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Até sempre Campeão! - a última entrevista de Nicky Hayden | Motores


Em 2016, o “Kentucky Kid” deu a sua última entrevista, que aqui reproduzimos na integra. Nicky Hayden vivia e respirava motos, ele e toda a sua família.

O campeão do mundo de MotoGP em 2006, disputava atualmente o Mundial de Superbike e faleceu vítima de um acidente quando treinava de bicicleta. Até sempre Campeão!

Nicky Hayden, campeão mundial de MotoGP em 2006, morreu aos 36 anos, não resistindo aos ferimentos causados por um atropelamento em Rimini quando circulava de bicicleta, anunciou o hospital em que o norte-americano estava internado. O Hospital Maurizio Bufalini, em Cesena, Itália, revelou a morte de Hayden, que estava há cinco dias internado em estado grave com danos cerebrais e com prognóstico reservado.

A sua primeira memória numa moto

Nicky Hayden: "Eu ponho a mim próprio muitas vezes essa pergunta mas não me recordo, porque não me lembro de nada na vida antes das motos. A partir do momento em que comecei a gatinhar já estava ao lado de uma moto. O meu pai correu, e até a minha mãe andava nas corridas. Ele veio do Kentucky, onde as corridas de cavalos são muito populares, e a linhagem é tão importante. Então a minha mãe e o meu pai correram, o meu irmão mais velho já estava a correr quando eu ainda gatinhava a empurrar as motos. "


O mundo das corridas

NH69: "Correr com motos é apenas um modo de vida para mim. É o que eu sei fazer, é o que eu sempre fiz, toda a minha família o faz , os meus amigos, e realmente é mais do que apenas um trabalho. É uma paixão. As motos são um modo de vida para mim. "

Recordações do Dirt-Track

NH69: "Sim, eu comecei a correr em dirt track. Isso é o que meu pai conhecia melhor e começamos a correr em pistas de terra batida. Mas é o que podíamos fazer, até porque nesse tempo na América, não havia um monte de oportunidades para os pilotos como hoje existem. Não havia muitos pilotos a serem pagos, havia apenas dois pilotos de fábrica e o herói de sempre do meu pai foi Kenny Roberts.

Kenny foi um que passou das pistas de terra para as corridas em asfalto, e vendo o futuro que ele teve, nós pensamos que deveríamos tentar abrir mais portas, obter mais apoios e ter mais pessoas a seguirem o nosso caminho. É verdade que adoro as corridas de “dirt track”, mas de imediato eu passei a apreciar as corridas em circuitos de asfalto, até porque o traçado é mais longo, existem mais variáveis, subidas, descidas, curvas muito fechadas, e eu adoro tudo isso.

Outro coisa que aprecei de imediato foram as corridas com chuva. No dirt track quando chove, cada curva torna-se numa tortura e na velocidade é muito diferente, por isso de imediato gostei da velocidade. "


A gatinhar para as motos

NH69: "Em criança tive sonhos realmente diferentes. Por exemplo, eu nunca disse: 'Quando eu for mais velho quero ser astronauta ou presidente'. Nunca tive esses sonhos loucos quando criança. Eu queria ser piloto de GP. E às vezes as pessoas perguntavam ao meu pai: 'Vais colocá-lo a treinar e praticar?' E riam-se porque ele respondia: 'Não, só o tenho que por a fazer os trabalhos de casa e a escovar os dentes, mas nunca andar com uma moto.’ "Era apenas um amor que eu tinha por ele e ainda o amo."


O segredo de ser rápido

NH69: "Uau. Realmente não sei se existe algum segredo para montar estas motos a um nível tão elevado. Claro que é preciso algum talento, mas é preciso também ter uma mentalidade forte para as acelerar e levar ao limite. Como eu aprendi, e à medida que foi ficando mais velho, compreendi que nem tudo diz respeito ao piloto e ao que ele pretende fazer na pista. É também muito importante ter a equipa certa atrás de ti, ter o equipamento certo, e ser capaz de ter os engenheiros a ajudar-te e dar-lhes o feedback correcto para ajudá-los a fazer o seu trabalho. Então, existem muito mais coisas, por trás nos bastidores do que aquilo que as pessoas vêem numa corrida."


Piloto e moto são um corpo único

NH69: "É uma grande verdade. É como dançar. Nos temos que trabalhar juntos, dançar juntos, e se estiveres constantemente a lutar com a moto não vais conseguir ser rápido na pista. Quando vamos muito rápido, o piloto e a moto geram um único movimento.

