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REDAÇÃO

MOTO | "Seiscentos mil portugueses não fazem parte de gangues"


Numa entrevista publicada ontem no jornal “Diário de Notícias”, Miguel Tiago (deputado do PCP durante 13 anos na Assembleia da República) que é um dos vários políticos portugueses que andam de moto - participa com frequência em encontros de motociclistas – foi peremtório a afirmar que “os motard e os motoclubes portugueses nada têm a ver com a violência ou o crime organizado, que usa este meio de transporte para atividades ilegais”.

É habitual vê-lo chegar de capacete na mão às atividades políticas e esteve na concentração de Faro no ano passado, e considera que os Hell's Angels são uma romantização perigosa dos amantes das motas. Transcrevemos aqui na integra a sua entrevista ao DN, conduzida pela jornalista João Céu Guerra.

Como vê esta politização das motas?

"Não há uma politização propriamente dita, mas a utilização das motas e de ideologias para fingir que são de carácter político quando na verdade o que estamos a falar é de crime organizado."


Então, porquê a conotação com as motas?

"Devemos ter consciência de que não se pode generalizar e é muito incorreto penalizar a comunidade motociclista por causa de pequenos grupos de criminosos que por acaso andam de mota. Principalmente, porque isto pouco tem a ver com o espírito do motociclista. Aquilo a que chamam ideologia é apenas um pretexto para o crime organizado feito através de gangs. Vejamos de outro modo: quantos membros do crime organizado andam de carro? Muitos, e não se questiona se os automobilistas são todos criminosos. Esta tentativa de associar o crime à mota só acontece porque este grupo específico, os Hell's Angels, usam a mota como meio de transporte, portanto seria possível também dizer que os condutores de automóvel eram todos mafiosos porque a mafia russa anda de carro."

Participa de convívios entre motociclistas?

"Sim, bastantes vezes e por isso sei bem que os motards são pessoas altamente pacíficas. Basta ver as concentrações realizadas e quantas vezes houve problemas: nunca."


Vai à concentração em Faro?

"Este ano não posso ir, mas tenho ido e senti-me sempre muito tranquilo. Nessa e em todas as outras em que participo."

Qual a razão para todo este alarme em redor das motas?

"Desconheço o processo, sei que há rixas entre suspeitos de crime organizado, entre os quais o conhecido nazi-fascista-criminoso Mário Machado e que a PJ teve de intervir."


Diz-se que estes grupos são de extrema-direita. É o caso da maioria dos que frequentam estas concentrações?

"Isso é o mesmo que perguntar se são criminosos, pois para mim não há muita diferença entre ser de extrema-direita e criminoso. A política é uma desculpa para encobrir uma ideologia de práticas criminosas. Os skinheads de extrema-direita presos em Portugal nunca o foram por serem nazis mas por tráfico de armas, espancamento ou sequestro. As pessoas é que lhe chamam política, o que lhes dá um jeitão. No mundo do motociclismo isso não existe, porque ninguém se preocupa com o partido ou a ideologia do outro e ninguém usa as motas para colocar símbolos políticos."

Como caracteriza os motards portugueses?

"Essas pessoas violentas não convivem com os outros motards pacíficos. Temos uma cultura motociclista em Portugal muito forte e que estão à margem de qualquer organização política, ou de gangs dentro das motas. Ou seja, os 600 mil portugueses que andam de mota não fazem partem de gangs. Os motoclubes portugueses são de base local, estão todos registados e nem se relacionam com motoclubes como os Hell's Angels que4, aliás, não são verdadeiros motociclistas."

Os Hells Angel's não eram um mito para muitos motociclistas em vez de um gang?

"Não sei exatamente como apareceram, mas existe uma grande romantização da imagem dos motoclubes americanos que tem muito a ver com filmes. Creio que há muito tempo que alguns desses grupos que usam a mota como meio de transporte passaram a estar conotados com o crime. Uma coisa é certa, eu nunca os admirei."


A sua moto é uma Harley Davidson?

"Não, é uma Yamaha."


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