COMPARATIVO SUV 4x4 | O recente Seat Ateca enfrenta o Nissan Qashqai, Hyundai Tucson e Kia Sportage, alguns dos SUV mais procurados no mercado. Parecidos por dentro e por fora, com caixa manual e transmissão integral, e potências até aos 150 cv, são um compromisso interessante para o quotidiano e para passar com a família umas férias de sonho.
Mike Rodman
Os veículos de todo-terreno seguem e continuarão como tudo indica, por muito tempo no topo das preferências. A evolução da espécie, processou-se na última década com modelos de dimensão média, como os protagonistas deste comparativo, que reúnem sobre a mesma carroçaria a versatilidade de um monovolume, a polivalência de um familiar e o toque de aventura que permite aos proprietários chegarem a locais, aparentemente inacessíveis.
No entanto, não deixa de ser curioso saber que a grande dos SUV adquiridos são de tração dianteira, parecendo bastante improvável que consigam sair de situações complicadas e onde se precise de uma elevada dose de aderência.
Claro que, para mostrar aos amigos serve, mas para nos tirar de situações complicadas… nem por isso.
Alguns erros habituais do comprador inexperiente é pensar que a tração total num SUV, somente serve para o todo-terreno, que um diesel é sempre a opção mais recomendável, que as caixas automáticas são uma chatice ou até que um par de pneus novos deve ser colocado no eixo dianteiro e deslocados os gastos para a traseira. E, também, nem sempre os motores mais potentes são os mais adequados.
Mas, muitas são as ocasiões em que estes mitos urbanos não se ajustam às necessidades, como acontece no caso da tração total. Se não quer subir a montanha para ir esquiar carregado com as antipáticas correntes de neve, se não deseja andar debaixo de uma inesperada chuva torrencial num asfalto escorregadio e abandonado à sua sorte, e mesmo, se não quer ficar ‘preso’ durante horas numa trilha lamacenta da propriedade de um amigo e ser a ‘anedota’ dessa semana, a melhor solução é adquiri um SUV com tração integral às 4 rodas.
É por hábito uma tecnologia que oferece muito, em troca de um investimento médio muito aceitável e na maior parte dos casos vai pouco mais além do 2.500 – 3.000 euros. E, estando a falar de modelos com um preço médio de 30.000 euros, essa opção faz sentido. Além disso, as inúmeras combinações mecânicas disponíveis abrem um mundo imenso de possibilidades de passar com êxito em qualquer caminho...
Para este comparativo, elegemos quatro modelos SUV com motor a diesel entre 130 e 150 cavalos muito procurados, com uma adequada relação entre performances e consumos, e todos com caixa manual de 6 velocidades e tração total. Encontrar-mos entre eles o vencedor, é o nosso desafio, e por isso vamos analisar um a um os nossos protagonistas.
A "ARMADA COREANA" VENCE EM TECNOLOGIA E DESIGN
À partida, o tamanho exterior marca a primeira diferença entre os restantes e o par de carros coreanos que, gradualmente, foi ganhando a confiança do público, apoiada por tecnologia, qualidade e design que nos entram pelos olhos em direção ao coração. O Tucson e Sportage, são cerca de 10 centímetros mais compridos e contam com 3 centimetros mais na distância entre os eixos. São também mais altos e mais largos, diferenças suficientes para que com uma fita métrica na mão venhamos a descobrir habitáculos tão generosos que poderiam passar por um sedan de grande tamanho.
Surpreendente é sem duvida o aproveitamento do espaço realizado pelos engenheiros da Seat num modelo claramente mais pequeno – 12 centímetros mais curto que o Sportage - mas especialmente generoso no espaço interior. No Ateca percebe-se que não se respira a amplitude que se aprecia no Tucson e Sportage, mas o carro é muito maior por dentro do que a impressão que dá por fora e traz muitas vantagens e poucos inconvenientes.
No meio destas duas opções encontramos um Qashqai com um interior no qual o fabricante podia ter ganhos mais alguns centímetros, e ao não fazê-lo fica um pouco penalizado a este respeito, especialmente no espaço para as pernas à frente dos bancos traseiros.
