BMW R 1200 GS RALLY | Los Monegros é uma área semidesértica, onde em meados dos anos oitenta se começou a organizar uma competição que tentava transportar a filosofia e a dureza da Baja California para um cenário europeu. Fomos conhecê-los a bordo da nova BMW R 1200 GS Ride.
Situada 25 quilómetros ao sul de Huesca, em Espanha, foi o local escolhido pela BMW para nos dar a oportunidade de experimentar fora do asfalto a versão Rallye, que é a versão base mas com o ‘pack’ denominado Ride, da nova R 1200 GS.
Estávamos cercados por campos de culturas, mas a pista principal permanecia sempre difícil e empoeirada. Ride é uma denominação específica para diferenciar-se da versão Rallye, sendo esse último o apelido desta GS "off-road" no resto da Europa – inclusive Portugal. Certamente, alguns de vós já conheceram o deserto de Los Monegros, uma região da comunidade autónoma de Aragão, cujas terras, pela sua natureza, são as que podemos encontrar na Europa mais parecidas com África. Em Los Monegros disputa-se a Baja Aragón, anteriormente designada Baja Montesblancos, no tempo em que a prova saia do casino desta localidade.
Nestes trilhos, que para além de nos trazerem à memória a mítica corrida que nos últimos anos voltou a ganhar protagonismo, nunca ganhou uma BMW Boxer, embora Hubert Auriol, que venceu o Paris-Dakar em 1981 e 1983, o tentou, precisamente em 1983, depois de vencer o ‘Dakar’ e subir ao pódio no lago Rosa. Mas, embora nunca aqui tenha vencido esta baja um motor boxer, historicamente este foi o local escolhido para centenas de testes da equipa BMW. Isto vem à mente para lembrar que há mais de trinta anos as BMW GS seguem a dar luta. E sinceramente, penso que dificilmente os pioneiros das corridas africanas teriam imaginado que, no século XXI, estas motos que tiveram a sua origem no asfalto continuarem a fazer respeitar esta sigla GS, correspondente a "Gelände Strasse", campo e estrada, em alemão.
A GS é hoje um ícone, uma referência e que enfrenta com sucesso um mercado muito competitivo, com modelos como a recente África Twin de cilindros paralelos da Honda, a gama Adventure da KTM, a Super Ténéré da Yamaha ou mais recente e exclusiva Ducati Multistrada Enduro.
Off-Road
A intenção de BMW com este teste que fizemos em Los Monegros, depois de apresentar a sua gama GS no início deste ano, foi demonstrar-nos aqui que a GS continua a ser um elemento muito válido fora do asfalto. E eles estavam certos, ainda que estejamos a falar de uma moto com 250 kg e bastante volumosa.
Mas o curioso e o que distingue a família GS, é precisamente, que apesar de seu tamanho e peso, é uma moto fácil de manusear, basicamente porque conta com um centro de gravidade baixo. Nada de novo sob o sol. A BMW R 1200 GS vem em duas variedades: a versão Exclusive e esta Ride, denominada Rally no resto da Europa. A primeira é mais elegante e a Ride uma verdadeira off-road, do meu ponto de vista.
Como não poderia deixar de ser, monta o incombustível e renovado motor boxer de +ultima geração (refrigeração líquida) de 1.170cc., cuja primeira versão apareceu em 2013. Apresneta-se carregado de eletrónica (modos Rain e Road), para além do modo opcional Pro: Dynamic Pro, Enduro Pro. A versão Ride (ou Rally) é servida de série com ABS, sistema ASC e os dois modos de condução acima referidos. O modo Pro montado na nossa unidade de teste é opcional. Inclui os modos adicionais Enduro e Enduro Pro, com opções Enduro ABS e Enduro ASC. Com este último modo, o controle de tração atua de forma muito subtil e é interessante, uma vez que não perdes a a possibilidade de poder deslizar a roda traseira, o que é uma sensação sempre apreciado em condução fora de estrada, para não dizer essencial... No que respeita ao ABS, a sua atua desaparece na roda traseira e só atua na dianteira.
