ESAPEKKA LAPPI NÃO SE ESQUECERÁ TÃO DEPRESSA DO INCÊNDIO QUE CONSUMIU POR COMPLETO O FORD FIESTA DA M-SPORT NO RALLY DO MÉXICO.
Nesta entrevista, o piloto finlandês do WRC fala de Ogier, Rovanperä e da sua vida no automobilismo. Das diferenças entres as provas de circuito e dos ralis, que no seu entender conferem uma sensação de liberdade significativamente maior, dos acidentes, etc...
Tão cedo, Esapekka Lappi não esquecerá o recente episódio no Rally do México que abandonou à pressa, quando o Ford Fiesta que conduzia pegou fogo inesperadamente. O piloto de 29 anos de Pieksämäki e o co-piloto Janne Ferm escaparam ilesos do incêndio, mas tiveram que se retirar da corrida.
Agora que regressaste à Finlândia e que tiveste tempo para refletir sobre o que te aconteceu no México, como te sentes?
- «A minha sensação após a corrida não mudou. Foi um pouco de pânico de qualquer maneira. Depois de ver as imagens do acidente, com certeza que posso ter outra perspetiva do acidente; talvez tivesse sido mais sensato afastar o carro um pouco das pessoas e parar rapidamente. Parar de bombear o óleo para fora. É fácil dizer depois, o Janne está bem, sem drama, nenhum de nós estava ferido. O acidente foi sério, mas não estou em choque.»
Como se sentiram os pilotos do WRC após o enorme acidente de Ott Tänak e Martin Järveoja em Monte Carlo?
- «Sabemos sempre que o risco está presente quando estamos dentro do carro. É preciso compreender que, se eles baterem na sexta velocidade e, digamos, pararam imediatamente, isso acaba por doer muito. O carro continuou a andar o tempo todo, o que normalmente não é tão mau assim. Se começares a ficar com medo vais parar de imediato a tua carreira. A velocidade está a aumentar nos ralis, mas felizmente também a segurança está a melhorar.»
Agora que estás a completar uma década nos ralis, o que aprecias mais neste desporto?
- «O que eu não gostei nas corridas de circuito é que, quando se está a competir com os outros o tempo todo, outro piloto pode arruinar a tua corrida com muita facilidade. Isso não acontece no ralis, que é o que realmente gosto. Conta o piloto, o navegador, o cronómetro e o carro. Nos circuitos, quando colocas muito dinheiro e alguém estraga a tua corrida na última corrida, todo o teu dinheiro é gasto sem grande retorno. Não é uma sensação agradável.»
Gosto bastante mais da sensação e da atmosfera que se vive nas equipas de rali e nos parques de serviço. Nas corridas de circuito, os pilotos estão constantemente a brigar e os pais dos pilotos também brigar. Nos ralis, é tudo muito mais amigável!
O que achaste da sensação de estar na mesma equipa do seis vezes campeão Sébastien Ogier na última temporada?
- «Tive a sorte de trabalhar com vários pilotos de ponta nos últimos três anos, e a ‘cereja no topo do bolo’ foi estar com o Seb no ano passado. A maior diferença era o quanto ele se concentrava nos mais pequenos pormenores. Não somente em termos do set-up do carro, mas em todas as outras coisas, como em tudo o que acontecia à sua volta: equipas, informações, escolhas de pneus, etc.. Isso tudo foi uma boa informação para mim, e algo que eu não tinha visto antes.
Fiquei surpreso ao saber que o Seb Ogier continuou esta temporada, porque julguei que ele poderia parar de correr. Parece que o resultado da última temporada (perder o título para Tanak) foi um impulso para ele. Não sei o que ele quer fazer após os ralis, exceto o Extreme E. Com certeza, ele continuará a conduzir alguma coisa.»
Pensas fazer o Rally Dakar e corridas de ralis desse tipo no futuro?
- «No momento, sinto que não, é muito tempo ficar muito longe da família para mim. Passar um mês fora da minha família, acho que é demais.»
O que sentiste quando fizeste o teu primeiro pódio no WRC e quando alcançaste a tua primeira vitória no WRC, no Rallye da Finlândia de 2017?
- «Foi a melhor sensação que tive neste desporto. Não sei se posso ganhar outra corrida no futuro, mas espero conseguir isso. Não acredito que volte alguma vez a ter uma sensação semelhante à que tive nessa época, nem mesmo ganhando o título mas vai ser difícil vencer de novo.
Antes de tudo, tudo aconteceu muito rapidamente, pois era a minha primeira vez com um carro de WRC no Rallye da Finlândia, então, foi a sensação de um sonho realizado. Na realidade esperava que isso acontecesse dali a algum tempo, mas vencer pela primeira vez nessa situação foi uma loucura, uma sensação incrível, é tão difícil de descrever como foi. Se és um piloto de rali e ganhas algo que é muito importante para ti, só nessa altura ficar a saber como é. Recebi uma carta do Governo, e isso foi algo que nunca esquecerei.»
Como vês o desempenho do teu colega finlandês Kalle Rovanperä, recentemente saído do WRC2?
- «Já era bastante óbvio há um ou dois anos, que ele estava a ir muito, muito bem. Ele era muito inteligente em Monte e agora no México, além de ter mais experiência. Ele conhecia as condições na Suécia - não era realmente um rali de inverno - e ele era muito rápido por lá e realmente merecia o pódio. O Kalle estará a lutar pelo título muito em breve.»
És conhecido pelo teu teu sentido de humor… Qual é a importância disso num desporto de alta pressão como este?
- «Sem a diversão, sinto realmente que não me posso divertir nas corridas. Às vezes, o meu humor é um pouco sombrio, algumas pessoas não entendem, mas essa também é a beleza. É muito importante ter essas coisas, caso contrário, fica muito sério e tu precisas de te divertir, nem que seja para quebrar a tensão.»