top of page
motores7magazine

O que aconteceu entre o Rossi e Márquez não passou de um ‘golpe de teatro’


Mick Doohan, o ícon do Mundial de 500cc no anos noventa, fala-nos do seu tempo e do momento atual que se vive no MotoGp. Uma entrevista a não perder.

Observando-o assim, comodamente instalado no sofá, e entretido com uma série de anedotas, temos dificuldade em recordar o ploto Mick Doohan que conhecemos. Nascido em Brisbane, Austrália (1965), cinco vezes Campeão do Mundo de 500cc (entre 1994 e 1998) e sempre com uma postura séria e centrada nas corridas, Doohan sabia com essa profissional evitar conflitos com os adversários como um verdadeiro ‘gentleman’.

"Cheguei ao paddock (1989) diretamente da Austrália, sem muita experiência, sem conhecer muitas pessoas, querendo dar a conhecer o meu valor, demonstrar que tinha talento e que podia ganhar sem apoios. É verdade que tinha uma postura mais séria nesse tempo”, admitiu ao jornal El Mundo o embaixador dos Prémios Laureus. Chega, desliga o smartphone e faz uma pausa na sua vida intensa de negócios: Doohan gere hoje um aeroporto privado, vários investimentos imobiliários e a sua start-up, vai ter que esperar para esta entrevista.



Reconhece que o mundo mudou bastante, assim como o Mundial de Motociclismo nestes últimos 20 anos?

MD - Muito. Mas não quero repetir-me. Todos nós veteranos, falamos do modo como a eletrónica mudou o motociclismo, do quanto arriscávamos nos nossos duelos, mas não o vou aborrecer com essa conversa. Agora o Mundial está interessantíssimo, não sei se mais do que no nosso tempo, mas vive-se um grande momento, sem dúvida. E a verdade é que continuo a deitar-me tarde para assistir às corridas.

Consegue dar um prognóstico do campeão deste ano?

MD – Não arrisco nenhuma previsão. Lorenzo teve um início de temporada difícil e, francamente, vi como o Márquez dominou há dois anos atrás, mas agora não sei. Ambos têm o seu estilo e preferências. Lorenzo é mais calculista e Marquez mais impulsivo, mas ambos são muito rápidos.

Descarta então Valentino Rossi dessa previsão? Ele que renovou por mais dois anos com a Yamaha, não pensa assim.

MD - Não descarto essa possibilidade, mas acho que a rivalidade entre os dois espanhóis deve marcar este Campeonato do Mundo e os próximos três ou quatro. Na minha opinião, durante as negociações para a renovação dos contratos, a Yamaha colocar na balança as suas necessidades de negócios e opções de alcançar mais títulos, e escolheu Rossi. Ninguém vende motos melhor que ele.

Portanto, pressupõe que Lorenzo pode ser campeão com a Ducati… arrisca esse prognóstico?

MD – Há dois anos atrás eu não o teria dito mas agora sim, a Ducati é uma boa opção, a moto está muito rápida. Lorenzo comprovou que Rossi é o ‘menino bonito’ da Yamaha e sentiu que precisava de uma equipe que o apoiasse a 100%. Percebo-o.

E o que pensa da renovação de Dani Pedrosa? Há alguns anos o Doohan foi crítico com a sua presença naquela que foi a sua marca de sempre, a Honda.

Doohan reflete um pouco, faz uma pausa na conversa e responde:

MD - Neste momento, Pedrosa é o perfeito número dois: ajuda ao desenvolvimento da moto e tem um bom relacionamento com Márquez, e é espanhol como o patrocinador da equipe. A Honda fez bem em renovar com ele.



Já ouviu falar nesta temporada da relação muito próxima entre Lorenzo e Marquez. Será que esse ‘falatório’ vai parar nos próximos tempos?

MD - Claro que sim! São coisas do momento, mas não têm qualquer base: os fãs não os odeiam. Obviamente perceberam que no ano passado Lorenzo só queria ganhar o Campeonato do Mundo, e Márquez apenas algumas corridas. Todo este assunto, assim como a inimizade entre Rossi e Marquez, é um grande golpe de teatro.

Então não acredita que no ano passado em Sepang tenha havido um pontapé de Rossi?

MD - Em Sepang? Eu não me recordo de nada. O que aconteceu? (risos). Foi um incidente de corrida, nada mais. Valentino tinha que se concentrar em ser campeão sem forçar Márquez e Márquez tinha que cortar gás no acelerador e esperar para o ultrapassar no final ... Coisas que acontecem.

Considera que quando Rossi se retirar, muitos fãs do MotoGP vão sair com ele?

MD - Impossível. Cada época tem os seus heróis, e haverá sempre mais. Rossi é muito inteligente, sabe como o negócio funciona, ele vende muito bem e, talvez, quando ele se aposentar, certamente vai explicar tudo num livro inteiro e calará o assunto. Tudo será recordado como um percalço e nada mais.

Recorda-se de ter vivido alguma rivalidade no seu tempo assim?

MD - Não sei. Tão mediática suponho que não, mas tive sempre grandes rivais. Continuo a dizer que foi uma pena a lesão do Rainey (Wayne) porque estávamos a nos divertir muito. E também o Schwantz (Kevin) que apenas podia ter sido um pouco mais regular, visto ter um enorme talento. Lembro-me ainda do Alex Crivillé, do Luca Cadalora, que está agora com o Rossi ...

Depois de cinco títulos consecutivos de 500cc, 54 vitórias, 95 pódios e 58 pole positions, consegue escolher um único momento da sua carreira?

MD - É muito difícil. As pessoas sempre me perguntam: Qual foi a sua melhor corrida? E eu começar a falar sobre todas as minhas vitórias... No final eu tenho que ficar com a minha primeira vitória na Hungria em 1990, porque foi bastante marcante para mim, ajudou-me muito a me conhecer, e me deu confiança.

E agora ... Como o Doohan gere a adrenalina? Ainda conduz?

Não, não. Monto a moto o menos possível. Por vezes, num ou noutro evento, dou uma volta com algum convidado, mas apenas isso. Ocasionalmente, conduzo carros no circuito e, acima de tudo, helicópteros, mas eu não dirijo como louco, porque gosto de viver com tranquilidade. Uso toda a adrenalina restante para fazer crescer os meus negócios.



0 visualização0 comentário
bottom of page