Nesse ponto, o Qashqai é seis centímetros inferior a qualquer de seus três rivais, e também oferece menos espaço livre desde o assento ao tejadilho, embora um adulto com 1,86 metros de altura não vá roçar com a cabeça no tecto. Um ponto onde a Nissan trabalhou bem foi a reduzir as medidas do túnel central, 17 centímetros de largura por 17 de altura, um tamanho que vai agradecer o quinto passageiro que para além disso fica um pouco mais distante dos apoios de braços centrais do lugares dianteiros.
Mas ao abrir o porta-bagagens voltamos a encontrar significativos contrastes proporcionados pela diferença de tamanhos dentro do mesmo segmento. O Ateca de série, e o Sportage, a título opcional, contam com uma porta traseira ‘mãos livres’, um equipamento muito prático, não obstante no caso da Kia fazer parte de ‘pack’ que custa cerca de 1.700 euros. No entanto, abrindo a quinta porta do Sportage, este surpreende com 503 litros de espaço para bagagem, incluindo uma roda de emergência e um piso que pode ser colocado a duas alturas, para se ganhar algum espaço ou ocultar parte da bagagem.
O Hyundai Tucson também fornece um espaço muito interessante, 488 litros, e com uma vantagem adicional: a roda sobressalente é do mesmo tamanho que as outras, algo que é cada vez mais difícil de encontrar entre os novos SUV.
Já o novo Seat Ateca, apesar de reduzir o espaço de 510 para 485 litros para deixar espaço para o sistema Haldex de tração total (4WD), fica próximo dos grandes em tamanho na sua zona de carga; com a vantagem de trazer de série um kit de reparação em vez da roda sobressalente, consegue assim oferecer mais espaço para bagagem. Enquanto isto o Qashqai fica-se por uns modestos 430 litros, ainda que apresentando uma altura máxima na zona de carga de 1,400 milímetros, a maior deste quarteto SUV.
Tem também um fundo duplo e ao rebaterem-se os encostos dos lugares traseiros mostra uma superfície muito plana, algo que também sucede nos dois modelos coreanos.
Tanto o Tucson como o Sportage estão num ótimo nível em termos de qualidade de fabrico e acabamentos, ainda que fiquem um ligeiro passo atrás dos rivais Seat e Nissan se fizermos uma apreciação global à qualidade, aspecto onde o Ateca e Qashqai têm a lição bem estudada e não falham.
INTERIOR E EQUIPAMENTO DO HYUNDAI TUCSON
INTERIOR E EQUIPAMENTO DO KIA SPORTAGE
A ROLAR NOS PIORES CAMINHOS O ATECA LEVA A TAÇA
O Ateca e o Qashqai foram superados pelo Tucson e Sportage no momento em que avaliámos o espaço disponível, mas vigam-se destes nos resultados obtidos em marcha, no comportamento dinâmico. E não porque o par de coreanos ai vá mal, mas porque o Nissan, e principalmente o Seat se comportem muito melhor. E não faltam surpresas, visto que toda a gama Tucson e Sportage - esteja ou não equipada com o sistema de tração integral - apresenta de série uma suspensão traseira de eixos multibraço, enquanto no caso do Qashqai e Ateca este sistema apenas é apresentado nas versões de tração integral – os tração dianteira utilizam um sistema de suspensão muito mais simples e menos capaz em todo o tipo de terrenos.
Isto significa que os 4 SUV’s deste comparativo contam com uma base ideal para obter bons resultados. Os dois modelos coreanos mostram um comportamento dinâmico que prima pelo conforto, pela suavidade e por um amortecimento macio, que transmite tranquilidade e sossego. Conduzi-los é muito agradável e, em termos gerais, não demonstram sinal de perda, mesmo quando aumentamos ligeiramente o ritmo, entre outras coisas, porque a tração total começa a trabalhar a fundo falte ou não a aderência.
O sistema utilizado nos dois coreanos foi desenvolvido pela WIA (Grupo Hyundai) e Magna, permitindo que se comportem como um 4x2 em condições normais de condução e tenham benefícios nos consumos, permitindo que se envie mais ou menos binário para o eixo traseiro em função dos sinais enviados para a unidade de comando central (UEC) a partir dos sensores do ABS, do pedal do acelerador, da carga do motor, do sensor de rotação da direcção e da marcha que engrenamos.
