Um dos primeiros foi um tal de C. S. Rolls, fundador de uma certa marca chamada Rolls-Royce…
Em 1952, Mulliner assina um dos mais representativos Bentley de sempre, o R-Type Continental, modelo que inspirou o design do atual Continental GT. Cinco anos depois, outro ícone: o Flying Spur, obra-prima de Mulliner sobre um chassis de um Bentley Continental. Na sequência deste turbilhão criativo, não é de admirar o próximo passo: em 1959, a Mulliner passa a integrar oficialmente a Bentley, mudando-se para Crewe.
Exemplos recentes da arte da Mulliner incluem o Mulsanne Grand Limousine, um exemplo claro das possibilidades que são criadas em Crewe: concebida para um cliente específico, esta limousine demonstra como a Mulliner é mais do que um departamento de personalização decorativa.
Os engenheiros criaram um projeto único a partir de um Mulsanne, concebendo uma carroçaria que é 1 metro mais longa e cerca de 80 cm mais alta, tudo para poder acomodar pedidos como quatro poltronas posteriores, frente a frente, para além de elementos tão inéditos como um vidro separador entre o compartimento dos passageiros e os lugares da frente cuja principal característica é a sua tecnologia electrocromática: pode ser escurecido para mais privacidade apenas com o toque de um botão. É inimaginável (ou, pelo menos, a Bentley não revela…) a quantidade de horas de trabalho e de projeto num carro desta natureza: um gigante capaz de atingir os 295 km/h, e de acelerar de 0 a 100 km/ em apenas 5,1 segundos, graças a um V8 de 505 cv.
Mais recentemente, ficaram também célebres as variações sobre o SUV Bentayga, nomeadamente o Falconry, que surge dotado de equipamentos na traseira que os adeptos da falcoaria (e no Médio Oriente existem uns quantos…) consideram indispensáveis para uma expedição bem sucedida.