O Dacia Duster na sua versão mais aventureira e melhor equipada é esta versão 4WD SL Explorer. Trata-se de um veículo todo-terreno ‘low cost’, com características de carro familiar, capaz de conciliar um conforto interessante no dia-a-dia com momentos mais divertidos no fim-de-semana.
Ricardo Ferreira
Sobre este modelo recaem muitas expectativas, e a Dacia sabe disso. Por essa razão, o Duster tem evoluído ao longo dos anos em termos de design e, dessa forma, tem conseguido manter-se à tona de um dos segmentos mais competitivos do mercado. Apresenta uma linha muito marcante e reconhecível, uma estética que aponta muito mais para o todo-terreno que para o mundo dos SUV convencionais. E prossegue como o mais digno representante da marca romena, propriedade do grupo automóvel francês Renault. É um carro simples mas honesto, competente no que promete e com capacidades “fora-de-estrada” surpreendentes.
Neste teste colocámos à prova o Dacia Duster 4WD SL Explorer dCi 110, a versão com tracção integral e mais completa em equipamento, munida da conhecida unidade diesel 1.5 dCi, numa versão com 110 cv de potência.
Custa menos de 25 mil euros (sem despesas administrativas e de transporte), o que no caso de um carro com estas características é, definitivamente, um valor concorrencial e a ter em conta.
Fomos conhecer o seu comportamento, não apenas em condições de Off-road e trial, como ainda no quotidiano onde este compacto crossover tem uma palavra a dizer. Este Duster com tração integral é, sem sombra de dúvida, uma hipótese a considerar antes do ato de compra de um 4x4 – devem mesmo experimentá-lo – procurando a resposta para três questões cruciais: porquê, como e para quê? Mas vamos antes analisar o que diz o próprio fabricante.
Chocantemente acessível, declara a Dacia sobre o Duster. Mas porquê? Em primeiro lugar devido ao preço do carro romeno, uma vez que a versão experimentada, o Duster 4WD SL Explorer dCi 110 apresenta um P.V.P. base de 23.050 euros incrivelmente abaixo dos 38.350 euros (preço base) pedidos para o Nissan Qashqai Tekna 4x4 com idêntica plataforma de chassis. Além disso, o Duster é maior por dentro e emprega um turbodiesel dCi semelhante – só isto já parece suficientemente… chocante.
Quer isto dizer que estamos na presença de um automóvel básico? Não necesariamente. A não ser que se entenda um carro básico como aquele que nos oferece para além da tração integral, um conforto interessante, ar condicionado, moderno sistema de info-entretenimento, um bom sistema estéreo e um motor gratificante – capaz de chegar a uma média de 6,2 litros a cada 100 km – em consumos.
O toque de aventura
O Duster 4WD SL Explorer recebeu um lifting facial recente, o que se traduz por mais equipamento de série, novos grupos ópticos e um novo nível de acabamento topo de gama. A frente é a sua parte mais apelativa e apresenta uma grelha cromada com formas curiosas e cercada por duas grandes óticas. Na zona inferior desta área está uma proteção em cor prateada que dá o toque de aventura. Esta proteção frontal imita bem o metal mas é na realidade construída em plástico, no entanto, toda a zona inferior do motor está convenientemente protegida por uma chapa metálica.
Observado de perfil, o que mais chama a atenção são as barras no tejadilho com a inscrição ‘Duster’, assim como as proteções plásticas que ornamentam os guarda-lamas, as portas laterais e que são um exclusivo desta versão Explorer. Isto dá um toque mais aventureiro ao Duster.
A parte traseira é mais sóbria e convencional, destacando no lado direito da porta traseira a inscrição ‘4WD’, para todos perceberem que estamos na variante 4x4. Na zona inferior existe uma proteção, plástica como à frente e com a mesma linha e função de proteger a carroçaria nos trilhos fora de estrada.
No seu interior, encontramos alguns avanços em relação a versões anteriores, como um acesso mais fácil aos comandos dos vidros elétricos, uma boa visibilidade do painel analógico de três esferas e um volante mais compacto mas que, contudo, mantém o seu interior volumoso. E também os controles de ativação Eco e de controle de estabilidade estão sob a consola central e em posição pouco acessível. O mesmo não acontece com o écran táctil e com o comando circular onde se ativam os modos 2WD (tração dianteira), Auto (que ativa a tração às quatro rodas quando é necessário) e Lock que bloqueia o diferencial central e reparte o binário por cada um dos eixos.
