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RICARDO FERREIRA

TESTE | Mobilidade, boas maneiras e poupança


OFERECE UMA AUTONOMIA DE 300 KM E PODE SER ADQUIRIDO A PARTIR DE 17.560€ (INCENTIVO DO ESTADO DE 2.250€. CHAMA-SE RENAULT ZOE Z.E. 40 E É UM DOS AMIGOS DO AMBIENTE MAIS POUPADINHOS.

Fotos de Rui Elias

Devo confessar que nunca foi grande fã de automóveis elétricos, que tinha potenciais dúvidas sobre a sua utilização, ou sequer se alguma vez na vida teria o estigma de ter algum à porta de casa. Tinha desde há muito esta ‘pedra no sapato’ em relação aos veículos 100% elétricos, desde o tempo em que os fabricantes começaram a repensar a mobilidade na perspetiva de uma alternativa ao petróleo.


Tudo aconteceu no começo dos anos 90 numa deslocação de trabalho a França, concretamente à região da Alsácia e a convite da Peugeot Motorcycles, para ficar a conhecer e experimentar dois veículos 100% elétricos. Tratava-se de um Peugeot – se bem me lembro um 106 - e uma scooter com umas clássicas baterias, já capazes de bons arranques, com uma velocidade de ponta interessante, mas, com uma enorme contrariedade! Tinha-mos de pressionar muito ao de leve o pedal de acelerador se quiséssemos garantir a sua autonomia… limitada a cerca de 120 quilómetros e sem sequer qualquer sistema de regeneração das baterias.

Face às evoluções de hoje dos VE isto parece do tempo da Pedra, do período do Neolítico mas, para a época… era muito, muito mesmo. E, naturalmente, com a curiosidade a saltirar-me na mente, perguntei ao Engº responsável: “Se a nova tecnologia tem tantas ‘pernas para andar’ (como me pareceu na altura) porque razão os fabricantes e os países não enveredavam por esse caminho?” A sua resposta foi de uma prontidão supreendente: “Porque existem outro interesses”, “existe o ‘muro’ do Petróleo…” E fiquei esclarecido em poucas palavras…

Mais de vinte anos depois…

Hoje a realidade elétrica no automóvel mudou, já não é um assunto do futuro, mas sim do presente e da vida de todos nós. Se o pioneiro Nissan Leaf, se Elon Musk e a Tesla entraram a pulso, contra ventos e marés, no primeiro capítulo da história dos Veículos Elétricos (VE), na atualidade todos os principais fabricantes automóveis tem em pré-produção modelos para todos os gostos e segmentos; na Fórmula E em 2019 vai ser desnecessário uma ida á boxe para trocar de carro; a própria conceção de baterias deu um pulo tecnológico inimaginável há alguns anos.


E neste Novo Mundo a francesa Renault é uma das empresas mais empenhadas na mudança para a mobilidade elétrica… ver o compacto ZOE Z.E. 40, conduzido por particulares ou empresas já se tornou comum em Portugal, diria até banal… mas muitos êxitos comerciais assim começaram… como uma banal curiosidade como o foram as antigas Renault 4L com o tirante da caixa de velocidades colado ao volante.

Mas seria eu capaz de suportar a falta do som de um motor de combustão ao carregar no pedal? Como se comportaria em curva, a subir, qual o poder de regeneração das baterias em rolamento? Que quantidade de energia me ia sobrar levando o ZOE Z.E. 40 ao pára-arranca normal da cidade e auto-estrada em hora de ponta?

Pensei em muita coisa, tinha o carro, um cartão de carregamento e duas extensões, uma para carregamento rápido no exterior, e outra para um carregamento completo em casa. O teste final seria na segunda-feira, no dia das fotos da praxe – altura em que uma luzinha azul me fez reaprender a poupar combustível.


Vantagens no ato de compra

O novo Renault ZOE Z.E. 40 marca um novo capítulo na história do automóvel. É verdade que há um outro modelo 100 por cento elétrico que anuncia 400 quilómetros, mas custa quase… cinco vezes mais! Já o novo Renault ZOE Z.E. 40 pode ser adquirido a partir de 17.560€ (incentivo do estado de 2.250€ incluído) com um contrato de aluguer de baterias. É verdade que com a bateria incluída, o valor começa nos 28.835€ mas, vamos por partes.

Em ambas as modalidades o cliente beneficia ainda da oferta da wallbox doméstica de 7,4 kW/h de potência, que permite carregar o ZOE Z.E. 40 em cerca de sete horas (com a bateria completamente descarregada)... no domicílio!

Tendo chegado ao mercado em 2013 o Renault ZOE praticamente duplicou a autonomia que oferece. De acordo com o fabricante, este modelo 100% elétrico líder de vendas na Europa consegue cumprir 300 km com uma única carga de bateria… É verdade! Fazendo um uso normal do motor elétrico, com uma condução sem esticões, consegue-o sem quaisquer problemas como verificámos em auto-estrada. E, por outro lado, os 300 km que o construtor reivindica, podem dar para uma semana inteira no uso diário com uma única - e tranquilizadora recarga ‘caseira’. Quanto a números (custo) já lá vamos, mas desde já o aviso que se vai surpreender!

