Existirá um antes e depois da Ducati Panigale V4? Foi o que fomos saber ao circuito de Cheste, em Valência, onde efectuámos o primeiro contato com esta fera na sua versão S.
Para muitos, uma Ducati é vermelha (em geral), tem um quadro tubular (cada vez menos) e, mais importante, conta com um famoso Twin "L" com válvulas desmodrómicas criado pelo lendário engenheiro Taglioni. Foi com esta trilogia mágica, que o fabricante de Bolonha realmente construiu um sucesso irresistível no mundial de Superbike, com pelo menos 14 títulos de pilotos e 17 títulos de construtores.
No entanto, o fim do bicilindrico foi anunciado, vergado aos golpes de uma concorrência cada vez melhor armada na competição e que escreve cada vez melhor sobre linhas tortas: sempre com mais potência, velocidade, agilidade, controle... 2018, sem dúvida, fica como um importante marco histórico para a marca de Bolonha, o fim de uma era mágica escrita pela Ducati desde 1993 (apresentação das 916 e os memoráveis êxitos do “King” Carl Fogarty) até aos anos de 2007 (um título mundial único no MotoGP, até à data ) e a um vice-campeonato do mundo em 2017… já com uma Ducati da nova era… V4!
Hoje, no circuito espanhol Ricardo Tormo de Cheste, Valência, o fabricante convidou-me a testar a nova Ducati Panigale V4 S, a sua primeira moto de grande série de 4 cilindros (exceto, obviamente, a Ducati Desmosedici RR exclusiva e cara). Diretamente inspirada pela Desmosedici de MotoGP, esta nova V4 1100 cm3 não será aprovado para a competição, pelo menos ante da chegada da versão 1000 cm3 (em 2019, talvez ...).
Por outro lado, esta Panigale V4 promete uma "nova experiência", como se diz hoje, aos aficionados da marca, e especialmente aos amadores de desportos de exceção como o motociclismo.
Para retirar o melhor da vida…
Circuito Ricardo Tormo, perto de Valência, Espanha. Este foi o local desta apresentação para a Imprensa internacional. O construtor colocou a fasquia bem alta e no ‘espeto’ tenho a nova Panigale V4 S. Ela espera por mim na box e fico com a convicção que sou um jornalista muito sortudo por ter sido convidado para esta apresentação!
No momento de saltar para o assento, uma mistura de excitação e receio sobe à cabeça de alguns de nós. "Excitapeur", como um colega diria. Pense bem: 214 cavalos para 195 kg anunciados ... só isso! E quanto ao desenho, o lápis italiano esmerou-se, linda! O design do V4 está na continuidade do que é conhecido na Panigale 1299 V2- os pontos comuns são numerosos - mesmo se esta última cultiva sua própria identidade.
Aqui, as entradas de ar são mais consequentes (e por uma boa causa ...), afinal temo uma estrutura monocoque em vez do tradicional treliça. Mais surpreendente, os acabamentos deste novo quadro são ótimos… os Pirelli SuperCorsa SP vão certamente nos assegurar momentos muitos divertidos… a viver o melhor da vida.
As "seiscentos" são maiores!
Primeira impressão: muitas desportivas de 600 cm3 são maiores do que esta italiana. Na sela, a extrema finura de Panigale V4 distorce as referências, especialmente na virilha, onde as nossas coxas ficam quase paralelas. A arquitetura mecânica em V e a ausência de moldura perimetral, facultam uma proximidade com os elementos técnicos… é pura finesse de competição!
Na posição de condução ficamos ao mesmo nível que na 1299, porém, com o apoio para os pés situado 10 mm mais alto. Em suma, uma posição extrema, mais cansativa para a estrada mas perfeita para o circuito.
O som rouco emitido pela Panigale V4 lembra, curiosamente, a sua irmã V2. Surpreendente a priori, mas nem tanto, se considerarmos a configuração da cambota (que também gira em direção oposta à direção que rola a moto), a ignição de cada cilindro desfazada em 90 graus por comparação com as suas rivais. O motor está quente, finalmente.
Notavelmente 'racing'
Para esta primeira e curta sessão de teste com a Panigale V4 S em circuito (10 min ...), seguimos na pista atrás do piloto de desenvolvimento da marca para uma volta de reconhecimento. Não sendo dos mais rápidos, mas muito técnico, este traçado de Cheste requer um bom conhecimento para ser explorado, até porque nele, o que não faltam são curvas "cegas".
Com a primeira aceleração rápida os resultados são claros: o torque e a potência disponíveis na V4 Panigale são simplesmente incríveis! O tacómetro lança-se como um esfomeados a altas rotações, a inércia... é inexistente! Sim, eu sei, os jornalistas sempre exageram, mas acredite em mim, este V4 estava a faltar… realmente! Os golpes de acelerador a arrancar são quase assustadores, porque este novo bloco V4 é muito vivo…brilhante!