SEAT E NISSAN SÃO OS MAIS REQUINTADOS
Até aqui podemos dizer que os 4 SUV’s revelam um comportamento requintado, marcado por eficiência e nobreza. Porém, as diferenças aumentam à medida que se carrega mais o acelerador ou quando se torna mais precária a aderência no solo. É neste ponto que emerge o bom acerto dos chassis do Qashqai e Ateca, pronunciando as diferenças.
Aparentemente o nosso Qashqai não esteve muito bem, com um tacto e aprumo muito variável por causa do sistema 'Chassis Control', que requer um período de adaptação, ainda que, em teoria devesse funcionar de forma quase impercetível.
Este sistema analisa a estrada através de uma câmara frontal e neutraliza os movimentos da carroçaria causados por irregularidades do piso, mediante uma travagem seletiva nas quatro rodas - atuação que se a inicio não percebermos nos vais deixar algo apreensivos. Fora esta sensação inicial, o japonês fabricado no Reino Unido é eficaz e divertido, embora mostre uma tendência para subviragem quando aplicamos uma condução mais agressiva.
Ou seja. Se quisermos andar depressa em zonas mais complicadas de piso o Qashqai requer ‘mãos’ e atenção redobrada.
Isto ocorre sobretudo quando o botão que conecta a tração total está no modo 2WD (de tração dianteira) e quando estamos no modo ‘Auto', que em zonas de piso degradado tarda a reagir. A solução ideal é colocar-se o modo ‘Lock’ que reparte o binário por ambos os eixos em 50% - sempre a velocidade não superiores a 50 km / h.
No pior piso, o nosso grande vencedor é, sem dúvida, o Seat Ateca. Ao invés da versão de tração dianteira, com uma barra de torsão no eixo traseiro – uma solução mais simples e menos eficaz – o Ateca 4x4 com a suspensão traseira de eixos multibraços passa melhor que os seus. Mas, porque razão o Seat ataca melhor o mau piso se na prática emprega o mesmo sistema de suspensão dos outros três SUV’s? A resposta é simples. Para começar o 4x4 espanhol pesa entre 40 e 114 quilos a menos, o que o converte num carro mais ágil e com menos inércias. Além disso, o chassis foi ajustado às novas necessidades pelo Centro Técnico em Martorell da marca, partindo o engenheiros da base da plataforma MQB A1, a mesma do Leon, do Golf ou do A3; e por último o sistema de tração total do Ateca, com o Haldex de quinta geração assegura eficácia quando as coisas no terreno se complicam.
A isto soma-se o 'Driving Experience' de série no modelo espanhola que permite selecionar os modos oferecidos no “Seat Drive Profile”: Normal, Sport (que coloca a direção mais firme e o acelerador mais sensível), Eco e Individual.
Também ao colocar-se ativa a tração total se deve escolher entre um de dois modo: 'off road' e neve. O resultado de toda essa combinação de vantagens, às quais devemos somar uns pneumáticos na medida 225/45 R19, é ficar-se com o melhor desempenho de sempre nas opções do segmento dos SUV compactos, com o conforto esperado mas também a agilidade própria de um GTI em curva, sem balanceamos excessivos nem outros maus modos.
O Ateca progride tão bem que nem se queixa da ausência de umas rodas mais desportivas ou de uma suspensão regulável, opções que só vão estar disponíveis com a chegada das versões FR dentro de seis meses.
INTERIOR E EQUIPAMENTO DO SEAT ATECA
No interior, encontramos estilos diferentes, mas todos têm em comum a consola com tela sensível ao toque. O Ateca fornece o motor mais poderoso do quarteto deste comparativo. Trata-se de um TDI de dois litros de cilindrada e com 150 cv que sem ser o melhor da sua classe consegue impor-se em aceleração aos seus rivais. O peso tem muito a ver com este resultado, mas também os cavalos extras, especialmente em relação ao Qashqai. O Nissan com 20 cavalos a menos e uma cilindrada muito inferior é o mais lento do grupo em aceleração, ainda que seja capaz de cobrir as exigências dos utilizadores que não procurem performances mas sim polivalência.
Por seu turno, os dois SUV’s coreanos estão situados num nível intermédio, mas com números interessantíssimos, tendo em conta o seu peso superior e os 14 cv a menos que o Ateca. No entanto, não devemos esquecer o seguinte: sem dúvida o silencioso e muito agradável motor Diesel 2.0 CRDI projetado e desenvolvido na Coreia do Sul tem 38 mkg de binário, o valor maior alto do comparativo e suficiente para os dois modelos asiáticos equilibrarem o prato da balança para os seus rivais em termos dos tempos de recuperação.