O quadro tubular é também uma herança de 2013, com uma suspensões que originalmente têm 190 milímetros e 200 mm de curso, a mesma medida da versão base, mas que podem, opcionalmente, subir para 210 milímetros à frente e para 220 mm atrás, o que também pressupõe uma ligeira mudança nas geometrias do avanço da direção que passa a ser de 95 mm em vez dos habituais 99,6 mm.
As rodas da Ride (ou Rally) são de 19 " na dianteira e 17" atrás, mas nesta versão, ao contrário das restantes, as jantes são de raios e os pneus montados de tacos Continental TKC 80, claramente mais adequado para o uso off-road que os TKC 70. Porém, para estas ‘borrachas’ de genuíno Off-Road, deixo-te um aviso, uma vez que no asfalto não é recomendado exceder os 160 km/h. A pensar no pó e na lama, vemos alguns pormenores específicos desta versão, como sejam as proteções do quadro e radiador (aço), o ‘assistente’ da caixa de velocidades (opcional), que te permite mudar uma velocidade sem usar a embraiagem e o sistema de arranque em inclinação, que facilita o arranque numa subida.
Em condução
A jornada apresentava-se interessante: um grupo de jornalistas com mais ou menos experiência em off-road, todos nestas belas GS versão Ride. Alguns iriam desfrutar mais do que outros e todos iriamos apanhar muito pó, mas, entre outras conclusões, apesar das nossas diferenças de experiencia todos nós nos sentimos confortáveis sobre esta versão da GS versão, sobre as suas ajudas eletrónicas (que têm de se pagas!) e sobre os pneus de tacos.
A posição de condução das unidades que experimentámos em Los Monegros tinham o guiador ligeiramente avançado, para podermos estar mais cómodos em pé sobre uns estribos que nesta versão são maiores e dentados. A verdade é que pelo facto de serem mais largos é muito prático, pois não devemos esquecer que neste tipo de moto o melhor é conduzir de pé, para curvar, ajuda-nos pressionar a peseira exterior. Isto significa que tens que ‘trabalhar’ com as pernas.
O assento é mais estreito e plano, o que facilita a posição durante a condução fora de estrada. Outro aspecto importante é que o pára-brisas é ajustável manualmente e, na sua posição mais baixa, fica mais adequado ao off-road. Ao incorporar suporte para GPS, a visão no painel de instrumentos é mais limitada.
A última versão do indestrutível motor boxer ‘liquido’ mantém a suavidade e generosa dose de binário motor habitual, mas também ganhou em suavidade e foram minimizadas as vibrações.
Numa GS mais do que em qualquer outra trail não deves tirar os pés dos estribos, sobre a ‘ameaça’ de bateres nos cilindros e ficares com umas nódoas negras nas pernas. Além disso, de pouco te valerá essa atitude uma vez que será difícil sair de uma situação delicada com os pés fora dos estribos devido ao tamanho e peso da GS. A melhor forma de condução é ‘conduzir’ com as pernas de pé e inclinares-te sobre o acelerador e apoiares-te no punho do acelerador, porque a resposta do motor é extremamente generosa e com muito bom ‘tacto’ a baixas rotações... Um enorme prazer!
Logo a partir de apenas 1.500 rpm o boxer começa a responder, move-se bem entre as 3.000 e 4.000 rpm, e se quiseres experimentar sensações fortes, podes ‘esticá-lo’ à saída de curvas até às 8.500 rpm. Uma delícia! Macio, elástico e com muita precisão a partir do punho do acelerador.
A suspensão dianteira conserva o sistema Telelever, que tem as suas limitações e me parece menos sensível do que uma forquilha convencional.
Conforto e suavidade... muita!
