16 de fev. de 20183 min para ler

HYUNDAI i30N | Bomba coreana de 275 CV

Uma bomba N, ou uma bomba de neutrões, é uma arma nuclear tática. E vinda da Coreia (do Sul) é fácil pensar-se no Hyundai i30 N, versão musculada do compacto coreano que, com um temperamental motor de 4 cilindros turbo e um dinâmico chassis concorre com outras estrelas do género.

Basicamente, o i30 N é um primeiro passo, muito ambicioso, no mundo desportivo dos compactos Peugeot 308 GTi , Seat Leon Cupra e Honda Civic Type. A chegada do novo Renault Megane R.S., veio complicar ainda mais a tarefa da Hyundai, até agora desconhecida neste nicho.

O recém-chegado hatchback encontra inspiração no compromisso da Hyundai com o WRC. O distintivo N, uma alusão ao centro de produção de Namyang, na Coreia do Sul, também é encontrado nos i20 de Rallye.

Para incrementar o pedigree o i30 N conta com rodas de 19 polegadas, travões de grande tamanho, alguns elementos aerodinâmicos e duas boas saídas de escape. Mas sem a pintura azul e os pormenores vermelhos, passaria discreto ao olhar. Já no interior é um carro bastante mais discreto, sobressaindo como conteúdo desportivo os assentos em estilo bacquet e as patilhas ao volante. De resto, é quase idêntico a qualquer i30 normal, muito clássico ou mesmo um pouco triste, bem construído mas sem fantasia.

No seu género hatchback compacto não faz muita inveja aos seus rivais europeus. No papel, os seus 275 cv são suficientes para o colocar lado a lado com os seus rivais (270 cv para o 308 GTi, 280 cv para o Mégane R.S.), sendo apenas superado pelo Leon Cupra (300 cv) e Civic Type R também (320 cv), mas este último é bastante mais caro.

Espirito de Rallye

Posto a funcionar facilmente percebemos que algo de diferente tem este quatro cilindros coreano, que ruge e respira com maior expressão do que o 1.6 de um 308 GTi ou o 2 litros de um Leon Cupra. Sobe com vigor nas rotações (para um turbo é claro!), e desfruta de uma caixa bem escalonada, com passagens firmes e precisas.

De qualquer forma, é bastante mais agradável do que os dois europeus acima mencionados: tem um pouco de Mazda e tem um pouco de Honda, ou pelo menos foi essa a sensação que me deu nos primeiros metros.

É um pouco perturbador para os tímpanos, sobretudo quando desembraiamos e damos um toque de acelerador, mas ao engrenar nova mudança e afundando o pedal do acelerador… dispara literalmente. O espírito de Rallye está bem presente, não será muito útil no quotidiano mas rodando numa zona montanhosa torna-se por demais apetecível… e faz sorrir quem o leva!

Comparando o i30N com um i30 convencional, todo o equipamento de rolamento foi revisto e estrutura ficou mais rígida. Menos a favor é o seu peso (1.429 kg a seco) porque com a repetição continua de travagens intensas, os travões perdem alguma eficácia, assim como os consumos que rapidamente subiram para 15 l / 100 km no nosso teste.

Ágil e temperamental

De resto, tudo é firme no i30N, configurável de acordo com diversos parâmetros estabelecidos ao nível da direção e amortecimento, assim como para a gestão do motor. Passar-se de uma firmeza aceitável para um ‘amortecimento do tipo pedra’ para remover os medos, por si só não basta para tornar este Hyundai numa bala nervosa delirante.

O que é certo é que se mostra em matéria de motricidade, imperturbável, parece que rolamos sobre carris, sendo praticamente impossível prever uma perda de aderência no trem traseiro. Exceto nos pisos em muito mau estado, e colocado no modo N (o mais elevado) os seus saltos afetam a estabilidade e a aderência da frente, especialmente se o piso estiver húmido.

Para alguns, isto pode parecer complicado, mas pelo menos a tomada de contacto com o i30N é extremamente fácil e sabemos tudo o que se passa exatamente sob as rodas. Para uma direção assistida, o feedback da informação é adequado e propício para apreciar a excelente aderência dos Pirelli P Zero e o trabalho de autobloqueio. Mais eficaz, especialmente nas duas funções mais desportivas. O i30N trava forte, cobrando muito bem o binário elevado que salta para as suas ‘4 patas’ (353 Nm a 2.000 rpm).

Pouco importa que este Hyundai não seja especialmente o melhor ‘performer‘ do seu pequeno mundo, a julgar apenas pelos seus tempos brutos (6.1s de 0 a 100 km/h), o que mais interessa é que a sua agilidade, equilíbrio fácil, controles precisos e temperamento do turbo de 2 litros, o aproximam bastante das sensações mais puras que se sentem num carro de rali.