A MUDANÇA É LIGEIRA MAS O REFINAMENTO É TOTAL. LEVÁMOS O DACIA DUSTER 4X4 ÀS AREIAS BRANCAS DO LITORAL ALENTEJANO, NUM TESTE ONDE ATÉ O TEMPO INVERNAL NOS AJUDOU A CONHECER O SEU POTENCIAL DE AVENTURA. Fotos: Rui Elias
Perguntaram-me se queria experimentar a versão normal ou o 4x4. Escolhi a versão de tração integral e tracei a minha rota de viagem. Manhã cedo, partimos de Lisboa e em Setúbal entrámos no IC1 em direção a Sul. Neste primeiro período cedo percebi que o interior do novo Duster estava muito diferente do anterior... para melhor. O painel de instrumentos é muito mais agradável à vista, o tabliê tem um desenho muito mais off-road, o ecrã do sistema de navegação ficou alojado numa zona mais alta e de melhor visibilidade – no anterior tínhamos de tirar os olhos da estrada para ver o sistema de navegação; - os comandos do sistema de climatização também são novos.
A qualidade evoluiu tanto na montagem como nos materiais, a insonorização melhorou a passos largos, seja através de vidros mais grossos e de outras alterações que anularam um dos pontos fracos da anterior geração do Dacia Duster.
Os bancos também são novos, tendo sido trocados os do modelo antigo (estreitos, esponjosos e com pouco apoio) por outros mais amplos, melhor desenhados e mais confortáveis, com um agradável apoio para o braço para o condutor – muito útil em longas tiradas de estrada. Em suma, há uma clara evolução que tira o Duster 4x4 da esfera “low cost”, situando-o mesmo num patamar honoroso junto a carros de idêntica tipologia como o Volkswagen T-Roc.
A ROTA DO TESTE:
"PASSEIO AO LITORAL ALENTEJANO"
P1: DE ALCÁCER DO SAL AO CAIS PALAFÍTICO DA COMPORTA
Parte 1: Alcácer do Sal - Comporta (30,4 km / aprox. 30 minutos)
Em Alcácer do Sal saímos do IC1 em direção a Comporta (Nacional 253), a estrada de bom piso segue ao longo do Estuário do Sado onde aproveitámos para visitar um dos locais mais emblemáticos e belos da região.
O Cais Palafítico da Carrasqueira é conhecido por ser uma obra-prima arquitetónica e que promete ser uma excelente escolha para visitar em qualquer estação do ano.
Construído entre as décadas de 50 e 60, com estacas de madeira irregular, frágeis de aparência, serve de embarcadouro aos barcos de pesca que ali acostam, tendo algumas centenas de metros nos quais é possível passear. Este Cais Palafítico é um dos locais mais visitados da região, pois permite ver as embarcações de perto e algumas aves da zona do Estuário do Sado, sendo ideal para tirar umas boas fotos durante o pôr-do-sol.
Mas não foi o caso, porque, infelizmente, a chuva intensa e vento forte que se fazia sentir na altura, impossibilitaram qualquer visita demorada ao local. Aproveitámos antes para conhecer um pouco mais o novo Dacia Duster, que apesar de manter a mesma plataforma do modelo anterior, revela um ligeiro redimensionamento (mais 18 mm no comprimento, mais 25 mm na altura e menos 18 mm na largura) e uma maior rigidez estrutural.
O estilo foi refrescado com uma frente alargada onde se inclui uma nova grelha e pára choques. Menos interessante é a perda de espaço atrás, devido aos bancos maiores e a perda de capacidade na bagageira que passa de 475 para 445 litros (nesta versão 4x4 a redução é ainda maior, passa para os 411 litros). Rebatendo os bancos, a bagageira passa para os 1478 litros, o que significa uma redução de 158 litros em relação ao anterior modelo. Ainda assim, o Dacia Duster tem uma bagageira maior que alguns rivais, como o Opel Mokka X e o Mini Countryman.
P2: PELA COSTA AZUL ATÉ À ILHA DOS PIRATAS
Parte 2: Comporta - Lagoa de Santo André - Sines (60 km / aprox. 1 hora e 30 min.)
A segunda parte do nosso teste foi a mais longa e também a mais exigente em termos de condução, uma vez que não custa nada um 'atolanço' nas areias finas da bela e desértica Costa Azul, uma língua de areia infinita que liga a península de Tróia a Sines, e também uma das zonas menos poluídas e sujas da nossa costa atlântica.
São ao todo perto de 60 km que por estrada se leva 51 minutos, mas que, no nosso caso, porque fomos por muitos trilhos e tivemos uma paragem longa na Lagoa de Stº André, levámos perto de 2h30m a percorrer.