Ágil, fácil e 100% elétrico

Como automóvel 100 por cento elétrico, o novo Renault ZOE Z.E. 40 só precisa de uma vulgar tomada elétrica para ser abastecido. Em tudo o resto é um automóvel vulgar. Tem um motor (mas elétrico) que debita 65 Kw, o equivalente a 88 cavalos de potência. O binário máximo de 220 Nm (apenas menos 20 Nm do que o Clio R.S. 200 EDC) fica disponível em menos de um centésimo de segundo, enquanto para acelerar dos 0 aos 50 km/h, só precisa de escassos quatro segundos.

As dimensões e a habitabilidade são idênticas às de um Renault Clio. As linhas são modernas, não passando despercebido o azul “elétrico” nos faróis dianteiros e traseiros, que remete para o universo dos automóveis 100 por cento amigos do ambiente.


No interior o ecrã TFT (Thin Film Transistor) do painel de instrumentos e o ecrã de 7” da consola central do Renault R-Link confirmam que também o novo Renault ZOE Z.E. 40 beneficia dos equipamentos tecnológicos, de segurança e de bem-estar que caracterizam todos os modelos da marca.

A versão que experimentámos, designada por BOSE, distingue-se, essencialmente, pelos estofos em pele premium com aquecimento, pelo sistema de áudio BOSE® composto por sete altifalantes, pelas bonitas jantes de 16 polegadas em Preto Diamantado Shadow e por diferentes pormenores estéticos na carroçaria e no habitáculo.

Já as sensações ao volante são diferentes das que se têm num automóvel equipado com um comum motor de combustão. Graças à ausência de ruído e de vibrações do motor, a condução é mais tranquila e serena. As acelerações são perfeitamente lineares e sem solavancos ou “esticões”. Para o condutor, é como se tivesse a caixa automática com que o mercado ainda sonha, até porque, na prática, o sistema de transmissão é desse género (2 pedais: travão e acelerador) mas ainda mais simplista.


Baterias de última geração

A quase duplicação da autonomia do novo Renault ZOE Z.E. 40 não foi à custa da incorporação de mais baterias. Aliás, a área ocupada pelas baterias e a sua distribuição ao longo do chassis é rigorosamente idêntica à versão de lançamento: 192 células distribuídas por 12 módulos.

O segredo passou pela incorporação de uma nova geração de baterias desenvolvidas em parceria com a LG Chen. Baterias com a mais elevada densidade energética do mercado, fruto da melhoria da química e da adição de matéria ativa.


O novo Renault ZOE Z.E. 40 beneficia, assim, de uma bateria capaz de fornecer uma energia de 41 kWh úteis. No fundo, praticamente o dobro da capacidade de armazenamento da bateria tradicional de 22 kWh. Uma inovação que não obrigou a quaisquer alterações na estrutura do automóvel, nem sequer na rapidez dos carregamentos, compatibilidade com os diferentes postos, fiabilidade ou mesmo segurança.


Um raio de ação realista

Algo que tive de reaprender na condução, para além de gerir o silêncio do leve zumbido vindo motor elétrico, ou de colocar o sistema áudio ativo (o som Bose sai encantador dos alti-falantes) e realizar uma condução perfeitamente normal na A5 em direção a Lisboa) foi a simples questão de deixar de recuperar a carga da bateria seja na travagem ou descidas. É possível fazer uma condução poupadinha – a descer a Serra de Sintra recuperei cerca de 10 km de carga nas baterias! – e apenas no sábado foi ao posto elétrico Mobi de Cascais, deixei o Zoe a carregar e foi tomar descansado o pequeno-almoço.

Quando regressei tinha a carga a 70%, mais à frente estava um híbrido à carga e, ao lado do Zoe, tinha um outro carro estacionado - para não pagar estacionamento… coisas à portuguesa! Também em algumas ilhas de recarregamento (como uma que encontrei em Sintra) estão inativas!

Já em casa, a coisa funciona de forma bastante mais tranquila e sem problemas: antes de ir por o sono em dia, pomos a carregar as baterias, e de manhã, está tudo OK. E quanto a custos domésticos, não se alarme! O novo Renault ZOE Z.E. 40 se for carregado numa vulgar tomada elétrica de casa, pode percorrer 100 quilómetros com um custo de eletricidade de – imagine-se! – apenas 1,3€. Sim, o hipotético valor de dois cafés. A tarifa de eletricidade contratualizada só tem de ser bi-horária. Se não for o caso, a mesma centena de quilómetros tem um custo máximo de 2,2€! Ou seja, também um valor incomparavelmente inferior ao que é reivindicado pelos mais económicos diesel.

