top of page

Renascida das cinzas | Motores


TESTE | Desde a introdução da Aprilia RSV4 1000 em 2009, a pequena empresa de Noale, Itália, somou quatro títulos de fabricantes e três títulos de pilotos no campeonato do mundo de Superbike. A sua plataforma foi alterada há cerca de um ano, o que fez renascer das cinzas esta moto triunfadora.

Por Ricardo Ferreira ; fotos de Rui Elias


A RSV4 RR é a evolução natural de um projeto revolucionário, que dominou com sucesso o Mundial de SBK nos últimos anos, assente no desenvolvimento que levou aos 4 títulos de construtores da Aprilia e às coroas de Sylvain Guintoli e de Max Biaggi. No departamento de competição da marca de Noale, no final de 2014, começou a ver a luz do dia a derradeira evolução da competidora RSV4, dividida em duas versões semelhantes: a mais ‘civilizada’ RR e a exclusiva RF com edição limitada a 500 unidades.

Num cenário bem mais usual que o circuito de Misano onde rodaram pela primeira vez à vista de todos, fomos conhecer na estrada - de dia e de noite - esta bombástica e renovada RSV4.

Trata-se de uma moto desportiva de inigualável design e que com o habitual V4 inclinado a 65 graus, ficou sob o ponto de mira das rivais BMW S1000 RR, Ducati Panigale 1290R e Yamaha YZF-R1.

FORMA E FUNÇÃO


Um Ciborgue é um organismo cibernético, isto é, um organismo dotado de partes orgânicas e cibernéticas, geralmente criado com a finalidade de melhorar suas capacidades utilizando tecnologia artificial. Esta ideia, nascida no livro ‘Evolution of the superman’ (1965) pode em absoluto ser aplicada a esta rejuvenescida moto desportiva italiana.

O seu estilo resulta da combinação perfeita de forma e função. Por exemplo, a carenagem agora revista em túnel de vento, revela um frontal totalmente redesenhado e com uma secção superior mais protectora. O farol dianteiro triplo, passou a oferecer uma forma mais moderna e uma luz de estacionamento LED, os espelhos são igualmente novos e resultam numa boa combinação aerodinâmica. Algo que nos surpreendeu é a ausência de ruídos parasitas, género daquelas situações em que escolhemos um blusão mais largo para levar a nossa desportiva e levamos nos ouvidos com um desagradável ‘plof-plof’ causado pelo vento. Isto não se passa na RSV4! Ela é uma moto desportiva silenciosa a enfrentar um vento frontal, permitindo inclusive posicionar o nosso tronco ligeiramente vertical sem as incontronáveis dores no pescoço – algo raro desde que me lembro numa radical desportiva japonesa! Isto é, sobretudo, um bom indicador de comodidade para os utilizadores com maior estatura.



O QUE MUDOU DA RSV4 R PARA A RR


Se existisse qualquer dúvida sobre o desenvolvimento desta RSV4, em teoria é desde logo possível dissipa-las. Comparando-a com a sua ancessora a nova ‘bomba’ de Noale soma mais 16 Cv de potência no motor (201 Cv ao todo) e o chassis emagreceu 1,5 quilogramas. A RSV4 é a primeira moto de produção em grande escala em todo o mundo, equipada com um motor V4 estreito e de tamanho desempenho, o motor mais revolucionário e poderoso de sempre da Aprilia.

Tornou-se inconfundível pelo seu excepcional peso e por uma electrónica "total" que, em boa verdade, está hoje presente em todas as propostas da concorrência e, sendo assim, a questão que realmente interessa saber é se, estará realmente competitiva face à concorrência. Em primeiro lugar, a desvantagem de uma certa falta de potência em relação à concorrência parece-nos parcialmente colmatada.




AS PRIMEIRAS IMPRESSÕES


Conduzir esta Aprilia é uma experiência visceral, excitante, sobretudo no modo natural como a potência é entregue ao solo, e pelo fabuloso som vindo do escape, longo e curvo e com uma única saída lateral. Fantástico troar… Meu Deus! O som atordoante dos dois cilindros traseiros do motor ainda hoje me ecoa nos ouvidos.

