É o mundo de cabeça para baixo. O mais tecnológico biturbo V8 contra um tradicional V10 atmosférico. O mais interessante de ver é que ‘receitas’ diametralmente opostas podem levar ao mesmo resultado. Audi R8 V10 Plus e McLaren 570S?
A viagem começa no aeroporto de Manchester. É a maneira mais fácil de chegar à Ilha de Anglesey, no País de Gales. É aqui que começa a indecisão magnífica que vai animar os três dias de duelo que se seguirão. O encontro entre o McLaren 570S e o Audi R8, um choque de culturas, o toque entre dois extremos dos supercarros juniores. Um confronto que me recorda o duelo, há algum tempo, entre o Porsche Cayman e o Alfa Romeo 4C.
É verdade que no desenho e performance estão muito próximos. Dois desportivos com motor central, na casa de uma potência próxima dos 600 cv... Mas representam duas maneiras opostas de viver com um supercarro desportivo.
Um dos dois poderia muito bem ser o único carro na garagem. Alguns usam os seus R8 todos os dias, um pouco como um Porsche 911. No 570S, a abordagem parece uma escolha de estilo de vida.
Delírios de engenheiros
Não somente as saídas de escape e a profusão de carbono no 570S respiram influência das corridas. Tudo no design do McLaren se articula em torno da célula monobloco de carbono. Escorregando para bordo, passando através das portas em elytra, somos acolhidos pelos assentos em forma de bacquet e bastante rígidos. Tudo é mais apertado e minimalista ao volante do britânicos. A Alcântara está por todo o lado e ar que se respira é de competição pura.
É impossível estabelecer uma hierarquia nas escolhas técnicas e no grau de desenvolvimento do Audi e do McLaren. Nas inserções de carbono decorativas e nos pormenores de acabamento cuidadosamente elaborados do R8 (nos três "botões" de controlo da climatização, no cockpit virtual…), existe um pouco de exagero. E também a posição de condução envolvente, designada "monoposto" (uma referência ao single-seater, literalmente) também é mais típica de um Grande Turismo.
Sobretudo, tudo é muito mais fácil de abordar que no supercarro inglês. Como quando se trata de subir o trem dianteiro do 570S, operação que não é fácil de descobrir, através do sub-menu do painel... Operação muito mais simples no R8. Este pormenor não pesará muito na escolha de um ou outro carro, mas mostra a diferença entre o radicalismo assumido da McLaren e a versatilidade que aparece nas especificações da Audi, desde a primeira geração do R8.
De resto, o R8 atual compartilha uma estrutura de design bastante semelhante à do 570S. A diferença reside no material escolhido: todos as partes em carbono McLaren, são apresentados em reforços de alumínio e carbono no Audi. Além da rigidez torsional, em vantagem no McLaren, o supercarro britânico beneficia ainda no peso: 1.440 kg no total, contra 1.555 kg no Audi R8...
No entanto, o supercarro de Inglostadt conta com a tração nas quatro rodas (quattro) e também oferece mais equipamentos. A diferença não é enorme no peso, por si só. Lembro-lhe de que, no R8 Plus, os travões carbono-cerâmicos vêm de série, ganhando-se algumas gramas no peso através do difusor e do capô, ambos os componentes fabricados em carbono.
Apesar da diferença na potência, 610 cv no Audi R8 V10 Plus e 570 cv no 570S,
uma vez que o McLaren pesa 115 kg menos, beneficia de uma relação peso/potencia ligeiramente mais vantajosa: 2.52 kg/cv contra 2.54 kg/cv no R8
Motores: V8 biturbo ou V10 atmosférico?
Humor inglês? Talvez… porque, na realidade não vejo o que faz um poderoso sistema de áudio Bowers & Wilkins no irmãozinho do 720S e P1. E também me surpreende o que os fabricantes de motores da McLaren e Ricardo (que participaram do desenvolvimento deste bloco originalmente introduzido no 12C) conseguiram fazer com este biturbo V8, calmo e pacato a baixas velocidades e furioso o resto do tempo!
O alongamento impressiona, subindo até às 8.500 rotações com um som estrondoso e rouco, misturado com a respiração dos turbos. Fica raivoso muito cedo, mas sem sobrecarga de potência ao se aproximar da zona vermelha do conta-rotações.
O entusiasmo a bordo do cockpit do R8 é muito diferente. Não mais intenso, nem menos forte. Uma melhor combinação na minha opinião, o mais techno dos dois e com uma mecânica mais expressiva: o V10 do R8 é como uma espécie em vias de extinção, plena de força e raça. Conserva uma real suavidade de marcha a uma velocidade pacata, partindo depois para uma sonoridade cada vez mais agressiva, ou francamente explosiva quando pisamos fundo o acelerador. É um motor bastante original, se exceptuarmos o Lamborghini Huracan, equipado com um V10 gémeo.
