TESTE MV AGUSTA TURISMO VELOCE 800
Dócil e intuitiva
Uma silhueta turística, ótima capacidade de carga e conforto sublime para duas pessoas, era algo até há bem pouco inexistente na marca de Varese. Mas tudo mudou com a versátil Turismo Veloce 800, pronta a ir mais além com o rejuvenescido design da Brutale.
Por Ricardo Ferreira; fotografia 'Vic Schwantz (fotos de ação)
Bem-vindos a um novo mundo. Algo que há muito caracterizava a MV Agusta era o seu total descomprometimento com padrões estabelecidos de segmentação vigentes no mercado de motociclos. São motos desportivas de tudo ou nada, radicais, poderosas, não integrando muito parte o seu vocabulário palavras como conforto, capacidade de carga e uso diário. É por isto que o aparecimento da Turismo Veloce assinala um novo capitulo na história da lendária marca.
O seu comportamento é diferente de uma Brutale ou desportiva ‘F’, estando o dinâmico motor, visivelmente mais dócil com as alterações introduzidas na sofisticada componente eletrónica. E também, resumidamente, podemos definir a sua parte ciclística com uma perfeita ‘crossover’, pronta para quase tudo na estrada, seja na mais encadeada estrada de montanha ou com o peso ‘extra’ do nosso melhor amigo(a). Segundo Giovanni Castiglioni, trata-se de "um novo conceito para a MV Agusta e marca um ponto alto para a empresa, como o fizeram a F4 750 em 1997 e a primeira Brutale em 2000. É a primeira MV que se pode adquirir como moto principal.” Esclareceu o presidente da MV Agusta, aludindo à possibilidade de estarmos na presença de uma opção para uso diário. “Normalmente, as MV são motos que os proprietários têm como uma segunda opção para ser apreciada nos fins-de-semana."
Na verdade, a Turismo Veloce 800 é a primeira grande sport-turismo da marca e representa o ponto de partida de uma nova gama, complementada para já com a ´junior´ e citadina Stradalle 800. Tem um desenho distinto, com uma semi-carenagem e um écran regulável em altura (de modo manual e fácil) que permite uma posição de condução vertical e foi dado especial relevo ao conforto, aos aspetos práticos e desempenhos.
EXTREMA NA TECNOLOGIA
As caraterísticas da Turismo Veloce indicam também novos dados que acabam por ser importantes para os novos clientes da Meccanica Verghera. O seu motor está menos vitaminado que o empregue na 800 Brutale, embora se trate basicamente da mesma unidade. Também os seus 110 cv de potência máxima estão claramente abaixo dos 140 cv da naked desportiva. Mas são suficientemente enérgicos na condução em conjunto com o peso anunciado de 191 quilogramas. E isto é o que interessa para o caso! Acresce que o motor expele uma dose considerável de binário a médios regimes para um valor máximo de 83 Nm – que significou um aumento de 20 % em comparação com as versões desportivas. Existe no entanto dois pontos a melhorar: o áspero tato do motor a baixos regimes e o acionamento repentino da embraiagem no arranque.
Falando na motorização, devo sublinhar que a unidade de 12 válvulas compartilha ainda as dimensões e a rotação inversa na cambota com as restantes MV tricilindricas, contando no entanto com um eixo de cames de perfil menos agressivo, novos pistões e sistema de admissão revisto, além de um novo escape com as típicas três ponteiras de secção quadrada e som mais abafado. A embraiagem de acionamento hidráulico, apresenta o sistema anti-deslizante para evitar os ressaltos na roda traseira em desaceleração, enquanto a caixa de velocidades com assistência eletrónica permite baixar e subir marchas sem recurso à manete embraigem. Super agradável!
Muito apetecível e, aqui temos um recurso bem herdado da ‘squadra sportiva’ da MV Agusta… o MV EAS!