Descontando a paragem para almoço, passamos cerca de 1h30 a percorrer os trilhos arenosos da região.
A partir de Comporta, entremeámos alguns quilómetros de asfalto (Nacional 261) com ligeiras incursões de puro todo-terreno pelas areias brancas da extensa Costa Azul, até ao concelho de Sines. O Dacia Duster cumpriu na perfeição essa missiva, e logo, num dos piores dias de intempérie deste inverno… S. Pedro não cessou de enviar toneladas de chuva e trovões, como se também ele quisesse por à prova o carro romeno, que cumpriu bem a sua missão, pese o vento, a chuva intensa e o extenso areal que enfrentou por rápidos trilhos e largos corta-fogos.
Passámos também por algumas afoitas subidas, mas mesmo nas de maior inclinação, apenas numa, no litoral de Vila Nova de Santo André, fui obrigado a passar do modo Auto 4WD (onde a tração total só atua em caso de necessidade) para o modo Lock que bloqueia a distribuição de binário por ambos os eixos numa proporção 50:50.
Antes de entramos nos longos trilhos de areia e pinhal até à Península de Sines, parámos para um apetecível almoço de enguias na bela Lagoa de Santo André. Após o repasto, apreciámos mais ao pormenor o estilo do novo Dacia Duster, a grelha em ninho de abelha, as luzes LED que formam uma assinatura luminosa e as novas jantes de 17 polegadas, numa carroçaria que termina numa traseira que preserva o aspeto musculado, mas agora com um desenho muito mais elegante. A lateral do carro manteve a ideia de estilo, mas estreitou um pouco a superfície vidrada e as barras de tejadilho ficaram melhor integradas.
Outra alteração reside na direção assistida com um sistema elétrico que vem tomar o lugar da unidade hidráulica menos precisa da antiga versão. E esta é uma mudança importante pois veio modificar a forma como o Duster é conduzido.
A direção exibe maior sensibilidade, é mais leve e permite que seja mais incisiva a colocação em curva. Enfim, o carro ficou mais confortável de conduzir, mas não se entusiasme muito pois o Duster não é particularmente entusiasmante de conduzir, nem essa é a função deste Dacia. A suspensão é suave pelo que o carro é confortável.
P3: "QUEM NÃO TEM CÃO CAÇA COM GATO"
Parte 3: Sines - Barragem de Morgavel - Ilha do Pessegueiro ( 30,2 km / aprox. 45 min.)
A terceira parte do nosso teste foi a dividir o asfalto com bons trilhos de terra enlameada do Sudoeste Alentejano, uma vez que a chuva pressistiu como uma constante do nosso passeio.
Passámos pela praia de São Torpes, virámos a Norte para atravessar a Barragem de Morgavel - cuja reserva de água provém de Ermidas do Sado e em grande parte através de tunel - passámos pelas diversas praias que antecedem a vila piscatória e muito acolhedora de Porto Corvo, até ao nosso destino final, a conhecida Ilha do Pessegueiro que por em tempos lá ter nascido um pessegueiro, assim ficou conhecida.
Fora de estrada o Duster é bem comportado, contudo, se o provocarmos em demasia a carroçaria adorna, os pneus de alto perfil dobram e os movimentos da carroçaria começam a influenciar demasiado o sistema de controlo de estabilidade eletrónico. Em suma, pede para o levarmos com suavidade e, se o fizermos, cumpre tudo o que pedimos sem se ‘queixar’ minimamente. Pelo contrário, puxando o ritmo de forma extrema, corre-se o risco do motor (Renault 1.5 dCi com os atuais 115 CV) quebrar um pouco na subida de regimes mas... nada de dramático!
Por exemplo, em troços de pouca aderência como lama ou areia - é só baixar um pouco a pressão dos pneus que passa sem problemas - seguindo a suavidade do motor, sem fazer uma condução brusca, o Duster 4x4 vai surpreende-lo - a leveza do conjunto e uma plataforma bem estudada, permite uma passagem tranquila em zonas de maior dificuldade mas... declaradamente, não é a melhor solução para trilhos de Trail Extreme ou outros devaneios no Off-Road. Para esse efeito existem vários "puro sangue", várias pick up como a Ford Raptor, assim como outras soluções - Jeep, Land Rover Discovery ou um diabólico Range Rover V6 , bem mais potentes mas exorbitantes no preço. Por mim, contento-me com este Duster 4x4, simpático e confortável na estrada e aventureiro quanto baste fora dela...
Ou seja, tal como diz um antigo ditado... "Quem não tem cão caça com gato”.
O Duster 4WD é um excelente veículo para passeios TT moderados. Não para loucuras extremas! As suas 6 velocidades manuais engrenam agora na perfeição – essa foi uma melhoria que constatei em relação à versão anterior, bem mais ruidosa e incómoda nas passagens de caixa mas, apesar de tudo – e se não é pedir demais! – uma caixa automática de dupla embraiagem seria sempre bem vinda.