Apesar do tudo, o temperamento do V8 biturbo britânico está longe de ser desagradável. Às vezes um pouco, devido o gerenciamento mais brutal da caixa e ao torque máximo (600 Nm), que começa nas 5.000 rpm. Já o itálo-alemão V10, atmosférico e com curso longo (84,5 x 92,8 mm), parece bem mais progressivo.
Para a sequência da emoção, é muito bom, movendo-se melodioso e orquestrado até ao décimo de segundo, graças à caixa S-Tronic rápida e lindamente gerenciada; comparando, o V8 biturbo do 570S é como deixarmos um Teatro de Ópera para ir a um Concerto de Heavy Metal.
E quanto a performances, não deixa de surpreender que a diferença dos 610 cavalos do Audi V10 de 5.2 litros para os 570 cavalos do mais pequeno V8 de 3.8 litros do McLaren, pouco se note nos resultados que apurámos no cronómetro: 3.2 s nos 0 a 100 em ambos os casos, 9.5 s para chegar a 200 km / h e 2 km/h a favor do R8 na velocidade máxima (330 km / h contra 328 km/h).
O desportivo 570S é incrivelmente fácil, enquanto o R8 consegue a façanha
de ser incrivelmente rápido, mas ambos colam-nos o corpo ao assento numa aceleração extrema. 330 km/h, não é nada mau!
Racionalidade ou potência bruta?
Um pouco como no Lotus Exige, a frente do McLaren que ‘morde’ bem na travagem e a sua direção muito direta, podem confundir os menos avisados nas primeiras voltas de pista. Em resumo, o monstro impressiona, mas não morde! A sensação de termos as pernas junto ao eixo dianteiro, que é quase inexistente, dá lugar a uma sensação muito emotiva, à medida que o ritmo acelera. Sente-se os travões com bastante facilidade, permitindo explorar o carro quase de forma escolar, no bom sentido do termo. A arquitetura de coupé com motor central é educacional!
No R8 quase tudo parece melhor. O seu equilíbrio é inesperado, comporta-se no circuito com um grande couoé. É tão fácil de entender que surpreende. A suspensão Magnetic Ride proporciona um conforto de rolamento notável, uma boa estabilidade numa rápida sucessão de curvas. E ainda que a sensação vinda do asfalto não seja tão direta quanto no McLaren, a eletrónica do R8 é fantástica, e não menos o sistema integral de tração Quattro.
Em resumo, o McLaren é infinitamente mais gratificante numa abordagem 100% desportiva. O desportivo 570S é incrivelmente fácil, enquanto o R8 consegue a façanha de ser incrivelmente rápido, mas ambos colam-nos o corpo ao assento numa aceleração extrema. 330 km/h, não é nada mau!
No lado financeiro, temos de dispender € 204,000 no R8 V10 Plus, o que significa cerca de € 22,000 a mais que para ter um 570S. No equipamento de origem o Audi está um pouco melhor fornecido, mas não ao ponto de compensar essa diferença no preço. No entanto, a fiabilidade é um pouco mais cruel para o lado do McLaren, tendo em conta os defeitos de juventude encontrados nos seus irmãos MP4-12C e 650S .
Conclusão
Como já referimos, no caso destes dois supercarros temos o mundo ao contrário, de cabeça para baixo: quanto mais seguro e mais vivo é o carro que escolhemos, também é o mais financeiramente razoável. Num carro normal, pagaríamos mais pela segurança e pelas performances. Tendo em conta que o V10 da Audi pode estar em vias de extinção, mas que faz com que o R8 conte com um motor fantástico, designar aqui um vencedor será terrivelmente frustrante. No entanto, entre a exclusividade do McLaren e a eficiência clínica do Audi, a primeira opção parece curiosamente a mais sensata… até do ponto de vista financeiro.
Audi R8 V10 Plus
Mais (+)
*** V10, um excelente atmosférico
**** Compromisso conforto/dinâmica notável
**** Tração total Quattro ultra-eficiente
Menos (-)
** 22,000 € mais caro do que o McLaren ** Sensação desportiva
Performances e consumos
Velocidade máxima: 330 km/h
Aceleração (0 a 100 km/h): 3.2 s
Consumo médio anunciado: 12,3 l / 100 km
Preço do modelo ensaiado: 204.130 euros
McLaren 570S
Mais (+)
**** Sensação frontal directa *** Controlos muito comunicativos
**** Sensações radicais
Menos (-)
** Som do V8 em alta velocidade
**Ergonomia muito melhorável
Performances e consumos
Velocidade máxima: 328 km/h
Aceleração (0 a 100 km/h): 3.2 s
Consumo médio anunciado: 9,2 l / 100 km
Preço do modelo ensaiado: 182.350 euros
Dossier Técnico