ENTREVISTA | Carlos Sainz Jr.: "A minha vida privada não preenche mais que 10% do meu tempo&quo
- motores7magazine
- 1 de out. de 2017
- 6 min de leitura

Carlos Sainz Jr., vai conduzir o monolugar da Renault Sport em 2018. "Estou muito feliz de chegar à Renault. Ser piloto de uma equipa de fabrica é uma honra", disse. "Todos os pilotos têm um talento muito parecido, mas o que te faz ser campeão é a atitude: esforço e trabalho. A minha vida privada apenas ocupa uns 10% do meu tempo".
Mike Rodman
Realizámos esta entrevista no quinto dia de testes em Montmeló, após "dois meses sem cheiro de gasolina". Carlos Sainz esteve toda a manhã desaparecido das boxes, no pit wall, seguindo a evolução do carro ao lado de seu engenheiro chefe: hoje rodou o segundo piloto da equipa Toro Rosso, “O Russo”, como quase toda a gente chama Daniil Kvyat (nome um pouco impronunciável, reconheça-se).
Sainz aparece à hora do almoço, como um fantasma atravessa a zona central das boxes e as hospitalities de todas as equipas da Fórmula 1. Se o descobrem debaixo da sua viseira, não o deixam caminhar: fotos, autógrafos, selfies, confusão… Nós tirámos um conjunto de fotos no paddock da Toro Rosso e, em cerca de 10 segundos, cerca de 30/50 câmaras seguiram-no, como abelhas à procura do mel.

O Toro Rosso está parado e desventrado na box desde o meio dia, para se descobrir um problema, aberto em duas partes como uma lata de sardinhas; por um lado, a carroçaria com as cores da equipa, e por outro, o chassis.
Tudo isto por culpa de uma mudança nas regras da F1, que permite que este ano os carros alcancem uma maior velocidade ainda; até um total de 6 G será a força suportada pelo piloto na curva 3 de Montmeló, permitindo a passagem de 360 km/h para 150 km/h numa distancia de travagem de somente 60 metros. Estratosférico! Por exemplo, os pilotos de um jacto F-18 suportam um máximo de 3 G de força.

Existem 29 mecânicos dedicados ao carro 24 horas por dia, com turnos noturnos, 21 engenheiros para melhorar diariamente o desempenho e um ser humano que tem de ser, necessariamente poderoso para lidar em pista com a máquina.

"O segredo é a força mental"
A força mental de Carlos Sainz Vázquez de Castro (nascido em Madrid, a 1 de setembro de 1994) é determinante para por a ‘voar’ o mosquito, perceber o seu zumbido, analisá-lo e espremer dele todo o suco nestes testes.
M - Este é o terceiro ano de Carlos Sainz Jr no mundo da Fórmula 1, excluímos de vez o Jr.?
C.S - "Já o dissemos quando cheguei à Fórmula 1, tanto o meu pai como eu, principalmente porque a Fórmula 1 e os Rallys são duas disciplinas muito diferentes… Mas, bem, as pessoas preferem continuar a escrever e falar no Júnior, que queremos banir a todo custo."
M - Levar toda a vida o ‘carimbo’ de "promessa jovem" não se torna cansativo para ti?
C.S. - "É duro sim. Espanha teve o seu número um e as pessoas reclamam um substituto para Fernando Alonso, insistiram que deveria ser eu, e isto adicionado a ser filho de Carlos Sainz tem colocado muita pressão sobre mim. Mas eu sempre disse que, filho de Carlos Sainz, sim, mas substituto do Fernando Alonso, não, porque só há um e não haverá mais."

M - Diz-se que estás sempre com um ar sério, mesmo dentro do carro e que nunca sorris, é verdade?
C.S. - "Não sei, o meu pai diz-me sempre que eu estou sempre muito sério e que devo sorrir mais."

M - Nem no carro?
C.S. - "Dentro do carro eu concentro-me, mas estou a desfrutar do que faço; talvez eu não sorria, porque tenho que estar concentrado o suficiente para ir a 360 km/hora, mas eu gosto de ir ao limite em cada volta, em todas as paragens, no carro mais rápido do mundo. O que mais me orgulha é chegar ao limite e saber que eu sou um dos 20 melhores do mundo. A minha maior satisfação pessoal foi ter alcançado a elite deste desporto e não me dar mal."
M - Como fazes para libertar-te da pressão e da impaciência, dois grandes inimigos dos pilotos?
C.S. - "Existem técnicas que aos poucos vais apreendendo. Por exemplo: antes de uma qualificação ou de uma corrida, faço um aquecimento de 15 minutos para ativar o corpo, depois fico uns cerca de 10 minutos sozinho a fazer alongamentos e a planear mentalmente o meu desempenho em pista; entrando para o carro com mais de 15 minutos de antecedência, sem pressa.
Isto são rotinas que me ajudam a estar calmo e sentir que tenho tudo sob controle. Os meus amigos, quando me veem ver a uma corrida, dizem-me que naqueles momentos eu pareço uma outra pessoa."
"A entrada na Renault é um novo capitulo muito emocionante na minha carreira"