INTERIOR E EQUIPAMENTO DO NISSAN QASHQAI
O QASHQAI É O VENCEDOR EM AUTONOMIA
Neste factor, de autonomia, o Ateca poderia fazer melhor figura, se no desenvolvimento em Martorell não se focassem em garantir os melhores consumos e emissões. O modelo espanhol atinge esse objetivo dos engenheiros, mas a sexta velocidade nem sempre se consegue manter engrenada respeitando os limites de velocidade e, diante de uma subida algo íngreme temos que aplicar uma redução de imediato. É muito fácil como passar do modo Eco para o modo Sport para amenizar essa sensação com uma pressão mais imediata no acelerador e uma resposta de direção um pouco mais firme. O Ateca tem respostas para tudo.
Subir de 7,0 l / 100 km em qualquer um dos quatro modelos e em velocidade normal e carga, torna-se complicado, pelo que se pode dizer que, ainda que o consumo médio obtido nos ensaios em utilização real exceda quase meio litro os valores declarados para os quatro carros, a passagem pelo posto de abastecimento não tira o sono aos utilizadores.
E um ponto a favor dos que mais odeiam parar com frequência para reabastecer: no depósito de de combustível do Ateca cabem 10 litros menos do que no Qashqai e 7 litros menos do que no Hyundai e Kia. Ou seja, o depósito do Nissan Qashqai permite alcançar uma autonomia média de 1.000 quilómetros enquanto o Seat Ateca se fica por 860 km. Curiosamente, tanto o Hyundai Tucson como o Kia Sportage não têm o sistema 'Stop / Start' que faz parte das características do Ateca e Qashqai.
Na média dos consumos urbanos, os 4 SUV’s estão separados por apenas três décimos nos resultados, o que é de todo insignificante.
O Qashqai que testámos é o mais caro, mas o seu acabamento Black Edition justifica o preço. Também devemos salientar os 7 anos de garantia da Kia, sem concorrência no mercado; o prazer de conduzir o Tucson e Sportage.
Mas o Seat Ateca impõe-se a todos, porque é o mais conseguido a nível geral. Em qualquer caso, ninguém se vai enganar se escolher para colocar na garagem um destes quatro modelos, todos com o sistema de tração integral.
CONCLUSÃO
No início de junho, quando conduzimos pela primeira vez o Ateca, antecipamos que, se houvesse um modelo que poderia destronar o Nissan Qashqai esse seria possivelmente o Ateca. Mas levará tempo. O modelo japonês segue num andamento no mercado imparável e além disso, face ao nível de qualidade oferecido, o preço do Qashqai com tração integral é deveras interessante, sobretudo se o compararmos com o valor dos dois coreanos com equipamento equivalente.
Tanto o Hyundai Tucson como o Kia Sportage penalizam nos preços, estando acima dos 40.000 euros e sem disporem dos sistemas Start&Stop (sempre muito uteis no pára-arranca citadino) que encontramos no Ateca e Qashqai.
Em resumo, todos eles são boas opções, versáteis na utilização e que chegam sem problemas a um trilho fora de estrada.
SEAT ATECA 2.0 TDI 4DRIVE 4X4
Motor | Diesel 2.0 TDI
Potência máxima (cv) | 150 cv
Transmissão | Caixa manual de 6 velocidades
Preço em Portugal
37.511 €
NISSAN QASHQAI 1.6 dCi 4X4
Motor | Diesel 1.6 dCi
Potência máxima (cv) | 130 cv
Transmissão | Caixa manual de 6 velocidades
Preço em Portugal
34.325 €
HYUNDAI TUCSON 2.0 CRDI EXECUTIVE 4X4
Motor | Diesel 2.0 CRDI
Potência máxima (cv) | 136 cv
Transmissão | Caixa manual de 6 velocidades
Preço em Portugal
43.320 €
KIA SPORTAGE 2.0 CRDI 4X4
Motor | Diesel 2.0 CRDI
Potência máxima (cv) | 136 cv
Transmissão | Caixa manual de 6 velocidades
Preço em Portugal
40.381 €