SE O QUE PROCURAS É A DEFINIÇÃO DE “EXPERIÊNCIA ÚNICA NA VIDA”, TENHO A CERTEZA DE QUE UMA VOLTA AO CIRCUITO DE GOODWOOD NAS COSTAS DE UMA DUCATI DESMOSEDICI SERÁ MAIS DO QUE SUFICIENTE…
Somas a isto um antigo piloto de MotoGP e uma grelha cheia de lendas do automobilismo e, em minha opinião, temos uma nova definição. A experiência foi um acidente de genética mais do que qualquer outra coisa. A única outra candidata voluntária da equipa da GRR não atendeu às restrições tipicamente minúsculas da moto italiana, e assim fui eu, com menos de dois meses de vida em Goodwood, que me vi a desliza dentro de um enorme fato de couro numa sufocante manhã de sábado.
Depois de ser submetida a um breve exame médico - pressão sangüínea e batimentos cardíacos, etc. - corri até a área de espera, onde o meu piloto Franco Battaini já estava montado na máquina vermelha fluorescente. Datada de 2012, esta Desmocedici GP2 foi uma competitiva moto de MotoGP, agora modificada graças a uma sub-estrutura revista e molas mais duras, para além de um assento extra atrás do piloto.
Pesa 160kg e tem 1000cc de cilindrada, alcançando os 250 cavalos de potência - cerca de 20 a 30 cavalos de potência a menos que as atuais motos de MotoGP. Battaini atribuiu isso a um redline menor, argumentando que a equipa não quis colocar regular a moto com muita força por razões de segurança, evintando-se assim que se quebre o motor durante uma volta com um passageiro!
É MUITO ESTRANHO VER ESTAS MOTOS DE MOTOGP
NUM CIRCUITO DE RUA
O traçado-espetáculo de Goodwood Hill tem apenas 1,16 milhas de comprimento, tem um terço da largura de um circuito típico do mundial e (à maneira antiga) fardos de palha a substituir as atuais barreiras de proteção. “É muito estranho ver estas motas de MotoGP nesta pequena rua numa colina, e é provavelmente difícil para o pendura entender como é durante a corrida de MotoGP”, disse-me o meu piloto, acrescentando: “Numa pista, é incrível e podes sentir como é o MotoGP - a potência do motor e a força de travagem. Mas acho que para este espetáculo é fantástico percorrer essa pequena rua, gosto muito dela". É claro que tudo isto não me tranquilizou, até porque logo no arranque o ex-piloto tratou de me demonstrar a real potência de uma moto de MotoGP 'sacando' um longo cavalo... ups!
A solução foi agarrar-me com toda a força nas pontas do depósito de alumínio, e se calhar ele até considerou que eu era uma boa 'pendura' porque ao passar pela arquibancada repetiu a 'gracinha' mas desta vez travando a fundo e erguendo a roda de trás da moto, naquilo que em linguagem das motas é uma 'égua'... e nesse ponto de equilíbrio... ri-me dentro do capacete.
AGOSTINI, SENTADO NA SUA MV AGUSTA 500,
PERGUNTOU-ME: "COMO SE SENTE? ESTÁ A TER UM BOM DIA?"
Quando chegamos à linha de partida, eu saí do meu poleiro de fibra de carbono, tomando cuidado para não pisar nos escapes de liga de titânio da Akrapovic. A atmosfera era elétrica, o ar estava pesado com o cheiro do Castrol R e a fumaça de dois tempos, enquanto dezenas de carros e motos se reuniam à frente de sua peregrinação subindo a colina. Uma sensação que nunca tinha experimentado: ver um Mercedes-Benz W125 foi seguido por um ensurdecedor Leyton House CG121 - um dos primeiros carros de Fórmula 1 de Adrian Newey, pilotado pelo próprio - seguido por uma Moto2 da Triumph a rodar ruidosamente ao lado do 1949 AJS E90S 'Porcupine' do primeiro Campeonato do Mundo de Fórmula 1.
No meio deste frenesim, conversei com Agostini, sentado na sua MV Agusta 500 vencedora do campeonato de 1965. O septuagenário agarrou a minha mão calorosamente. 'Como se sente? Está a ter um bom dia?', disse-me o 15 vezes campeão mundial, falando-me em em francês e com a maneira casual de um conhecido de longa data.
OS SUSTOS QUE BATTAINI ME PREGOU
Saindo da curva, Battaini abriu o acelerador, provocando uma reação mecânica instantânea que liberou o fogo da barriga da fera. Estávamos em números triplos antes que eu pudesse tirar a cabeça da força-G fixando-a de volta, e até olhar da esquerda para a direita era um desafio - não que isso importasse, já que o caminho era curto... felizmente!
Passando a zona do palácio, a roda da frente da Ducati Desmo levantou uma vez mais do asfalto. Eu estava preparada desta vez, mas, mesmo assim, quando a roda da frente mergulhou de volta para o chão, esse movimento fez-me voar do assento. Depois, quando entramos na Molecomb sentei-me empoleirada na protuberância de plástico que nos separava e com os pés fora dos apoios - a força do meu vício pela velocidade era a única coisa que me mantinha na moto. "Agora seria um momento muito mau para uma câimbra", sussurrou-me o diabo no meu ombro.
O medo nunca foi um fator - eu sabia o tempo todo que Franco estava em controle -, mas isso não impediu um coquetel de catecolaminas correndo pelo meu corpo enquanto eu me agarrava, literalmente, à vida! Uma breve calmaria através da infame Molecomb foi seguida por uma rápida ultrapassagem, deixando uma máquina vintage a abanar pela nossa passagem vertiginosa.
Fora da pequena chicane, Franco deu um último surto de aceleração de cair o queixo. Passou a 140 km / h ao lado da parede de pedra, a imensa força G ameaçava arrancar-me os braços do depósito e as minhas mãos suadas escorregaram dentro das luvas. Ele mal fechou o acelerador através de Carnes Seat e Birdless Grove, atingindo os 200 km/h com uma precisão que só um piloto do nível do campeonato mundial poderia possuir.E então acabou... uf!
Passamos na bandeira quadriculada só na roda de trás da moto, o meu coração bombeava adrenalina e um sorriso inextinguível tomou conta do meu rosto. A passagem por Goodwood Hill demorou menos de um minuto, mas fiquei a pensar nessa 'corrida infernal' durante o dia inteiro…