O sistema Dynamic é capaz de interpretar em tempo real o teu estilo de condução e ler o terreno, entre outros parâmetros. A verdade é que sobre a Ride (ou Rally) a condução sobre todo o tipos de pistas ou caminhos - como os que encontrámos em Los Monegros - é fácil e agradável, assumindo (insisto) o seu peso e volume. Até porque os seus 125 cv são uma cifra considerável para um condutor inexperiente que está longe do asfalto. O motor gira bem em baixa velocidade, suportada pelo poderoso torque do boxer e transmite confiança a velocidades altas em boas pistas de terra. Em terreno sinuoso ou rochoso, o curso da suspensão, a posição de condução e os pneus TKC 80 Continental tornam o que é difícil em fácil. Um aspecto importante a considerar é que o TKC 80 Continental no asfalto requer alguma prudência, especialmente no início, sendo recomendável tirar-lhes um pouco de ar.
Na Ride ou Rally, os valores de binário do boxer e ajudas electrónicas, sendo uma moto que, logicamente, por peso e volume tem muita inércia, permitem-te apreciar bem a condução off-road mesmo sem ter muita experiência nesta matéria. Bastante melhor e mais confortável nesta versão com pneus de tacos que numa GS com pneus mistos. E para os mais experientes, esta versão é a melhor para tirarem uma semana de férias e virem conhecer com a GS boxer o cenário inconfundível de Los Monegros onde, inclusive, foram filmados alguns clássicos do Western… Altamente recomendado!
Ficha Técnica
Motor
Tipo Motor boxer bicilíndrico a quatro tempos de refrigeração ar/líquido, com duas árvores de cames helicoidais à cabeça e um veio de equilíbrio
Diâmetro x curso 101 mm x 73 mm
Cilindrada 1,170 cc
Potência máx. 125 cv (92 kW) às 7.750 rpm
Binário max. 125 Nm às 6.500 rpm
Taxa de compressão 12.5 : 1
Gestão do motor Injeção eletrónica
Controlo da emissão de gases Conversor catalítico de 3 vias, compatível com a norma de emissões EU-4
Prestações / Consumo
Velocidade máxima mais de 200 km/h
Combustível Gasolina sem chumbo, teor mínimo de octanas 95 (RON)
Sistema elétrico
Alternador Trifásico de 510 W (potência nominal)
Bateria 12 V/11,8 Ah, sem manutenção
Transmissão
Embraiagem Multidisco em banho de óleo, acionada hidraulicamente
Caixa de velocidades Seis velocidades com veio de sincronização
Transmissão secundária Cardan
Ciclística / travões
Quadro Conceito de quadro bipartido com secção principal e com a traseira aparafusada, motor autoportante
Suspensão dianteira Telelever BMW Motorrad, diâmetro das bainhas 37 mm, amortecedor central
Suspensão traseira Monobraço oscilante em alumínio fundido com Paralever BMW Motorrad; amortecedor WAD (amortecimento dependente do curso), afinação hidráulica contínua da pré-carga da mola por manípulo, afinação da expansão por manípulo
Curso da suspensão dianteira / traseira 190 mm / 200 mm
Distância entre eixos 1.507 mm
Avanço 99.6 mm
Ângulo da coluna de direção 64.5°
Jantes Alumínio fundido
Jante dianteira 3,00 x 19"
Jante traseira 4,50 x 17"
Pneu dianteiro 120/70 R 19
Pneu traseiro 170/60 R 17
Travão dianteiro Dois discos flutuantes, diâmetro de 305 mm, pinças radiais de quatro êmbolos
Travão traseiro Disco simples, diâmetro de 276 mm, pinça flutuante de êmbolo duplo
ABS ABS Integral BMW Motorrad (parcial-integral, pode ser desligado)
Dimensões / pesos
Comprimento 2.207 mm
Largura (com espelhos) 952,5 mm
Altura (sem espelhos) 1.412 mm
Altura do banco, peso sem carga 850/870 mm (com suspensão rebaixada* 800/820 mm) *EO
Arco interior das pernas, peso sem carga 1870/1910 mm (altura do banco baixo* 1750/1790 mm) *EO
Peso sem carga, com meios de funcionamento, depósito cheio 1) 1) 244 kg
Peso total permitido 460 kg
Carga máxima (com equipamento de série) 216 kg
Capacidade do depósito 20 l
Reserva aprox. 4 l
Nota; as dimensões relevantes referem-se à posição de vazio da norma Europeia