DESDE O PASSADO MÊS DE OUTUBRO, O PORTUGUÊS PEDRO LAZARINO É O DIRETOR DA OPEL EM ESPANHA E PORTUGAL. AOS 43 ANOS, ENFRENTA DESAFIOS DECISIVOS PARA VOLTAR A COLOCAR NO RUMO CERTO A NOVA OPEL E RECUPERAR PARTE DO NEGÓCIO PERDIDO PELA MARCA ALEMÃ.
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A gama tinha de atualizar-se devido às exigências em termos de emissões da velha Europa, e havia que resolver problemas históricos derivados do negócio do rent-a-car. Pedro Lazarino iniciou a sua carreira profissional na GM Portugal, e ocupou diversos cargos de grande responsabilidade, tanto em Portugal como na Alemanha, e, posteriormente, na Europa, enquanto Diretor de Vendas Europeias & Marketing Regional para a Alemanha, Itália, Espanha e Portugal. Tudo isto antes de ser, em 2018, Diretor Comercial da Opel/Vauxhall, previamente à sua nomeação enquanto Diretor da marca Opel em Espanha e Portugal.
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Acabamos de fechar um ano duro. Que balanço faz?
“2020 foi um ano muito difícil, e não só devido à COVID. Sabíamos que 2020 ia ser um ano particularmente difícil para a Opel, porque tínhamos tomado a decisão, muito necessária, de mudar completamente o nosso portfólio de produtos. Foi preciso tomar uma decisão muito difícil, de remover da nossa oferta alguns automóveis importantes para o volume de vendas, como o Karl, o Adam, o Zafira, o próprio Corsa de três portas ou o Opel Cabrio.
Quando se tem uma gama que, de um dia para o outro, é cortada, sofre-se um impacto importante em termos de quota de mercado. Além disso, enfrentámos uma alteração completa do nosso modelo de negócio relativamente às empresas de rent-a-car, tanto para Espanha como para Portugal, porque necessitamos que o volume de negócio de rent-a-car seja um volume que possamos vender logo como automóveis usados em termos de marketing.
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Tudo isto significou uma redução significativa da nossa quota de mercado, mas são decisões imprescindíveis para levar por diante um modelo de negócio sustentável, e estou muito satisfeito porque a Opel, neste momento, contribui de forma muito positiva para o tema das emissões de CO2 no seio do Grupo PSA, e, agora, dentro do grupo Stellantis. O que fizemos em termos de produto foi o mais acertado, e as alterações em termos de modelo de negócio de rent-a-car ajudaram-nos no capítulo dos automóveis usados, porque, agora, temos níveis de stock muito aceitáveis, e temos um impacto muito positivo em termos de valores residuais para a marca, porque o mercado não está saturado de automóveis usados provenientes do rent-a-car. São medidas estruturais muito importantes para a marca, as quais têm um preço, que foi a quota de mercado de 2020”.
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Os comerciais também sofreram?
“A gama de produtos da marca era, e é, muito forte na área dos comerciais. Em 2020, conseguimos, com a mesma rede de concessionários e a mesma equipa, registar um crescimento muito importante na parte dos veículos comerciais. Isto prova a força da marca, inclusivamente num ambiente muito complicado, e, além do mais, recentemente apresentámos um modelo produzido em Espanha, e isso ajuda”.
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A aposta para regressar aos bons números de vendas são os SUV e o Corsa?
“O Crossland recebeu um ótimo facelift e é um automóvel muito importante, porque, para mais, é produzido em Espanha. O novo Mokka chegará no final deste trimestre, e graças a isto, a recuperação da marca está em alta, porque estamos, atualmente, a corrigir o portfólio, e vamos implementar novos produtos na gama que nos vão ajudar a recuperar a quota de turismos que perdemos em 2020. Tudo isto é válido tanto para Espanha como para Portugal, porque ambos são mercados em que o volume de rent-a-car é muito significativo, e, também, em que os segmentos A e B são os mais importantes. O Corsa é um automóvel realmente fantástico, que nos leva a estar muito próximos do pódio dos mais vendidos em Espanha e em Portugal, o que nos oferece boas perspetivas para o futuro. Há que recordar que o lançamento do Opel Corsa aconteceu dois ou três meses antes do início da pandemia, e isso afetou-nos, e ainda são sabemos realmente qual o poder comercial deste automóvel, mas, quando tivermos um mês de estabilidade, veremos que é muito bom”.