Quando estamos a velocidades de 350 km/h o movimento deve ser natural, ser instinto, ser reflexivo, porque não podes pensar muito sobre isso. A essa velocidade, se pensarmos no que precisamos fazer, pode ser tarde demais. Nessa altura já perdeste o teu ponto certo de travagem, o teu ponto de aceleração, o teu ponto de passagem de uma mudança na moto e a própria corda da curva. Acho que tudo isso se aprende desde muito novo, desde quando começamos a andar de bicicleta e te dizem ‘anda naturalmente, é fácil’…


A ascenção ao MotoGP

NH69: "O meu salto para o MotoGP foi enorme. Eu vim do campeonato AMA, de uma família grande, de Kentucky, uma cidade pequena. Eu cresci a compartilhar um quarto com o meu irmão, e às vezes olho para trás e vejo agora porque às vezes eu parecia tão perdido. Eu era apenas um miúdo com o dirt track no coração, e foi jogado para uma escala muito alta, onde tinha muito a aprender. E para ser completamente honesto, esse passo foi maior do que eu pensava.

Não só tive que aprender e conhecer uma nova moto, como a equipa, as corridas, mas também aprender toda uma diferente cultura na Europa, as viagens, e tudo isso foi nadar em águas profundas e não foi fácil no começo. Mas, felizmente tive uma boa moto – o que realmente ajuda - e fui capaz de obter bons resultados e justificar a aposta feita em mim. Consegui vencer o título de “Rookie do Ano” naquele ano, em 2003, e vencer o (Troy) Bayliss e Colin (Edwards) e outros bons pilotos para conseguir esse prémio. Foi uma curva de aprendizagem íngreme, mas aprendi a nadar o suficiente para ficar.


Ser um Americano na Europa

NH69: "Bem, eu não quero afirmar que os americanos têm mais dificuldade. Mas acho que é mais fácil para os europeus, com certeza. Pilotos vindos de fora, americanos, australianos, têm muitas vezes mais dificuldade, por vezes, porque estão muito mais longe de casa.

Até porque os circuitos Europeus têm um desenho completamente diferente. As pistas que temos na América foram muito mais construídas para carros. Algumas delas estão dentro de ovais, como Daytona. Por isso, tive muito que aprender.


O primeiro triunfo em MotoGP

NH69: "A prova de Laguna Seca em 2005 foi como um sonho para mim, porque tudo funcionou perfeito. Nas corridas, nem tudo sempre é como um sonho. Normalmente no fim de semana, você trabalha, você tenta algo com a moto. É talvez um pouco melhor na travagem, mas é pior na saída da curva e é preciso encontrar um compromisso, mas naquela semana, tudo foi perfeito para mim. A moto, desde os primeiros treinos livres esteve perfeita e a cada alteração, melhorava ainda mais.

A minha mente estava relaxada. Eu estava atento a quem me seguia. Tive a pole position, a volta mais rápida e venci a corrida. Quando escutei o hino nacional ao lado do meu pai, senti-me como num conto de fadas. Naquele dia, senti-me imbatível. "

O título na classe rainha em 2006

NH69: " Considerando essa corrida de 2005, o meu título de MotoGP em 2006 foi muito mais difícil. Nunca me esqueço de sair da última curva em Valência e perceber que o meu sonho de ser Campeão do Mundo ao mais alto nível estava a tornar-se realidade. Foi um momento muito especial.”

Bater o ídolo Valentino Rossi

NH69: "Absolutamente, no bom sentido claro. Eu tenho uma tonelada de admiração e respeito por Valentino Rossi, como sabem. Ele é o único, na minha opinião, que tem feito mais na nossa geração pelo MotoGP, e colocá-lo ao nível do que merece. Então, ter sido o piloto que o bateu naquele ano - não foi fácil, eu tive um par de pausas, mas consegui seguir o meu caminho. E ser capaz de vencê-lo, tornou-se para mim muito especial. "


A queda no Estoril

que quase comprometeu o título

NH69: "Nesse instante, em Portugal quando estava na gravilha o pensamento que tinha de ser Campeão do Mundo parece ter escorregado pelas minhas mãos. Nunca sabemos quando voltamos a ter outra oportunidade na vida, mas parei depois da corrida, e talvez uma hora depois já estava com o meu pensamos na corrida de Valência. Olhei para os pontos, e percebi que ainda tinha uma hipótese.

Sei que Valência é uma pista pequena, muitos andam rápido lá, mas talvez não fosse a melhor pista para Valentino naquela época. E por mais louco que pareça continuei a acreditar que ainda ia ser Campeão do Mundo. Ia para a última corrida com 11 pontos a menos que o maior piloto de todos os tempos, com todos as puxarem por ele e um ombro ferido.

Sorri no pódio e ao ver os fogos de artifício amarelos, senti que naquele momento revivi toda a minha vida, mas que era uma vitória não só para mim. Senti que eu e toda a minha família tínhamos ganho aquele título, os meus pais, as minhas irmãs e os meus irmãos, sacrificaram tanta coisa para me dar aquela oportunidade".


ATÉ SEMPRE CAMPEÃO!


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