Todas estas nossas impressões tirámos ao longo dos trilhos até Sines, vila piscatória e portuária que foi berço de nascimento (1469) de Vasco da Gama, uma das maiores figuras da história portuguesa e europeia, o descobridor do caminho marítimo para a Índia. Sines está situada a 150km de Lisboa e por ali começa o litoral do sudoeste alentejano, por onde seguimos com o Dacia Duster (passando por uma vila de pescadores celebrizada numa canção de Rui Veloso / Porto Covo) – sempre em direção ao nosso destino: a Ilha do Pessegueiro.
A Iha do Pessegueiro é um importante local a nível paisagístico e histórico. Hoje parece um local deserto, mas na época romana por ali existiu um centro portuário e produtor de conserva de peixe, tendo sido refúgio de piratas durante séculos. No século XVII foi construído um forte na época de D. Pedro II, onde são visíveis à data actual o seu fosso e muralhas quase intactas. Um túnel, hoje parcialmente submerso, ligava a ilha a terra firme.
P4: O REGRESSO A CASA... A PAGAR CLASSE 2!
Parte 4: Sines - Lisboa - Cascais (183 km, por A2 / 2h12 min)
O segundo dia ficou reservado para o regresso a Lisboa, via auto-estrada (A2). Comprovei então que, por se tratar de um modelo 4x4, o Dacia Duster 4WD paga sempre Classe 2 nas portagens.
O Dacia Duster normal teve um atraso na chegada ao mercado, porque a versão 4x2 foi alterada, para que fosse possível ficar abaixo dos 1,10 metros de altura no eixo dianteiro. Para esse efeito, o apoio das molas dianteiras nos amortecedores dianteiros foi 20 mm rebaixado, o que permite ao Duster ficar abaixo da referida altura. Mas… no que se refere aos modelos 4x4, estes são, sempre, Classe 2 devido ao peso bruto mais elevado. Esta é uma regra estupida, para não dizer discriminatória para quem – como eu – nutre um gosto especial pelo todo-terreno!
Obrigado a esvaziar mais do que o habitual o bolso na viagem de regresso, devido ao pagamento do carro como Classe 2, a verdade é que isso não me tirou o sorriso do rosto, sobretudo depois de um dia bem passado pelos trilhos do Baixo Alentejo… com o Duster e toda a família a bordo. O todo-terreno mais a sério iria acontecer no terceiro dia, já com muito sol no horizonte e por trialeiras conhecidas da Serra de Sintra-Cascais.
3 MODOS DE CONDUÇÃO PARA NOS DIVERTIR FORA DE ESTRADA
O Dacia Duster 4WD Prestige que conduzi tinha já novo motor Renault Diesel Blue dCi Turbo com 115 Cv de potência. Esta nova unidade é menos poluente e tem mais 5 cv que o anterior Diesel dCi, resultando numa boa disponibilidade a baixos e médios regimes, apesar de uma ligeira quebra do binário acima das 3.000 rpm. Mas... tudo bem!
Para enfrentar uma trialeira mais complicada, a leveza e suavidade - gerada a partir de uma correta distribuição do binário do motor às rodas – são os principais argumentos do Dacia Duster. Conta além disso com uns bons 210 mm de altura ao solo, bons ângulos de ataque e o sistema de tração integral de origem Nissan com 3 modos à escolha do condutor: 2WD, Auto 4WD e Lock.
O auxiliar de arranque em subida e o controlo de velocidade em descida ajudam a passar em zonas ingremes. Em pisos enlameados ou de areia, o controlo de tração deixa as rodas patinar apenas o suficiente.
BALANÇO FINAL
Em resumo, o Dacia Duster 4WD é um dos carros melhor equipados para a iniciação ao todo-terreno. É verdade que não vai além dos 175 km/h na velocidade máxima e que leva 12s para acelerar de zero a 100 km/h, mas revelou um consumo médio interessante (6,7 litros aos 100 km) e, sobretudo, tem um preço muito, muito atraente: 24.386 euros na versão Prestige que utilizámos no teste, equipada com bancos em pele de qualidade, alerta de ângulo morto, câmara de marcha-atrás, cruise control e sistema de navegação.
Se eu compraria um?
Claro que sim, porque prefiro o conforto, a forma versátil como se move em estrada e Off-Road a opções extremadas que só servem para parar mais vezes nos postos de combustível e coçar a cabeça na altura de pagar as revisões periódicas. Mas... só 4X4!!!
A NOSSA AVALIAÇÃO
Dacia Duster 4X4 Prestige
24.386 €