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Pode a Opel conservar o seu carácter alemão dentro da Stellantis?
“De entre todas as marcas do grupo Stellantis, somos a única alemã. Isto proporciona-nos a oportunidade, e a responsabilidade, de manter a Opel como marca alemã, porque uma marca alemã é sinonimo de grande qualidade e de uma experiência de condução excitante, e, para além do mais, queremos posicionar-nos como uma marca próxima do cliente. Esses são os três pontos que queremos desenvolver. Existem várias provas disso: por exemplo, o Crossland chegou num momento muito difícil para a marca, no início de uma fusão com a PSA, mas rapidamente decidimos antecipar o facelift, para melhorar coisas que pensamos são fundamentais para reforçar o carácter alemão da marca. E, quando se compara o Crossland original com o facelift, ver-se-á que o tato da direção e do châssis são diferentes, e percebe-se a mudança, porque é nesses pequenos detalhes que temos que marcar a diferença, pois, quando se olha para um automóvel alemão e um francês, têm que ser diferentes. Não digo com isto que um seja melhor do que outro, mas têm que ser diferentes. O Mokka, que chegará nos próximos meses, é um automóvel desenvolvido na Alemanha, e oferece sensações completamente diferentes em termos de condução. É algo muito importante para nós, porque, se um automóvel consegue suportar as autoestradas alemãs, está preparado para tudo”.
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Só neste mesmo ano chegam oito novidades eletrificadas. Como vê a eletrificação da Opel?
“Quando falamos de automóveis alemães, falamos de tecnologia de vanguarda e de inovação, por isso dizemos Opel Goes Electric. Este posicionamento ajuda-nos, porque estamos muito preparados para a eletrificação, que estará connosco e vai mudar a indústria. Apesar disso, na marca, somos um pouco Petrol Head, eu considero-me um Petrol Head, e quando conduzo um automóvel elétrico, como um Grandland de 300 cv, fico entusiasmado, o que mostra que há esperança para o futuro, algo que é realmente importante. A eletrificação ajuda ao posicionamento, e queremos destacar-nos como marca eletrificada dentro da Stellantis, e, deste modo, que se saiba que todos os nossos novos lançamentos terão a sua versão elétrica.
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Existem muito boas perspetivas relativamente aos híbridos plug-in para os segmentos de topo, e, por isso, posso antecipar que o Grandland e o novo Astra terão uma versão híbrida plug-in. Para os segmentos mais pequenos, em termos de dimensões, entendemos que o full electric é o futuro, como o Corsa elétrico, sendo que o Mokka também será lançado com uma versão completamente elétrica – e existe um tema particularmente interessante para nós, e que é que entendemos que o mercado de comerciais tem um potencial enorme quanto à eletrificação… Portanto, o que fizemos com o Vivaro, faremos com o Movano, e a intenção é que toda a gama comercial esteja eletrificada”.
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Os apaixonados dos automóveis também querem saber se, apesar de tudo, existem planos desportivos na Opel?
(Pedro ri-se, descontrai-se e agradece-nos a pergunta) “Estou pessoalmente envolvido no projeto do Corsa-e de ralis para o futuro. Não há nada previsto a curto prazo, e veremos como resulta a experiência na Alemanha com o Corsa Electric, mas há algo que tenho muito claro: se nos envolvermos em eventos desportivos. Será com modelos elétricos, porque cremos que é uma via muito importante para promover estes automóveis. Estou em contacto com a empresa que está a desenvolver os automóveis elétricos na Alemanha, também, com a empresa que os leva para Portugal e Espanha, com o José Pedro Fontes, e, primeiro, vamos testar na Alemanha.
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É algo por que aguardamos com grande ansiedade para um futuro próximo, agora temos outras prioridades imediatas, mas pensamos que é algo que pode melhorar a imagem da marca, pelo que estaremos atentos para aproveitar as oportunidades”.
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