O habitáculo oferece um espaço generoso para quatro adultos, conta no tablier com muito espaço para guardar objetos e documentos e com quatro anéis circulares coloridos por onde circula o ar condicionado e sofagem.
A caixa de 6 velocidades é de fácil manuseamento e, também, a câmara traseira é muito útil nas manobras de estacionamento, visualizando-se de imediato todo o que se passa atrás no monitor de bordo que surge no écran tátil assim que se engrena a marcha de recuo do veículo.
No entanto, impera a austeridade nos materiais empregues, uma vez que numa boa parte do tablier e portas existe um plástico duro e que dificilmente pode concorrer com os rivais mais caros do Duster. E também a insonorização peca por alguns decibéis a mais vindos do motor. No entanto, não deveria ser uma surpresa, descobrir que há compromissos para economizar na construção de um Dacia Duster!
Conforto, espaço e equipamento
Os assentos dianteiros reguláveis em altura para ajustar a posição de condução, a instrumentação bem visível e a posição ajustada da alavanca da caixa de velocidade, deixa-nos numa posição cómoda – mesmo para alguém com 1.80 m de altura - como é o meu caso.
Dentro da sua classe, o Dacia Duster oferece uma incrível quantidade de espaço. Isto aplica-se a todo o veículo: dois adultos e uma criança viajam comodamente nos bancos traseiros e o compartimento de bagagem é bastante decente. No entanto, por causa da tração traseira, a capacidade da mala diminui dos 475 para os 443 litros, uma vez que o pneu suplente (opcional = mais 70 euros), se nas versões mais antigas de duas rodas motrizes ficava no exterior, agora no Duster 4WD está no interior da bagageira. Com os assentos traseiros rebatidos passa-se para 1,72 metros de comprimento. Respeitável! A única exceção é a largura interna, na qual outros modelos da classe lhe endereçam ‘cumprimentos’. No restante, o Duster com tração integral difere muito pouco da versão de duas rodas motrizes.
Realmente económico
No teste de dois dias com o Duster 4WD Explorer, reservámos o primeiro dia para observar o seu comportamento no quotidiano, cidade, auto-estrada e uma leve incursão fora de estrada.
Se um dos melhores argumentos do Duster é o seu preço de compra, outro aspeto relevante são os consumos do motor de 1.5 litros dCi 110. Seguindo um estilo de condução prudente, conseguimos uma média gratificante de 6,2 litros e, mesmo seguindo uma postura despreocupada, não fomos muito além dos 7,0 litros.
A escolha do motor diesel da Renault pereceu-nos uma boa escolha para o Duster. Funciona incrivelmente bem desde muito baixas rotações e, se existe algo de invulgar é a sua caixa de 6 marchas. Na ausência de redutoras, o Dacia tem uma primeira engrenagem muito curta, 4:5, e uma segunda relação bastante mais longa, permitindo assim sentir-se de 40 a 50 km/h a sensação típica de torque de um motor diesel.
Em resumo e para concluir o tema do motor, não tenho duvida que esta foi a melhor escolha para o Duster 4WD. A escolha do motor é simples - uma de duas, gasolina ou diesel - todas comprovadas em milhões de Renaults e Nissans. A unidade a gasolina de 1,6 litros é um pouco lenta, sobretudo se confrontada com este experiente dCi de 1,5 litros ou o novo motor a gasolina turbo de 1,2 litros.
A relação de engrenagem curta faz com que o Dacia Duster reaja espontaneamente desde muito baixas rotações, adquirindo um ritmo cada vez mais vivo desde as 1.500/2.000 rotações até às 4.000 rpm. O sprint de 0 a 100 km/h consegue-se em cerca de 12,5 segundos, sendo possível alcançar uma velocidade máxima de 170 km/h. Chega e sobra!
