PARA TODOS PRESTAREM UMA ÚLTIMA HOMENAGEM A PAULO GONÇALVES, A OITAVA ETAPA DO DAKAR, DE AMANHÃ, FOI CANCELADA PARA AS CATEGORIAS DE MOTOS E QUADS.
A morte de Paulo Gonçalves na etapa 7 de hoje entre Riad e Wadi Al-Dawasir deixou todo o Dakar, especialmente os motociclistas, em choque. Paulo, uma figura amada do rali, era imensamente respeitado por veteranos e competidores menos experientes que o admiravam e se inspiravam nele.
Depois de falarem com os pilotos e tomar uma decisão com toda a 'família' das motos, os organizadores decidiram cancelar a etapa 8 da categoria motos e quadriciclos, que deveria ocorrer em um circuito em Wadi Al-Dawasir, a fim de dar aos motociclistas a oportunidade de se despedirem de um amigo.
Esta noite, todos os concorrentes do Dakar vão estar juntos para prestar uma última homenagem a Paulo Gonçalves no briefing desta noite.
Aqui ficam algumas das palavras de vários protagonistas do rali sobre o malogrado piloto luso:
Abatimento profundo no bivouac do Dakar no final da etapa de hoje. Ninguém comemorou nada, todos estavam chocados com as notícias fatais do seu companheiro de aventura. Joan Barreda, amigo próximo de Paulo e vencedor da etapa, não saiu do camião, incapaz de falar nas primeiras horas. Ninguém da KTM queria falar também como sinal de respeito ao companheiro.
JOAN BARREDA
“O PAULO TRATOU-ME SEMPRE COMO UM IRMÃO NOS ANOS QUE PASSÁMOS JUNTOS NA HONDA”
Horas depois, Barreda emitia um comunicado nas suas redes sociais: "Ainda não acredito que isto aconteceu. Nem sei o que dizer. Ele tratou-me durante todos estes anos como um irmão. Lembro-me da imensidão de horas que passamos sozinhos no deserto, cuidando um do outro a 100 metros um do outro… Esses momentos vão permanecer sempre na minha alma."
FERNANDO ALONSO
“É MUITO DIFÍCIL VIRAR A PÁGINA. FIQUEI GELADO...”
"Fiquei paralisado na linha de chegada. É muito difícil virar a página. Compartilhámos a etapa com paixão, o acampamento, os briefings, as verificações, é difícil de acreditar no que aconteceu e deixa-nos com pouco desejo de falar, porque a vida está acima de qualquer corrida. Esta modalidade é arriscada, saímos para o desconhecido, cada quilômetro é novo por lugares inóspitos, sem conforto. Aconteça o que acontecer, não há comissário a 10 metros de distância, ninguém para apagar um incêndio, não há médico, embora eles cheguem rapidamente e você esteja ciente desse perigo. No desporto motorizado o perigo nunca está cem por cento sob controle.
RICKY BRABEC
"A VIDA VAI MUITO PARA ALÉM DO DESPORTO"
"Ao terminar a etapa, ouvimos as notícias sobre o Paulo. Todos sabemos que o motociclismo é um desporto perigoso, mas hoje é um dia realmente triste para todos nós das provas de cross-country. Os nossos pensamentos estão com a família. A classificação da corrida não significa mais nada. É secundário. A vida vai muito para além do desporto.
MARC COMA
“É UM PREÇO MUITO ALTO QUE UM DE NÓS PAGOU. ESTOU DESOLADO”
Marc Coma, um bom amigo e rival direto de Gonçalves na luta pela edição de 2015, já temia um resultado ruim: "Quando lé cheguei, vendo tantas motos paradas e o helicóptero percebi, por experiência própria que algo de muito grave tinha acontecido, mas não disse nada ao Fernando (Alonso) porque tínhamos que manter o foco. É muito triste, um preço muito alto que um de nós pagou, pouco para dizer, apenas apoiar a sua família e a equipa num momento tão complicado. O Paulo foi meu rival, competimos muito diretamente os dois por muitos anos, nunca houve reclamações ou atitudes anti-desportivas, ele sempre foi um cavalheiro na moto e é essa a memória que me fica. Dou muito valor a isso. uma perda sentida ", disse Coma em lágrimas.
DAVID CASTERA
“FOI O TOBY PRICE QUE PRESIONOU O BOTÃO DE ALERTA NA MOTO DO PAULO”
Substituto de Marc Coma no comando do Dakar, David Castera, narrou o que aconteceu: "Recebemos um alerta por volta das 10 horas: primeiro por uma forte desaceleração e depois por uma paragem abrupta da moto do Paulo. Começamos a investigar o que aconteceu. Poderia ter acontecido, mas imediatamente recebemos uma confirmação do Toby Price que vinha logo atrás. Encontrou o Paulo já prostrado no solo e foi ele que pressionou o botão vermelho de alerta. Acionámos o dispositivo e 8 minutos depois o helicóptero chegou para intervir e tentar recuperar o Paulo... sem sucesso."
“O PAULO PARTIU O MOTOR NA 3ª ETAPA, MUDOU-O E PARTIU DE NOVO…”
“Estamos aqui para os pilotos e fãs que querem viver a aventura, curtir... Alguns vêm para ganhar, como o Paulo que esteve connosco por muitos anos, todos nós o conhecíamos, ele era uma figura do rally. O Paulo partiu o motor na 3ª etapa, mudou-o e partiu de novo... isso diz muito sobre a sua força de vontade. São momentos muito difíceis. Estamos aqui para viver o oposto: sonhar, curtir e ver pessoas felizes ... e agora temos que viver o pior dos acontecimentos.”
“Todos sabemos que a moto é perigosa. Fiz cinco Dakar de moto e, quando partes de manhã, às vezes partes com um frio no estômago porque não tens proteção, não tens nada. E todo mundo sabe disso. Paulo era um profissional que conhecia os riscos. Este desporto é perigoso e nós sabemos disso. Obviamente, não podemos ter o mesmo discurso de outros dias (no briefing). Será acima de tudo uma homenagem a Paulo que quero prestar a todos. Faremos tudo juntos. Então vamos ver. "