TESTE | A nova Versys 650 é uma moto do segmento médio, que na derradeira atualização viu corrigidas algumas lacunas que não eram bem vistas. Está mais apelativa, mais protetora, mais confortável e potente, tendo-se tornado excepcionalmente divertida e fácil.
Por Ricardo Ferreira, fotos de João Silva
A Versys 650 impressiona pela versatilidade desde o o modelo original de 2007. Uma boa parte desta sensação, deriva do motor de 650cc, um bicilindrico paralelo, fácil, capaz de quase tudo e experiente. Tem injeção eletrónica, arrefecimento líquido e uma componente eletrónica avançada, sendo uma unidade que foi um válido substituto do motor de um só cilindro da ‘dual propose’ KLR 650. A plataforma da Ninja 650R e ER-6n, acabou depressa por conquistar adeptos na Versys.
A anterior atualização do modelo já datava de 2010 e, sem duvida, era preciso ir mais longe para não perder o passo da concorrência.
Logo, a marca de Akashi redefiniu o perfil à imagem e semelhança da irmã de 4 cilindros Versys 1000. Foi ainda reforçado o sub-quadro traseiro - para acolher duas malas traseiras e uma ‘top case’ – e passaram a existir três versões desta 650cc com diferentes níveis de equipamento: Tourer, Tourer+ e Grand Tourer, esta última com malas laterais, proteção de mãos, indicador de mudança engrenada, carregador de 12 volts e faróis de nevoeiro.
Os preços, variam entre os 7990 euros da versão base e os 9890 euros da Versys 650, melhor equipada.
VERSYS DE VERSÁTIL
A nova proposta de Akashi tem um ar fresco e moderno, com a estética assente nos novos faróis da carenagem em posição horizontal, seguindo o estilo da irmã mais velha (Versys 1000) também alterada este ano.
A atualização que recebeu a Versys, além de conferir uma imagem mais atrativa, permite agora regular o écran em altura (60 mm) e este com o novo plexiglass apresenta uma área de proteção 17% superior. O motor não mudou muito na substância, mas foi reforçado nas altas rotações onde ganhou alguns cavalos extra, passando dos anteriores 64 cv para os atuais 69 cv. O aumento de 5 cavalos de potência no motor de cilindros paralelos, foi conseguido com o emprego de novas árvores de cames e escape. Nesta nova configuração, a unidade de cilindros paralelos passou a proporcionar uma suave resposta no punho com um débito de potência mais expansivo, o que torna a Versys 650 muito divertida e excepcionalmente fácil.
É verdade que lhe faltam as ajudas eletrónicas de outras ‘crossover’, mas movimentamo-la com a facilidade das clássicas monocilíndricase faz-nos esquecer muitas vezes que estamos em cima de um moto com dois cilindros. Isto deve-se também à sua excelente sua carga de binário, revista para 64 Nm às 7000 rotações por minuto.
Na parte ciclística, o último desenvolvimento da Versys oferece uma estrutura mais simplificada, que reduz o espaço entre os joelhos (facilitando o apoio dos pés no solo), com os pousa-pés recolocados mais baixo e mais para a frente, permitindo uma posição sobre o assento mais natural. Nas suspensões, destaque positivo para a nova forquilha Showa com bainhas de 41mm garfos Showa ajustável na pré-carga e compressão, que funciona a par com o mono-amortecedor Kayaba. Em termos de combustível, a Versys tornou-se ainda mais versátil graças a um reservatório que viu aumentada a sua capacidade de 19 para 21 litros, aumentando assim a autonomia. Como na irmã mais velha, o banco traseiro foi reforçado, permitindo a utilização simultânea de bolsas e top case geridos por uma chave única.
Os pneus empregues são uns D222 Dunlop que substancialmente acentuam a aderência e agilidade, com um padrão de piso de desenho mais desportivo. A qualidade dos plásticos, aos olhos e ao toque, é de alto nível, a vista da ponte é gratificante e todos os controles são agradáveis e fáceis de utilizar.
Analisando as sensações que a nova Versys 650 fornece e o resultado das alterações aplicadas em Akashi… Ao acionar o motor de arranque, o ‘twin’ Kawasaki emite um tom de escape educado. Tendo sido ajustado com os novos mapeamentos para fornecer melhorias de desempenho e redução no consumo de combustível, sente-se o acelerador macio e suave, podendo-se dosear perfeitamente aberto em estrada para obter a resposta desejada – sem estarmos à espera de um inesperado puxão. A naturalidade e o equilíbrio são a substância deste versátil motor.
O DESENVOLVIMENTO QUE TARDAVA
O écran, pode agora ser regulado em altura sem o uso de ferramentas . Os instrumentos receberam um conveniente computador de bordo para fornecer informações importantes como o consumo instantâneo, o consumo médio e autonomia, em várias configurações. O lay-out também é novo no painel, com o mostrador principal centralizado e a janela de cristal líquido logo abaixo, deixando-o mais simétrico. Outra alteração a considerar é a nova fixação frontal do motor que acabou com as vibrações secundárias, assim como os suportes de borracha que absorvem as vibrações que antes passavam pela parte superior do motor. Sentem-se ainda ainda algumas vibrações com o motor nas 3500 rotações, mas após esse regime desaparecem por completo.