O uso diário do Dacia Duster é muito relaxante, não só porque o conforto interior subiu alguns pontos em relação a anteriores versões, mas também porque ele tem um escalonamento da caixa bastante aceitável no asfalto.
Ou seja, se a primeira serve exclusivamente para o tirar do estacionamento e pouco mais, revela o torque necessário para sem esforço de maior progredir numa fila de ‘pára-arranca’ no trânsito utilizando a 2ª, 3ª e 4ª marchas. Engrenando a quinta conseguem-se boas recuperações de 80 a 120 km/h, e a sexta marcha aguenta sem protestar um ritmo médio numa estrada de montanha, o que certamente deriva dos 260 Nm de binário deste motor.
Forte, duro e divertido
No segundo dia procurámos os limites do Dacia Duster 4x4 1.5 dCi, seja na estrada como em percursos Off-road de média dificuldade, o que, sinceramente, resultou num domingo bem passado. Se na realidade o Duster cruza com um nível bastante aceitável de alegria e conforto o asfalto e os pisos de terra, em estrada devo dizer que não contem com a facilidade de um ligeiro num encadeamento de curvas: as medidas dos pneus e altura, obrigam a antecipar ligeiramente a entrada em curva para conseguir um bom direcionamento na saída. Isto porque o Duster abalroa mais que o habitual, mas fora de estrada, tudo isto se transforma numa vantagem.
A nossa ‘aventura’ Off-road começava com um plano muitor inclinado em macadam, prosseguindo por trilhos barrentos e depois uma subida a pique em cascalho, num trajeto que aos poucos se tornava cada vez mais rápido até ao topo da serra. O Duster Explorer passou com distinção neste primeiro teste, sem sequer ser necessário rodar o botão para a posição de Lock repartidora de binário. A segunda parte do percurso era descida em piso de terra com numerosas curvas e o Duster cumpriu-o sem problemas e a ritmo mais elevado, apenas notámos no final algum esforço de braços extra… nada mais!
Conclusão
Sendo o Duster um carro de aparência rodusta, sendo fácil de conduzir e com um chassis bastante bem equilibrado – capaz mesmo de fazer um percurso de trial mais arrojado como o que realizámos – ele passa realmente a oferecer muito mais nesta versão 4x4. Se é certo que a aparência e a tração integral não o converte num Land Rover, adiciona-lhe sem duvida uma capacidade extra interessante em terrenos lamacentos, pedregosos e inclinados como os que percorremos, e para nossa surpresa, apenas no modo Auto, sem recorrer ao Lock que reparte o binário a ambos os eixos.
Por tudo isto, e devido ao seu comportamento divertido, recomendo vivamente este Dacia Duster 4WD SL Explorer – com o vigoroso diesel dCi 110 – sobretudo para todos aqueles que, mesmo sem grande experiência na matéria, pretendam conhecer o inabalável prazer que uma condução Off-road no concede.
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
Dacia Duster 4WD SL Explorer dCi 110
Desde 23.050,00 € (sem despesas administrativas e de transporte)
MOTOR
Tipo dCi 110 (Diesel 4 cilindros, 1.461cc)
Potência máxima 110 cv
Binário máximo 260 Nm
Transmissão Caixa manual de 6 velocidades, com tração integral (4WD)
Norma de despoluição EURO6
Capacidade do depósito 50 litros
Tipo de carroçaria SUV, 5 portas
Nível de equipamento Pack SL Explorer (Jantes em liga leve 16" Explorer
Lotação 5 lugares
Travagem traseira (diâmetro / largura) Tambor 203
Travagem dianteira (diâmetro / largura) Disco 280
Pneus 215/65 R 16 215/65 R 16 (Continental CrossContact)
PESO E DIMENSÕES
Peso vazio, em ordem de marcha (Kg) 1320
Largura exterior (mm) 1822
Comprimento exterior (mm) 4316
Distância entre eixos (mm) 2673
Volume máximo da bagageira (dm3) 1604
Volume mínimo da bagageira (dm3) 443
PERFORMANCES
Velocidade máxima verificada (Km/h) 170
Aceleração 0-100 Km/h (s) 12,5
Consumo médio verificado (l/100Km) 6,2 a 7,0 litros
Emissões CO2 (g/Km) 123