Colocada no modo Sport, a moto fica com um comportamento dócil e ajudas à condução sempre presentes. Nesta versão S as suspensões semi-ativas de Öhlins estão em sintonia com o modo de condução escolhido. Na verdade, ficam um pouco suaves nas últimas voltas, quando a confiança cresce entre nós e vamos acelerando cada vez mais a Panigale.
Já no que concerne à parte-ciclística, o habitual, a leveza e a agilidade da Ducati fazem maravilhas nas curvas. Fixamos a nossa atenção na corda da curva e a moto corre nela como sobre carris. A Panigale V4 gera confiança, é por demais estável, limpa e eficiente.
Agora que os pneus estão rodados e que a temperatura na pista subiu (assim como do condutor), vamos libertar a fera. O modo Race está inserido e portanto, o temperamento do motor é liberado, o travão-motor é reduzido ao mínimo, o controle anti-patinagem e de tração é menos intrusivo e as reações das suspensões são mais restritas. E se isto não se adequar ao seu estilo de pilotagem?
Cada um destes aspetos é personalizável. Por certo, levará algum do seu tempo, porque os menus do painel de instrumentos são bonitos, legíveis e completos, muito completos até, mas para obter um item específico às vezes requer um pouco de paciência... Prefiro não tocar em nada.
A verdadeira face do diabo
Após algumas voltas, as coisas ficam ainda mais claras. As diferenças no comportamento com o modo Race inserido são claras, tanto no chassis como no motor. O V4 mostra as suas garras em todas as fases de pilotagem. Desde logo, à saída de curva onde a Panigale se mostra muito neutra, não evitando no entanto que se acenda de forma permanente no painel o indicador do controle de tração.
Já em linha reta, a Panigale V4 acelera com uma força alucinante e, chegamos muito rapidamente ao final da curto reta do circuito, como o mostrador a indicar-me 295 km/h imediatamente antes de travar vigorosamente.
O binário disponível entre as 9.000 e 13.000 rpm permite tudo sem perder muito tempo. Felizmente, a eficácia dos Brembo (cilindro mestre e discos) é irrepreensível - caso contrário não estaria aqui para lhe contar este ensaio! No entanto, apesar do impecável poder de travagem, a mordida não está presente. De alguma forma, isto tranquiliza e evita que o ABS (que também age em curvas) suavize o comportamento da fera, evitando que uma transferência de carga seja muito violenta. Bravo!
Total controlo!
No que se refere à caixa e embraiagem, o quickshifter "para cima e para baixo" faz o trabalho, mesmo que às vezes o "up" demore algum tempo para libertar a potência quando a moto tem um pouco de ângulo, como se os chips verificassem todos os parâmetros antes de abrirem as válvulas. Algo inconveniente em termos gerais, exceto para o cronómetro - fenómeno menos visível no modo Race.
As outras sessões na pista de Cheste permitiram aproveitar ainda mais a Panigale V4, ajustando alguns parâmetros, como as suspensões, como o anti-wheeling que evita vermos o céu às saídas de curvas, e que autoriza a aceleração fulgurante no ângulo, gastando um pouco mais o pneu traseiro – sensação tão agradável como o Slide Control que permite uma pequena deriva na aceleração da roda traseira. Nesta configuração ‘à la carte’ que escolhi, a V4 S torna-se uma bola de fogo.
Equipada com a linha de titânio Akrapovic completa, o filtro de ar e o mapeamento adaptado do motor, para não mencionar as jantes Marchesini, a Ducati Panigale V4 perde "peso” (7 kg!) e ganha potência, 12 cv, que adicionados aos da versão base (214 cv) desta Ducati, dá qualquer coisa como 226 cv. para 188 kg!!! Glup!!!.
Conclusão
Para tentar os motociclista são constantemente criados novos limites que, invariavelmente são superados a cada novo modelo que chega ao mercado. E com isto, também aumenta o desafio para o ser humanos.
A nova Panigale V4 S é mais um destes casos mas, devo confessar, desta vez, as coisas são ligeiramente diferentes, porque o desafio para o ser humano aligeirou-se com tantas ajudas eletrónicas. O mais supreeendente, é que todas essas ajudas não nos retiram sensações, elas seguem extremas na pilotagem, até porque nas veias desta Panigale V4 S flui não só o sangue de Superbike, mas também o sangue de MotoGP. E isto, muda tudo... ou quase tudo.
Ducati Panigale V4
Cores: V4 e V4S: Vermelho; V4 Speciale: cor específica vermelho / branco / preto / verde
Garantia: 2 anos, peças e mão-de-obra, quilometragem ilimitada
Disponibilidade: janeiro para versões standard e S, final de março / início de abril para a V4 Speciale
Homologação: Euro 4, dois lugares
Local de fabrico: Bolonha, Itália
Objetivo de vendas em 2018: 500 unidades de todas as versões
Equipamento do condutor: Dainese Laguna Seca Evo, Dainese Torques RS, Shark Race-R Pro (capacete)