Quais foram os números que sustentaram as contas anteriores? Simples. Para percorrer 100 quilómetros, o Renault ZOE Z.E. 40 gasta qualquer coisa como 14kW, enquanto o valor de mercado do kWh varia entre os 0,92€ (tarifa doméstica bi-horária) e os 0,156€ (tarifa doméstica simples).

100 km por 1,3 euros!

Os exercícios de aritmética sustentam que o automóvel elétrico é tão amigo da carteira como do ambiente…Imagine-se alguém que percorre uma média diária de 55 quilómetros, ou seja, 20.000 quilómetros por ano. Se iniciar a semana com as baterias completamente carregadas, o mais provável é que só na sexta-feira à noite precise de voltar a ligar o novo Renault ZOE Z.E. 40 a uma vulgar tomada. O custo mensal de eletricidade para percorrer mais de 1.500 km varia entre os 20 e poucos euros e cerca de 35 euros, consoante a tarifa de eletricidade contratada.

No entanto, os reduzidos custos de utilização do novo Renault ZOE Z.E. 40 não se devem apenas ao baixo valor dos “abastecimentos”. Como automóvel 100 por centro elétrico, está isento do pagamento de Imposto Único de Circulação, não é abrangido pela tributação autónoma e, na cidade de Lisboa, nem sequer paga estacionamento. Já para não falar do custo das revisões: entre os 30 e os 50 euros! Sim, não falta um zero. Ou seja, mais uma série de benesses que estão longe de serem negligenciáveis e que somadas ao argumento dos 300 quilómetros de autonomia em condições reais de utilização – insistimos! – justifica o título “A caminho da rendição dos céticos”.

E, se todos os números anteriores são válidos para um cliente particular, que dizer para uma empresa, que também beneficia da dedução integral do IVA sobre o ZOE Z.E. 40. Ou seja, incluindo o incentivo do estado (válido também para as empresas), o custo de aquisição de um ZOE Z.E. 40 é inferior aos 14.000€. Se a empresa optar pela modalidade com a bateria incluída, o custo de aquisição em pouco ultrapassa os 21.800€.


Senti-me um piloto de F1 a regenerar baterias!

Se é verdade que nem todas as estações de carregamento disponíveis estão nas devidas condições de manutenção – algumas falham – e que também deixa de escutar aquele rugir guloso de um motor de combustão, não deixa de ser impressionante a audácia do Renault ZOE ZE 40 em aceleração pura, a sair de curva, embora com uma velocidade máxima limitada a 140-150 km/h – a ir mais além, certamente que a autonomia baixaria significativamente do mesmo, mas enfim, não estamos num desportivo Mégane RS ou GT, mas sim num puro e simpático utilitário.

Mas dá perfeitamente para ir ver uma partida de golf, passear, levar os miúdos à escola e tomar um reconfortante pequeno-almoço!

O desafio estava lançado! Eram 10 da manhã de segunda-feira e depois de um fim-de-semana agitado, com muitas voltas e uma única recarga no posto de reabastecimento de Cascais, o indicador de carga das baterias do Zoe ZE 40 batia quase no vermelho. Estava na estrada da Lagoa Azul, em plena Serra de Sintra e, nessa situação limite, bastou ficar atento e manter com o pé no travão ao de leve (em descidas e travagens) acesa a barra azul do computador de bordo para começar a regenerar as baterias, ganhando km sobre km… Foi a melhor solução para rentabilizar o uso de energia.


Olhei para a fotografo de soslaio que me dizia vira para aqui, vira para ali, a tirar fotos e mais fotos e comecei a ficar pensativo com a carga do ZOE cada vez menor. Depois das fotos disse-lhe: “Agora vou entrar em ritmo económico ou não chegamos ao destino!” E foi o que fiz, descidas e mais descidas, a travar suavemente com a barra azul acessa e a somar quilómetros… e no final esbocei um largo sorriso. Tinha recuperado perto de 12 km de carga em poucos minutos. Só fica parado com o ZOE ZE 40 quem for mesmo… mesmo muito distraído!

Conclusão

Gostei do seu feeling elétrico, do seu caráter poupadinho, da sua agilidade e atrevimento… apagando muitas dúvidas que tinha. Em boa verdade não me importava nada de ter um na garagem e de o usar durante toda a semana, até porque o que pouparia em combustível dava para alguns ‘extras’ com a família ao fim-de-semana!

Além disso, na relação preço-autonomia, este Renault ZOE ZE 40 está entre os melhores VE utilitários do mercado. Por exemplo, o engenhoso BMW i3 anuncia mais alguns quilómetros, 330, apesar da vantagem do seu pequeno motor a gasolina opcional. O mais recente Opel Ampera-e anuncia 380 km, embora tenha uma quantidade maior de baterias e muito mais peso. No fundo, o ZOE parece-me o mais equilibrado de todos, apresentando um raio de ação muito realista.

O mais difícil de todo foi quando o foi entregar e tive de voltar a reabastecer nos postos de combustível… ficando á mercê de um novo aumento na gasolina!


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