Muitos motociclistas concentraram-se no passado domingo no Rossio e em frente à Assembleia da República, em Lisboa, em protesto contra a inspeção obrigatória a motos. Consideram estar a ser alvo de interesses económicos dos centros de inspeção. À mesma hora, decorreram manifestações em cidades como Porto, Castelo Branco, Faro e Funchal.
"Segurança sim, inspeção não", "Não somos negócio" e "Não a esta farsa", assim constavam em alguns dos cartazes colocados nas motos de diversas cilindradas que compareceram de forma ruidosa no centro de Lisboa. Fonte policial, adiantou à Lusa, que junto à Assembleia da República eram esperados cerca de 1000 'motards'.
Antonio Manuel Francisco (Tó Manel), da comissão de mototurismo da Federação de Motociclismo de Portugal (FMP), reiterou que esta medida pretende apenas extorquir dinheiro aos motociclistas, alegando que muitas das modificações introduzidas nas motos poderão ser reprovadas na inspeção, apesar de as mesmas darem mais segurança a estes veículos.
Cerca das 17h30, os motociclistas começaram a abandonar o Rossio em direção à Assembleia da República, onde tencionavam entregar um manifesto, não havendo no entanto, ninguém para o receber. A manifestação contou com motociclistas vindos de várias zonas próximas de Lisboa, estando à mesma hora a decorrer manifestações em cidades como Porto, Castelo Branco, Faro e Funchal.
A intenção do Governo alargar a inspeção periódica obrigatório a motos, foi anunciada em maio, não pelo executivo mas pelo presidente da Associação Nacional de Centros de Inspeção Automóvel, Paulo Areal, que adiantou até que a medida entraria em vigor em outubro. Na altura, uma fonte oficial do Ministério do Planeamento referiu não existir ainda uma data para a entrada em vigor da iniciativa.
Tó Manel afirmou não entender como é que é uma associação anuncia aquilo, quando quem o devia fazer seria o Governo a fazer, e acrescentou: "Ninguém sabe como vai ser, se por exemplo os inspetores vão ser obrigados a ter carta de moto ou não". Segundo a FMP apenas 0,3 % dos acidentes com motos são provocados por falha mecânica dos veículos. As inspeções, em princípio aplicadas aos motociclos acima dos 250cc de cilindrada, vão retirar das estradas todas as motos personalizadas ou minimamente alteradas.
LISBOA
A união faz a força: Tó Manel, Miguel Tiago e Rui Baltazar
“Grandes ou pequenos, somos todos uma "família Motard", não um negócio. Tão pequena quanto a minha "TAXI" (50cc) ou tão grande quanto a Goldwing ao meu lado (1800cc), TRINTA E SEIS VEZES MAIOR, estamos todos de acordo... e somos milhares. Irei acompanhá-los até à rua da Assembleia da República onde, espero, haja políticos que os saibam "escutar" e não apenas "ouvir". Faz TODA a diferença... “
(Rodrigo Ribeiro, Deputado do PSD na Assembleia da República)
“Hoje na Manif contra a introdução arbitrária de inspecções às motos... muita gente, (talvez 1500 motos), ocasião boa para mostrar que não seremos levados à certa sem fazer valer os nossos direitos.” (Paulo Araújo, Comentador desportivo do Eurosport)
"Ainda não há nada decidido" (Miguel Tiago, Deputado do PCP na Assembleia da República)
Miguel Tiago, que saudou a iniciativa dos manifestantes, observou que o manifesto é um alerta de que "há pessoas interessadas em legislar nas costas" dos motociclistas. Dirigindo-se à multidão de "motards", em cima de uma moto e de megafone na mão, o deputado comunista assegurou que o parlamento certamente discutirá o assunto, e que todos os grupos parlamentares terão de se pronunciar sobre a intenção de impor as inspeções obrigatórias às motos.
Antecipando a posição política do PCP, Miguel Tiago declarou que seria "muito mau para o país que o Governo estivesse mais apostado em alargar o negócio [das inspeções] do que a resolver o problema da segurança rodoviária e dos motociclistas". Em sua opinião, seria "triste" o Governo começar pelas inspeções obrigatórias às motos, quando há ainda tanto por fazer em matéria de segurança, designadamente cobrir e proteger os 'rails', tapar buracos na estrada, sinalizar e dar formação a todos os condutores que circulam nas estradas.
Miguel Tiago referiu ainda que a questão da inspeção obrigatória às motos está suspensa no Parlamento Europeu, pelo que não faria sentido Portugal impor, à pressa, qualquer legislação neste domínio. (Económico)
Eu estive na Manif em Lisboa… E tu? Quem está a defender a causa! Não somos negócio!...
(Ricardo Camilo, Presidente do MC de Odivelas ‘Doninhas do Asfalto’)
PORTO
"As medidas preventivas devem centrar-se ao nível dos principais ingredientes causais e não no incremento de receitas"
A implementação das inspecções às motos é justificada como "uma medida importante para a redução da sinistralidade dos motociclos". Existem 2 estudos que revelam a percentagem de acidentes de moto causados por falha mecânica:
- MAIDS report (EU): 0,3% (principal factor: problemas com os pneus).
- Hurt Report (USA): 2.8% (causa principal: furo de pneu e consequente perda de controlo do motociclo).
As medidas preventivas devem centrar-se ao nível dos principais ingredientes causais e não no incremento de receitas que o alargamento das inspecções às motos e scooters pode gerar. A segurança e a prevenção da sinistralidade rodoviária servem apenas de falso pretexto para justificar a existência das IPOs. Não aceitamos que usem o falso argumento da segurança para nos taxar.
G.A.M. (Grupo de Ação Motociclista)
FARO