O som do motor em máxima aceleração incute o desejo imediato de subir ao circuito do Estoril, puxando-lhe as ganas verdadeiramente na parabólica, para depois o espremer todinho na longa recta e travar in extremis no final. E não faltam argumentos para isso, como os diversos sistemas de apoio à condução. Podemos começar com o TAEG (Aprilia Ride Control) que traz um pacote de sistemas de controlo da moto derivado diretamente da tecnologia do mundial de Superbike - o mais completo disponível no mercado! O Ride-by-wire que gere os diversos mapas de gestão eletrónica do V4 de Noale, fornece-nos uma multiplicidade de recursos. Também a parceria com a Aprilia da Bosch – que antes tinha colocado a superbike KTM RC8 no mesmo sentido de desenvolvimento, trouxe novidades. O controlo de tração ATC (Aprilia Traction Control) é ajustável em tempo real a 8 configurações, e graças ao prático joystick situado na parte esquerda do guiador pode facilmente ser ajustado ao nosso gosto. Outra novidade o sistema inibidor de levantamento da roda dianteira numa partida, o AWC (Aprilia Wheelie Control) que é regulável em três configurações e com máximo desempenho no nível 1; o ALC (Aprilia Launch Control) o sistema de partida assistida para uso na pista apenas com 3 configurações, isto para além do mais apetecível de todos. Por ultimo o AQS (Caixa de velocidades electrónica do tipo seamless) que permite utilizar o acelerador sem recurso à embraiagem, super fácil de utilizar… quando experimentei a RSV4 RR em condução desportiva, apenas nas relações de caixa mais baixas - e talvez por hábito - toquei na manete de embraiagem.


Algo que me impressionou foi o extraordinário poder de travagem desta superbike. Parar os seus 190 kg já com o depósito pleno de combustível, é algo de relativamente fácil para alguém habituado a motos de maior porte, muito à custa do sistema de anti-bloqueio Race ABS, desenvolvido pela Aprilia em colaboração com a Bosch para garantir a segurança não só extrema na estrada, mas também o melhor desempenho possível em pista.

A unidade 9MP ABS é top de linha em refinamentos atualmente disponíveis e tecnologia: o sistema, que pesa apenas 2 kg pode ser desativado e é ajustável para 3 configurações acedendo-se com facilidade ao menu de controlo no painel de instrumentos: Nível 1 dedicado a monitorizar o uso em pista e atua em ambas as rodas para garantir o melhor desempenho possível, mesmo nas condições mais intensas de travagem a qualquer velocidade; Nível 2 para uso desportivo fora de circuito, atua em ambas as rodas e está combinado com o ‘Wheelie Control’ que evita o levantamento da roda dianteira; Nível 3 para quando rodamos sobre superfícies com fraca aderência, atua em ambas as rodas.

Cada um destes 3 níveis de ajuste do Race ABS pode ser combinado com qualquer um dos 3 novos mapas de gestão do motor que acima referimos. Isto parece algo complicado e é… mas não esqueçam que esta é uma moto diferente… ideal para desfrutar com tempo, e preferencialmente em circuito.


DESPORTIVA 'PÚRO-SANGUE'


Não conheci o modelo anterior mas, pelo que me esclareceram, todos os três mapas são agora mais gerenciáveis e menos agressivos do que na anterior versão, permitindo assim uma perfeita correlação entre o controle do acelerador e o poderoso torque enviada à roda traseira.

Isto tem desde logo uma primeira vantagem a considerar: o menor desgaste do pneu traseiro e uma boa quantidade de euros poupados uma vez que o Pirelli Diablo Supercorsa 190/50 custa os ‘olhos da cara’. A segunda vantagem é que se gerem muito melhor os 201 cavalos debitados no impressionante V4 italiano.



A condução da RSV4 RR exige um período mais longo de adaptação que o de uma japonesa YZF-R1 ou mesmo uma BMW S1000 RR. Sinceramente, que me lembre até a fabulosa VTR 1000 SP1 da Honda é menos exigente na adaptação do nosso estilo de condução à máquina. Bom, ao todo, sei que comecei a andar com ela após a hora de almoço e já só a larguei perto das 21h00, já noite profunda.

Mas também, devo confessar, que para alguém que desde há muito não rodava com um moto do calibre desta ´puro-sangue' das pistas – a última tinha sido a BMW S1000RR - o período de adaptação à nova Aprilia foi algo demorado. Explorei todos os modos proporcionados pela gestão eletrónica, a travagem fantástica das pinças Brembo e do ABS (pouco intrusivo) que de pronto aplaudi, o amortecimento e a interessante centralização de massas do chassis, fornece grande tranquilidade no uso desportivo mas… até à hora das fotos levei uma eternidade, duas horas inteirinhas a inclinar em curva e contra-curva a moto para que tudo corresse na perfeição na hora das fotos da praxe. Isto porque, a RSV4 RR é uma pura moto de competição, bastante mais ‘selvagem’ e pura de emoções que a ‘civilizada’ S1000 RR da BMW!


É uma moto muito diferente da BMW S1000 RR.

A deitar a frente em curva, parece mais difícil a início, mas depois de nos adaptarmos ao chassis e ‘feeling’ no punho do acelerador do V4, a Aprilia passa a ‘mergulhar’ em curva com uma espantosa naturalidade.