M - Já é oficial. Vais correr na equipa Renault em 2018. Deixas a Toro Rosso e juntas-te a Nico Hülkenberg na equipa francesa. Como analisas essa mudança? (atualizado)
C.S. - "Estou muito feliz por chegar à Renault Sport Formula One Team. É uma honra trabalhar com eles e espero recompensa-los pela confiança que depositaram em mim com as minhas melhores performances em pista. Estou ansioso por trabalhar com todos em Enstone e Viry, além de conduzir com o Nico Hülkenberg. Trabalhei em estreita colaboração com a Renault na Fórmula 1 e também na minha carreira neste desporto, então eu conheço a sua motivação. Este é o início de um novo capítulo muito emocionante na minha carreira.
Gostaria de agradecer à Red Bull por toda a sua confiança e apoio, e por me permitir aproveitar esta oportunidade. Agradeço a todos que trabalham na Toro Rosso . São uma fantástica equipa de profissionais e desejo-lhes o melhor para o futuro."

M - Fala-nos do teu treino físico diário… o triatlo ainda é o teu desporto perfeito para ficares em forma?
C.S. - “Não, o triatlo pratiquei muito quando há dois anos me pediram para perder dois ou três quilos, e olha como eu sou magro. Além de uma boa dieta, eu dedico-me muito a correr, nadar e andar de bicicleta, porque é isso que te faz perder peso. Este ano, no entanto, o carro é superfísico, sofro as maiores forças G, nunca antes vistas na F1, mas não há limite de peso no carro. Reduzi o exercício cardiovascular e fiz mais musculação, preparei-me para suportar mais força. Faço pesos, aeróbica e procuro pulsações altas num bom exercício que é o crossfit. Continuo a praticar karting, nadar e correr."
M - A que idade começaste a sonhar com a Fórmula 1?
C.S. - "Aparentemente, ando de carro desde os 2 anos de idade. Embora não me lembre está nas fitas que gravei. Os carros eram o que eu mais gostava, mas até os 10 anos não disse que queria dedicar-me a isto. E isto coincide com o encontro com o Fernando (Alonso) aqui em 2005; chegar aqui e ver o meu ídolo na corrida da F1 foi determinante. Então eu disse a mim mesmo: "O que ando aqui a fazer, se me ando a dedicar ao karting é para ser um profissional", e lá comecei a competir. Até aos 10 anos de idade, o karting era o que mais gostava, mas andava muito distraído com outros desportos, futebol, esqui, ténis, paddle, tudo, tudo, até golfe. Mas conhecer o meu ídolo foi crucial para me interessar pela F1."

M - Continuas a morar em Londres, perto da sede da Red Bull, deslocando-te nos Uber e de metro…?
C.S. - “Ter um carro em Londres não é bom, então utilizar o Metro e a Uber é o melhor. E a equipa dá-me uma mão nos dias que eu tenho que ir a Milton Keynes (sede da equipa) para fazer simulador. Além disso, quando estou lá, o meu plano é muito residencial e tenho a academia próxima. Vivo numa zona muito central, em Chelsea, então vou a muitos lugares a pé, mas adoro Londres."
M - Mas tens uma vida privada para além das quatro rodas?
C.S. - "Sim, tenho, mas quase não ocupa mais que 10% do meu tempo. Porque quando chego a casa também não desconecto, tenho reuniões para planear a semana, treino constantemente, etc, etc... A única coisa que me permito às vezes nos fins de semana é sair para jantar com a minha namorada, quando ela vem me ver, porque ela mora em Madrid."

M - Como a tua mãe vive as tuas corridas?
C.S. - "A minha mãe é a minha fã número um, mas é verdade que ela sofre do stress extra de ser mãe. A sorte é que ela já está acostumada, porque já experimentou essa situação com o meu pai."
M - E a tua namorada?
C.S. - "Ela dá-se bem. A boa notícia é que a F1 é tão complexa que quase ninguém a entende, e se você não entende, não a sofre. É tão complicado... Na verdade, gostaria que fosse menos complexa, para que as pessoas vissem a F1 e percebessem a diferença que faz a um piloto ganhar ou perder uma corrida."

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