LANCIA 037 RALLYE | Quem não se lembra do ver, ou do som inconfundível do motor com compressor volumétrico a subir o troço da Lagoa Azul no Rallye de Portugal. O Lancia 037 Rally (assim como o seu irmão de estrada 037 Stradale) era um puro carro de competição, que fez a sua estreia na Volta à Córsega (1982) com Markku Alen e Ilka Kivimaki – então ainda muito próximo de um carro de série.
Conceitualmente, o Lancia Stratos era já um Grupo B no sentido de que foi desenvolvido especificamente para a competição, e assim quando os técnicos da Lancia iníciaram o projeto 037, contavam com a vantagem de já se ter realizado algo de muito semelhante no passado. A versão ‘normal’, de estrada, ficou conhecida como Lancia 037 Stradale, com uma produção limitada a 200 unidades, sendo assim produzidas apenas as unidades suficientes para o 037 ser homologado como Grupo B e poder participar no Campeonato do Mundo de Ralis.
O Lancia 037 era um carro completamente novo, sem quaisquer elementos mecânicos comuns com o Beta Montercarlo de série. No entanto, não deixa de ser curioso que fosse escolhido para equipar o 037 um motor de quatro cilindros e 2 litros com compressor volumétrico, dados os bons resultados que tinha tido no Beta Montecarlo Turbo (um grupo 5) de circuito, carro que com um quatro cilindros turbo de 1.400 cc de cilindrada conseguiu atingir os 480 cv de potência máxima. O Lancia 037 Stradale debitava 200 cv, enquanto a versão do evoluído Grupo B alcançava os 265-350 cv.
Optando por um atraso na resposta do turbo, Auralio Lampredi e Giorgio Pianta escolheram um compressor tipo Roots da Volumex, colocando-o num motor com um bloco de ferro, alimentando por um só carburador duplo Weber, sem intercooler e uma pressão máxima na versão normal de 0,6 bar.
O motor foi colocado no 037 em posição traseira, central e longitudinal, e não transversal como no Beta Montecarlo de série e no silhueta de Grupo 5. Lampredi escolheu estas características, sabendo que havia um Renault 5 Turbo com motor traseiro central e um Audi Quattro com turbo e tração total, possivelmente a confiar na superioridade do chassis do Lancia.
A ESTREIA NO RALI DA CÓRSEGA
O primeiro rali do Lancia 037 foi a Córsega na temporada de 1982, numa altura em que já se aceitava a participação dos Grupo B, um ano antes do Campeonato do Mundo se disputar com esta categoria. O carro estava muito pouco desenvolvida em todos os seus aspectos: nem o motor nem o chassis provaram ser competitivos, e especialmente os travões. Alen/Kivimäki não foram além do nono lugar, a cerca de 42 minutos dos vencedores, Jean Ragnotti / Andrie com o Renault 5 Turbo. Atilio Bettega/Perissinot sofriam um acidente contra um muro.
Parte do problema, é que nesse ano de ’82, o Lancia 037 era quase um carro de série normal, muito pouco desenvolvido. A primeira evolução iria ficar pronta apenas para o rali da Finlândia. E já era ‘outra loiça’! Nesse modelo de evolução, a carroçaria passou a ser de Kevlar (em vez de aço e fibra de vidro), foi melhorado o chassis e o motor, passou a contar com um curioso sistema de refrigeração que usava o ar do compressor para o arrefecimento a cada vez que se fechava a mariposa do compressor. Salvo alguns problemas iniciais de fiabilidade, o Lancia 037 Rally funcionou bem e, no RAC do mesmo ano, Alen / Kivimäki chegaram a ocupar o primeiro lugar e terminaram em quarto o rali da Grã-Bretanha.
Na temporada de 1983 aasistiu-se no Mundial de Ralis a uma luta emocionante entre o Lancia 037 e o Audi Quattro, dois carros conceptualmente muito diferentes, mas estreitamente alinhados nos resultados. O Lancia tinha um chassis semi-tubular, motor central traseiro, compressor volumétrico e tração traseira. O Audi, um chassis monocoque, motor dianteiro, turbocompressor e tração total.
A luta travava-se entre um verdadeiro carro de corridas contra outro de série mas extremamente inovador; leveza contra o poder; agilidade contra o motricidade. A isto somavam-se grandes pilotos em cada equipa: Markku Alen e Walter Rörhl nos Lancia, Hannu Mikkola e Stig Blomqvist nos Audi. Este quatro pilotos venceriam todos os ralis, exceto os dois ralis africanos. No final, Mikkola ganhou o título de pilotos e a Lancia o campeonato de Construtores.
O mito do Lancia 037 Rallye tinha acabado de nascer, para ficar gravado a letras de ouro na história do automobilismo!