O amortecedor traseiro pode agora ser regulado na pré carga de mola, sem a necessidade de usar ferramenta. Outra alteração significativa no amortecimento são as novas bainhas da Showa, de comportamento irrepreensível no uso ‘Off road e onde a regulação é contínua, sem clicks. Rodando para o lado esquerdo, podemos ajustar a pré-carga da mola e para o lado direito podemos regular o retorno da suspensão. Como já referimos, existe entre a lista de opções um indicador de marchas, o qual na nossa opinião deveria ser integrado no cristal líquido central do painel e ser um item de série, assim como a tomada de energia ao lado esquerdo do painel.
A CONDUÇÃO
Andar na Versys 650 tornou-se agora bastante mais fácil. O motor já era dócil em baixas rotações mas havia aquela necessidade de manter uma certa rotação a baixas velocidades, para que os dois cilindros se mantivessem enérgicos. Essa sensação praticamente desapareceu. A partir das 1500 rpm a resposta é linear, funciona suave e sem hesitação, oferecendo o melhor de si entre as 3000 e 7.000 rpm, entrando em débito de energia no final da zona vermelha do conta-rotações. Também em alta rotação, os novos fixadores do motor deixam a moto mais livre de vibrações e por isso está menos cansativa.
A posição de condução melhorada deixa as pernas mais relaxadas e, estando mais potente, está também menos cansativa. Com a entrega de potência mais suave, os 69 Cv do motor combina na perfeição com os 214 kg de peso da Versys sem ABS que conduzimos, resultando numa relação peso/potência perfeita.
A Versys 650 conta com um depósito maior, agora com 21 litros e, apesar dessa mudança ao passar-se sobre pequenas irregularidades do asfalto, a frente responde melhor, seja por causa das novas suspensões, seja pela maior massa na frente. Isso proporciona uma relação melhor entre o peso suportado pela suspensão e o peso não suspenso. O fato é que nos pequenos impactos, desapareceu o ‘choque’ inicial das antigas KYB. A moto que experimentamos tinha um ajuste bastante macio, ideal para o ligeiro uso Off Road que a Versys permite mas em estrada um pouco mais de carga no amortecedor traseiro pode ser útil.
A parte-ciclística da Versys mantém a mesma geometria, com 25° de ângulo e 108 mm de avanço, assim como a mesma distância entre eixos (1.415 mm). A moto continua rápida a reagir com a sua suspensão de longo curso como poucas outras ‘crossover’ que conheço, no entanto também não duvido que o aumento da massa na frente lhe tenha retirado alguma da sua maneabilidade original, compensada pelo conforto adicional que oferece e da aparência, bastante mais atual. O novo sistema de travagem é muito eficiente e adaptável. A nova unidade de disco a partir de um diâmetro maior na parte traseira, deixa explorar com mais firmeza a travagem e dá um contributo inestimável para a travagem. Claro que gostaríamos de ter experimentado o ABS, mas não o tínhamos no modelo que experimentámos. Uma nota final para o consumo que atingimos na Versys 650 que em cerca de 250 km e asfalto e terra e a diferentes ritmos nos revelou uma média de 5,2 litros por 100 km!
A QUEM SE DIRIGE
A nova Kawasaki é definitivamente uma proposta madura, uma moto capaz de suportar a vida quotidiana, assim como assegurar os desafios que lhe queiram por no fim-de-semana, seja em viagem ou numa ligeira saída fora-de-estrada. Tem a potência ideal para curtas e médias deslocações, sendo uma boa opção para aqueles que, por exemplo queiram dar o passo em frente de uma scooter ou 125cc para uma moto de sensações maiores e simultaneamente divertida. Dos seus desempenhos não se vão ‘cansar’ tão cedo, disso temos nós a certeza, até porque apresenta uma qualidade de construção elevada. Portanto, o melhor é coloca-la entre a vossa lista de opções… até porque ‘charme’ é algo que não lhe falta!
FICHA TÉCNICA
KAWASAKI VERSYS 650
MOTOR 2 cilindros, 4T LC DOHC 8V
CILINDRADA 649 cc
POTÊNCIA 69 CV (51.0 kW) / 8,500 min
ALIMENTAÇÃO Injecção eletrónica 38 mm
TRANSMISSÃO Seis velocidades
TRANSMISSÃO FINAL Por corrente
TRAVAGEM (Fr./Tr.) Duplo disco semi flutuante de 300mm em forma de pétala; Disco de 250 mm em forma de pétala (ABS opcional)
SUSPENSÃO (Fr./Tr.) Forquilha telescópica invertida de 41mm, regulável em compressão e pré-carga; mono-amortecedor de montagem assimétrica, com ajuste remoto na pré carga da mola
ALTURA DE ASSENTO 840 mm
PNEUS (Fr.Tr.) 120/70 ZR17; 160/60 ZR17
CAPACIDADE DEPÓSITO 21 litros
PESO COM LÍQUIDOS 214 kg (216 com ABS)
PREÇO 7990€ (8890€ com ABS)
CORES Branco, Preto, Amarelo
IMPORTADOR Multimoto Motor Portugal, S A