Os 110 Cv da Turismo Veloce estão claramente abaixo dos 140 Cv da naked desportiva, mas são suficientemente enérgicos na condução com o peso anunciado de 191 quilogramas
VIP NO CONFORTO E EQUIPAMENTO
Aproveitando para uma ‘piscadela de olho’ aos componentes, é possível deliciar-nos com a sua instrumentação com muita informação, os espelhos generoso, os controles simples e práticos. A isto somam-se dois pequenos compartimentos no interior da semi-carenagem, pontos de suporte para o Bluetooth e tomadas de carregamento, duas para USB e outras duas de 12V.
O quadro da Turismo Veloce tem por base um curto treliça, coligado a duas peças de alumínio, onde se fixam o assento e as pegas do passageiro, assim como as fixações para as malas laterais criadas para o modelo. As malas são muito úteis, retiram-se com facilidade e ao fazê-lo, fica-se com a noção perfeita que a Veloce é uma das mais compactas e desportivas crossover da atualidade.
O guiador, de uma única peça e com 900 mm de largura, é bastante amplo e combinado com o pequeno tanque de combustível gera uma posição de condução muito para a frente, declaradamente desportiva. Também como já disse, a Veloce é muito menor do que a maioria das sport-turismo que experimentei nos últimos tempos, com os apoios de pés bastante baixos para garantir o conforto das pernas, o que permite sem problemas acolher bem um condutor de estatura média.
O assento é razoavelmente amplo e com 850 mm de altura. Tem excelentes acabamentos, costuras á vista e impresso o nome MV, o assento contribui de forma significativa para a saliente estética da moto. Nele, sobressai a nobreza do design italiano que, aliás se estende ao conjunto geral! Na estética a Turismo Veloce prescinde um pouco da agressividade das MV desportivas, mas alguém mais conhecedor vai identificá-la facilmente como uma moto de Varese.
Instrumentação cem por cento digital, ABS Bosch 9 Plus desconetável e travagem à frente assistida por pinças Brembo em discos de 300 mm; Motor tricilindrico MV Agusta com proteção metálica e malas laterais simples de retirar
UMA AMIGA NA ESTRADA
Passamos agora ao que a Veloce 800 no pode oferecer na estrada, começando por lhe dizer que é uma turismo desportiva, dócil e intuitiva como poucas outras da sua categoria. Como é habitual noutros modelos da marca, ela permite escolher entre quatro mapas de gestão do motor: três pré-programados (Chuva, Touring e Sport) e personalizáveis, e o controlo de tração. Para a condução normal, usei o Touring. O modo Chuva oferece uma resposta ligeiramente mais macia que melhora o comportamento em cidade, tendo-me convencido a opção Touring - numa estrada sinuosa e de bom pavimento – que pode colocar o motor muito expedito, e que em conjunto com a atordoante leveza da parte ciclística confere a sensação (enganadora) de que a roda dianteira vai sair do solo a qualquer instante. Mas não sai!
A Turismo Veloce é muito fácil de levar em qualquer um dos seus três modos, inclusive no Sport onde o motor nos oferece mais aceleração. Como é habitual, esta ‘eletrónica’ MV possui um sistema de controle de tração (ajustável em 8 níveis) e que muda de acordo com o mapa de potência. Vale a pena usá-lo em estradas molhadas.
Nas performances, esta MV Agusta pode chegar aos 225 km/h com uma carenagem que nos protege bem, apesar de ser um pouco volumosa.
O écran protector tem um tamanho discreto e pode ser ajustado em altura até 60 mm com apenas uma mão. Serve para condutores de estatura normal, mas deixa desprotegidos os mais altos como é o meu caso. Os protetores de punhos de séries serão certamente apetecíveis no inverno.
Em termos de medidas, estamos na presença de uma moto muito ágil, graças à largura generosa do guiador, geometrias desportivas do quadro, curta distância entre eixos e baixo peso. E assim, a Turismo Veloce permite com uma inusual agradabilidade tirar partido do ‘oculto’ carater desportivo que faz parte do seu ADN. E também colher uma boa impressão no asfalto molhado, onde comprovei a boa aderência das borrachas Pirelli Scorpion Trail.