Talvez fosse a estatura do assento, senti-me a início numa posição algo alta, no entanto rapidamente percebemos que temos o espaço ideal para empreender as viragens rápidas de que ela é capaz, caindo para o ângulo de inclinação pretendido. A RSV4 é mais fácil de corrigir em curva que a BMW, embora ligeiramente menos que a Ducati Panigale. Claro que a posição de pilotagem é um pouco ‘irrealista’ num uso urbano, ao contrário do que sucede em estradas sinuosas ou de duas faixas como a auto-estrada. Aí sim, consegue-se perceber uma pequena parte do que a nossa Cyborg consegue proporcionar, já para não falar da velocidade vertiginosa e incomparável facilidade com que os 201 Cv do V4 nos permitem superar num ápice as três centenas de km/h. Admirados !? Não fiquem, a RSV4 RR é uma desportiva de raça pura, pronta a fazer despertar o nosso lado emocional a qualquer momento. Nela, a paixão está acima da razão, mas os momentos que com ela partilhamos... tornam-se inesquecíveis!


Alcança-se os 300 km/h num ápice, mas faltou-nos experimentá-la em circuito para saber algo mais sobre esta fabulosa desportiva

V4-MP Aprilia: uma aplicação específica para utilizar a RSV4 RR em circuito

Quando Steve Jobs criou o iPhone estamos certos que ele não adivinharia que anos mais tarde, seria possível programar a eletrónica de uma moto com a sua criação. No entanto, graças ao software e ao aplicativo Aprilia V4-MP, qualquer utilizador pode hoje transformar a sua RSV4 RR / RF / RFW ‘standard’ numa genuína moto de pista, com recursos que estavam restritos apenas às equipas de fábrica de MotoGP há apenas alguns anos.

Como a aplicação que se pode adquirir para a Yamaha YZF-R1M, o aplicativo V4-MP da Aprilia permite que você programe uma incrível quantidade de informações na moto, assim como registar praticamente todos os parâmetros de desempenho para o ajudar a melhorar e acentuar as performances desta desportiva.


O uso deste aplicativo é algo que muitos pilotos (e não só) vão considerar extremamente útil. Você pode gravar cada km da corrida ou track days de pista, o local onde você estava num determinado momento, o seu ângulo de inclinação, as posições do acelerador e da engrenagem da caixa de velocidades, as rotações e controle de tração, baixando toda essa informação para o seu telemóvel ou tablet e reproduzi-lo para encontrar preciosos décimos.

Algo que realmente apreciamos é o facto de que você pode programar o sistema de controle de tração e anti-wheelie para curvas específicas da pista. O aplicativo tem uma lista relativamente pequena de pistas certificadas pela FIM (para nós, nos Estados Unidos, tem as pistas de Laguna Seca e Circuito das Américas), e por isso, não o poderemos utilizar por exemplo em Road Atlanta, mas pelo registo do GPS do seu trajeto pode ajustar a perfomance da moto.

Por outro lado, supondo que você e um amigo tenham realizado a mesma volta em torno do circuito de Laguna Seca e estiver interessado em bater o seu tempo, você pode, secretamente, programar o seu TC completo para toda a corrida com os dados referentes à melhor volta que ele realizou e batê-lo na corrida. Mas isto não é para dizer!

Cycle News


FICHA TÉCNICA

APRILIA RSV4 RR

MOTOR V4 a 65 graus, 4 válvulas por cilindro DOHC LC

CILINDRADA 999.6 cc

POTÊNCIA 201 Cv (148 kW) 13.000 rpm

ALIMENTAÇÃO Injecção eletrónica com APRC e Ride-by-wire de 3 modos (Estrada, Sport, Race)

TRANSMISSÃO 6 velocidades do tipo ‘cassete’, com Aprilia Quick Shift, Controle de tração e embraiagem deslizante

TRANSMISSÃO FINAL Por corrente

TRAVAGEM (Fr./Tr.) Discos duplos e flutuantes de 320, com pinças radiais monobloco (Brembo) de 6 pistãos, com ABS Bosch 9MP / Disco 220 mm com pinças de duplo pistão (Brembo) e ABS Bosch 9MP

SUSPENSÃO (Fr./Tr.) Forquilha telescópica invertida 43 mm (Sachs), regulável em pré-carga, compressão e extensão; curso 120 mm / estrutura de alumínio de braço duplo com biela de ligação APS e mono-amortecedor progressivo (Sachs) com piggy-back, totalmente regulável em pré-carga, compressão e extensão da mola; curso 130 mm (supensões Ohlins no modelo RSV4 RF)

ALTURA DE ASSENTO 840 mm

PNEUS (Fr.Tr.) 120/70 ZR17 e 200/55 ZR17 (Pirelli Diablo Corsa)

CAPACIDADE DEPÓSITO 18,5 litros (4 lt. Reserva)

PESO A SECO 180 kg

PREÇO 17.318 €

CORES Preto, Cinza

IMPORTADOR Aprilia Portugal (21-9609110)

0 visualização0 comentário
bottom of page