Pareceram-me razoáveis as sensações que descobri no garfo dianteiro invertido da Marzocchi e no mono-amortecedor Sachs. Na travagem, pressionando com vigor as pinças de travão Brembo monobloco (que assistidas com ABS asseguram excelente travagem em situações normais) como se estivesse numa travagem de emergência, senti uma ligeira guinada à entrada de curva, sensação que pode ser melhorada dando um pouco mais de compressão e hidráulico no amortecimento. Por exemplo, a Turismo Veloce Lusso já utiliza de série uma suspensão semi-ativa Skyhook Sachs!
Em termos de alcance esta versátil ‘crossover’ chega com incrível facilidade aos 200 km/h e depois vai mais calmamente até aos 225 digitos. Os punhos aquecidos são outra vantagem nos dias frios, as suspensões são confortáveis o suficiente e o assento do condutor traz-nos um conforto suplementar bem-vindo. Rodar uma manhã inteira com a Veloce 800 e com uma paragem para o pequeno-almoço, não chega a cansar em demasia.
CONCLUSÃO
Apesar de termos privilegiado uma utilização em viagem, obtivemos um consumo médio ligeiramente superior a 6 litros por 100 km, o que indica que o tanque de 22 litros nos pode garantir uma autonomia a rondar os 300 quilómetros.
Em jeito de conclusão o que posso concluir é que a Turismo Veloce resulta num compromisso interessante para uns passeios de fim-de-semana e para rolar diariamente em cidade - características que são pouco habituais nas motos produzidas na MV Agusta. Quanto ao preço, apresentando um custo de aquisição (15.990 € na versão base) que fica acima das concorrentes diretas da Ducati e BMW, deixa-lhe o consolo de ter em casa a primeira MV Agusta de sempre vocacionada para o turismo. Mas, contudo, não dispensa o tradicional ‘pacote sport’ da casa italiana em termos de motor e eletrónica. É ainda assim, um custo acessível e que não é invulgar no seu segmento. Já o mesmo não poderemos dizer do custo da Veloce 800 Lusso (18.540 €), a versão mais rica em equipamento de série, com punhos aquecidos, descanso central, GPS e suspensão eletrónica semi-ativa.
Somos privilegiados com uma condução agradável, muito apetecível e, onde podemos beneficiar de recurso bem herdado da ‘squadra sportiva’ da MV Agusta… o MV EAS!
FICHA TÉCNICA
MV AGUSTA VELOCE 800
MOTOR 3 cilindros 4T LC DOHC, 12 válvulas
CILINDRADA 798 cc
POTÊNCIA 110 Cv (55 kW) /10.000 rpm
ALIMENTAÇÃO Injeção eletrónica MVICS 2.0
TRANSMISSÃO Caixa 6 velocidades, assistida por MV EAS e controlo de tração
TRANSMISSÃO FINAL Por corrente
TRAVAGEM (Frente/Tr.) Disco duplo radial de 300 mm com pinças de 4 pistões (Brembo) / Disco 220 mm com pinças de 2 pistões + ABS Bosch 9 Plus
SUSPENSÃO (Frente/Tr.) Forquilha invertida Marzocchi com bainhas de 43 mm (curso 160 mm) regulável em extensão, compressão e pré-carga / Progressiva com mono-amortecedor Sachs lateral regulável em 3 vias
ALTURA DE ASSENTO 850 mm
PNEUS (Frente/Tr.) 120-70 ZR 17 / 190/55 - ZR 17
CAPACIDADE DEPÓSITO 22 litros
PESO COM LÍQUIDOS 191 kg
PREÇO 15.990 €
CORES Vermelho e Cinza
IMPORTADOR Imex Moto (tel. 244 101 500, Leiria; 210 999 575, Lx)